Íntegra do pronunciamento feito na tribuna da assembléia legislativa ontem, quarta-feira, pelo deputado estadual Arlen Santiago – PTB:
Está finda mais uma grande festa da democracia brasileira. Os 5624 municípios brasileiros, 853 dos quais em Minas, têm novos prefeitos, vices e vereadores escolhidos. A eles caberá, a partir de 1º de janeiro, administrar para quase duzentos milhões de brasileiros.
Em alguns municípios a disputa foi acirrada, agressiva mesmo. Tudo isto é conseqüência do ardor da disputa, da busca do convencimento do eleitor. Cada um de nós, políticos ou não, considera que tem a melhor proposta para fazer a administração que o povo precisa.
Mas a fase da disputa já ficou para trás. O momento agora é de se absorver derrotas e de comemorar vitórias. Cada um aqui ganhou e perdeu. É do jogo político, é do jogo da vida. O importante é se ter humildade nas vitórias e altivez da derrota.
Saber que nem sempre a nossa verdade é a verdade dos outros, especialmente dos eleitores.
Quem venceu as eleições tem, a partir de agora, uma árdua tarefa. É a preparação de uma administração que começa em janeiro sob o signo da incerteza. O que se sabe é que, por causa da crise, teremos, no mínimo, dois anos de dificuldades econômicas que, certamente, atingirão também os municípios.
Diante do quadro que se pinta, perdemos todos nós. Vencedores e vencidos. Daí a necessidade de se jogar o jogo político com ainda mais grandeza. É lógico que não se espera a anulação de grupos políticos, sob o argumento da necessidade de união para superação da crise.
Mas também não se espera que, tirando proveito da crise, façamos oposição aos que nos derrotaram, à custa do prejuízo de nossa gente.
De minha parte quero reafirmar o compromisso com a população de cada um dos municípios onde tenho minha militância política. Onde meu grupo venceu as eleições, onde perdeu. O meu mandato parlamentar está à disposição de todos os mineiros, especialmente dos que moram nas cidades que compõem a minha base política.
Quero saudar aqui todos os companheiros desta Casa que venceram disputas municipais e que, atendendo ao chamamento popular, terão que deixar seus mandatos. Aos companheiros Roberto Carvalho, eleito vice-prefeito de Belo Horizonte: Elisa Costa, eleita prefeita de Governador Valadares e Luis Tadeu Leite, eleito prefeito de Montes Claros, os cumprimentos pela vitória. Ao companheiro Paulo César, vencedor da disputa em Nova Serrana, nossa torcida para que a justiça se faça e a vontade popular seja respeitada.
A Tadeu Leite uma palavra em especial. Nestas eleições estivemos em trincheiras opostas. Adversários, não inimigos políticos. Sua vitória, de sua vice Cristina Pereira e de seu grupo, foi o resultado da livre manifestação da maioria dos eleitores que foram às urnas e não se acovardaram. Escolheram um lado, um programa de governo, e fizeram sua opção. Uma vitória legal, pelo ponto de vista da lei, e legítima do ponto de vista político.
Conheço seu espírito democrático e sei, perfeitamente, de seu comportamento político. Daí a minha certeza de que Montes Claros terá um período de transição dentro dos mais nobres princípios democráticos.
Em janeiro, tenha certeza, você receberá uma prefeitura arrumada, bem ao contrário do que ocorreu com outras administrações. Athos Avelino fez, e continuará a fazer nos próximos dois meses, uma administração correta, austera, o que permitirá a você iniciar sua administração sem solavancos.
Várias obras, feitas em parceria com o governo Aécio Neves, como as de saneamento, realizadas pela Copasa e a avenida Magalhães Pinto estão em fase de conclusão. Vários outros investimentos, foram realizados pelo Governo Estadual, em parceira com a prefeitura.
Mas ainda temos muito o que fazer na cidade. Confio porém que, com sua sensatez, experiência política e capacidade de conciliação, será capaz de manter o diálogo com o governo estadual, e também com o federal, para atrair novos investimentos para a nossa cidade.
Aqui, nesta que é também a sua Casa, conte comigo para juntos defendermos os interesses de nosso povo.
Ainda no campo das eleições quero, desta tribuna que é, acima de tudo, democrática, fazer uma manifestação de desagravo ao Coronel Hely, comandante da Polícia Militar em nossa região, injustamente acusado e agredido pelo nosso companheiro de parlamento, Paulo Guedes.
Para mim, seria tranqüilo, simpático até, ocupar esta tribuna para, sustentando-me no espírito de corpo, defender o companheiro deputado nos fatos ocorridos no dia do primeiro turno das eleições quando, segundo seu próprio relato, foi preso e agredido pela Polícia Militar, num ato que seria, ainda segundo Paulo Guedes, uma agressão direta ao parlamentar e ao Parlamento Mineiro.
Desculpe-me, companheiro, mas desta vez estou em trincheira contrária. Não podemos confundir a imunidade parlamentar, que nos assegura a livre manifestação de pensamento, com a impunidade, que assegura a não punição de quem praticou um ato contra a lei.
Seu ato, de tentar resgatar, insuflando um correligionário preso pela Polícia Militar, por ameaças a terceiras pessoas, foi frontalmente contra a lei. A ninguém, e muito especialmente a nós, que fazemos a lei, é dado o direito de praticar atos contra a lei.
Posso até aceitar que tenha ocorrido excessos por parte dos militares. Admito isto por não conhecer a fundo o episódio. Mas contra excessos, a ação é outra, não sendo justa a de se ocupar um espaço democrático, como esta tribuna, para denegrir a imagem de uma pessoa correta, sem oferecer-lhe igual espaço de defesa.
O coronel Hely é um profissional sério, competente, que, de meu testemunho pessoal, tem se empenhado ao máximo para levar a tranqüilidade e a segurança ao norte de Minas.
É um homem firme, mas respeitador dos direitos de todos os cidadãos. Claro, como todos nós, está sujeito a erros, mas daí a ser acusado sem o direito de defesa, vai uma grande distância.
Enfim, companheiro Paulo Guedes, com o respeito que você, como brilhante parlamentar, merece, coloco-me em defesa do Coronel Hely. E fazendo isto, estou me colocando do lado da justiça e da credibilidade de nossa Assembléia.