Por Luis Cláudio Guedes

A ex-prefeita de Carinhanha Francisca Alves Ribeiro, a Chica do PT (2009/2012), comandou o bloqueio da ponte Guimarães Rosa, na divisa dos municípios de Carinhanha e Malhada, na Bahia, no final da tarde da quinta-feira (9). Cerca de 200 manifestantes participaram do ato a favor do retorno ao da presidente afastada Dilma Rousseff. Chica do PT repetiu a cansativa arenga do “Não vai ter golpe, vai ter democracia!” em faixas e cartazes. A turma queimou pneus nas cabeceiras da ponte. Na prática, atrapalharam o final do dia de quem passava pelo local, com a formação de pequenas filas de veículos nos dois sentidos da BR-030.

Os manifestantes criticaram os cortes do programa Bolsa Família pelo governo interino do presidente Michel Temer (PMDB). Segundo o portal ‘Folha do Vale’, um integrante do bloqueio disse que o objetivo do movimento era reunir o maior número possível de pessoas.

-Temos que reunir gente, filmar e depois encaminhar para o diretório nacional do Partido dos Trabalhadores. Estamos realizando esses pequenos atos em todo Brasil - disse um militante.

A prefeita Chica do PT comandou o circo na ponte Guimarães Rosa, como parte da promessa de parar o País para pressionar o Senado Federal pela volta da (ex) presidente Dilma. Pelo script imaginado pelo PT, a população deveria ter aderido em massa contra o tal golpe. Um mês depois da saída da presidente do Palácio do Planalto não é o que se vê. Chica do PT e seus cruzados estão quase sós nessa empreitada, a despeito das idas e vindas do governo Temer e dos estragos que a Operação Lava Jato provoca sobre a cúpula do PMDB.

A volta de Dilma ao comando do País não interessa nem mesmo ao PT, como tem demonstrado Lula - que desconversa quando perguntado sobre o assunto. O que Dilma ofereceria aos brasileiros em eventual terceiro mandato? O mais do mesmo que quebrou o País e legou inflação descontrolada, juros nas alturas e quase 12 milhões de desempregados? A promessa de chamamento para uma eleição, que sequer está previsto na Constituição? Por que o País deveria confiar em Dilma após o chamado estelionato eleitoral de 2014?, quando prometeu uma coisa e tentou entregar outra bem diferente com o fracassado ajuste fiscal?

TREZENTOS PICARETAS
Com essas manifestações, Lula tenta ganhar o terreno perdido após a derrocada ética e moral do petismo. Cometeu o gesto imprudente de atacar o Congresso Nacional e os deputados que afastaram Dilma, como se anda fosse o líder de oposição que um dia se referiu aos 300 picaretas com anel de doutor que habitam o parlamento brasileiro. Os mesmos picaretas com os quais Lula se deu tão bem e com os quais se reunia a portas fechadas, outro dia mesmo, na tentativa de evitar o afastamento de Dilma. Lula vai se tornando cansativo.

As manifestações, comandadas pelos satélites do petismo com o nome ‘Dia Nacional de Luta contra o Golpe’, foi organizada pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo e busca denunciar o ‘golpe’, pedir a saída do presidente interino, Michel Temer, e defender os direitos dos trabalhadores. Carinhanha foi uma pequena mostra das manifestações registradas em atos em cidades de mais de 20 Estados no dia seguinte, a sexta-feira (10), para uma mobilização nacional contra o governo interino de Michel Temer - o mais expressivo deles em São Paulo, que contou com a presença de Lula e reuniu cerca de 100 mil pessoas, segundo os organizadores.

É nesse contexto que se insere o bloqueio da ponte Guimarães Rosa, por sinal uma bela obra do período Lula na Presidência. Chica do PT tem todo o direito de sonhar com os velhos dias em que o lulopetismo ainda encantava o País, mas manifestações com a que comandou na semana passada estão longe do sentimento da média do eleitor brasileiro, cansado com a política e os políticos – que perderam completamente a capacidade de criar soluções para a crise e gerar algum tipo de utopia e esperança.

No fundo, no fundo, Chica sabe que Dilma não pode e nem vai voltar. Voltar para quê? Ainda vai durar um longo tempo até que o País supere o estrato do legado herdado dos 13 anos do PT no poder. Um deles, a responsabilidade por ter aberto o caminho para que os profissionais do velho PMDB chegassem ao mando do País - cenário que nem os próceres do partido levavam em conta - mas que os erros de Lula e Dilma possibilitaram.