- PRECISAMOS ACABAR COM A POLÍTICA DE GRUPINHOS
Eduardo Brasil
Repórter
Em 1984, ao lado do hoje deputado estadual Ruy Muniz - DEM, Cori Ribeiro – PPS fundava em Montes Claros o PT – Partido dos Trabalhadores. Desde então, sempre de forma discreta, vem participando da política em Montes Claros, dividindo sua agenda com o trabalho na Receita Estadual, onde atua há 25 anos.
Ao deixar o ninho petista, na década de 1980, filiou-se ao PSB, exercendo, inclusive, a sua presidência provisória no município e, finalmente, ingressou no PPS, legenda pela qual, em 2005, estreou como vereador, tornando-se dois anos depois presidente da mesa diretora da câmara municipal de Montes Claros. Função nobre que, infelizmente, ele não quer mais.
Em entrevista exclusiva a O Norte, concedida na manhã de ontem em seu gabinete, na câmara municipal, onde mantém plantão durante o recesso parlamentar, Cori Ribeiro falou da sua decisão de não concorrer a um segundo mandato. Destacou a importância da política como o mais importante instrumento para resolver os problemas sociais e lamentou que muitas vezes ela seja deturpada por procedimentos egoístas, não raramente carregados de pura demagogia.
- Acredito que a política seja a coisa mais bela do mundo, desde que usada corretamente, pelo bem coletivo. Abomino a política de grupinhos, que em nada ajuda o povo. Temos de acabar com a política de grupinhos – diz ele, que falou ainda do seu futuro político.
- Não estou abandonando a política. Política é o que farei até morrer – acrescenta.
Cori Ribeiro diz que muitas vezes a política é usada de forma egoísta e que isso deve mudar
(XU MEDEIROS)
Leia agora os principais trechos da entrevista.
Na câmara municipal, apenas o senhor e Sebastião Pimenta (PDT, que concorrerá nas eleições majoritárias como vice-prefeito na chapa de Ruy Muniz) não disputarão um segundo mandato. Por que o vereador Cori Ribeiro não é candidato a um segundo mandato?
No meu caso, havia um amadurecimento da idéia de que eu não concorreria. Eu diria que parte da minha decisão se deve ao meu esforço pelo soerguimento do legislativo. Esforcei-me ao máximo para resgatar a credibilidade do legislativo, que considero o mais importante poder que temos, extremamente desgastado, e isso também acabou nos desgastando um pouco. Na verdade, não é só um ponto que nos motiva a não continuar como vereador, são vários fatores que me levaram a essa decisão e que posteriormente pode ser que eu venha a relatar de forma mais clara. Por enquanto, penso que cumpro, dentro da ética do meu partido, o PPS, o mandato para o qual garanti exercer com toda a dedicação possível.
O senhor sempre defendeu a política como autêntico instrumento para a construção de uma sociedade justa, que possa agregar valores. Não haveria um discurso dúbio com a decisão de não mais permanecer na política, como se vivesse uma desilusão?
Não tenho paixão pela política, que é um sentimento que passa. Tenho amor. Não digo que não quero permanecer na política. Afastar não significa que estamos abandonando a política. Por toda a minha vida continuarei a discutir política e procurando servir ao povo através da política. Todas as decisões, elas passam necessariamente pela política. Precisamos, no entanto, qualificar essa política e os políticos, para que de fato cumpramos o papel de agregar valores e diminuir as desigualdades sociais, de melhorar a vida das pessoas. A definição da política é a coisa mais bonita do mundo: fazer o bem. É preciso que seja praticada de forma correta, em todos os níveis de governo, seja federal, estadual ou municipal. Em todas as esferas. Em relação ao legislativo, conclamo, é necessário que tenhamos uma postura à altura de sua importância na vida de todos os cidadãos, e que ele receba dos outros poderes o devido reconhecimento.
Então, há esperança com a política, ainda?
Esperança, sem dúvida. A política é a grande esperança. Agora, não podemos levar adiante essa política de grupinhos. Temos de construir uma política em que a sociedade efetivamente participe dela.
Na câmara municipal, muitas vezes, essa política torna-se ausente diante de debates menos interessantes para o coletivo. É difícil presidir um plenário em que na maioria das vezes se prima pelo antagônico?
É desafiante e faz parte da democracia. Sem esse antagonismo, não teríamos a democracia na sua plenitude. Temos uma câmara heterogênea e isso é o que exatamente nos permite uma discussão maior. É claro, nós temos que melhorar muito a qualidade dessas discussões, respeitando mais o público e trazendo para o debate assuntos que são intimamente ligados aos problemas da população.
O período eleitoral que acaba limitando a ação parlamentar, não acabará contribuindo também para que a câmara municipal retorne do recesso submetida a uma pauta ainda menos interessante ao povo?
Existem muitas limitações que poderão contribuir para que a pauta não seja a preferida por nós. Mas, a verdade é que a maior parte desses projetos importantes já foi apresentada pelos vereadores, que se anteciparam ao período eleitoral para fazê-lo dentro das normas vigentes. Da mesma forma, o executivo também se antecipou ao calendário eleitoral. Mas, todos os projetos a serem apreciados e votados ganharão sua tramitação, desde que legais e constitucionais. Não mudarei minha postura na presidência da casa, por conta do período eleitoral, e não permitirei que o partidarismo influa nas decisões da mesa. Não abro mão de presidi-la com a mais absoluta imparcialidade.
Um dos projetos importantes que tomarão a atenção do plenário será o do orçamento municipal para 2009, cujas diretrizes foram enviadas à câmara pelo executivo. A matéria terá uma tramitação tranqüila?
Seria leviano adiantar alguma coisa. Primeiro, porque as diretrizes são globais e a partir delas é que você irá esmiuçá-las, selecioná-las. É uma matéria que tramitará após as eleições e não acredito que provocará muita polêmica, desde que o processo não fuja ao que a lei permite.
Cobra-se a divulgação do relatório final da CLI da Transmontes, que teria sido passado à mesa diretora. Esse documento, porém, estaria incompleto, apenas com a assinatura do seu relator, Valcir Soares (Guila Ramos e Marcos Nen se negaram a assiná-lo). Cabe à mesa diretora resolver esse impasse, até mesmo divulgando ela mesma o relatório?
Bom, primeiro esse documento não está na mesa diretora. Está com o presidente da CLI, vereador Marcos Nen, que vem pedindo seguidos adiamentos para que a comissão possa concluí-lo, já que existem divergências sobre seu conteúdo. Como o documento chegou à mesa de fato com apenas uma assinatura, quando são necessárias três, tratamos de devolvê-lo à presidência da CLI por conta de sua ineficácia. Depois, não cabe à mesa divulgá-lo, influenciar no trabalho da CLI, que tem a prerrogativa de solicitar a prorrogação do seu período de atuação. Conversei com os três vereadores da comissão sobre o assunto e tenho informações de que eles estão se reunindo para concluir o documento. Acredito que logo na primeira sessão, após o recesso parlamentar, poderemos enviar o documento para apreciação em plenário, desde que o recebamos de acordo com a lei.
Na câmara municipal existem dois projetos de lei que tratam do meio-passe para estudantes. Um deles, de iniciativa popular, inédito na nossa história, e outro, do executivo. No caso de ambos receberem parecer de legais e constitucionais, qual deles ganharia tramitação através da mesa diretora?
A mesa diretora não defende a prerrogativa de decidir tramitações de matérias por conta de sua preferência. Nós temos um regimento a seguir e o seguiremos. Ambos os projetos estão nas comissões esperando por pareceres e assim que tivermos a decisão das comissões procederemos de acordo com o regimento. É claro, se o regulamento for omisso, ou se a Lei Orgânica do Município for omissa, neste caso a presidência da mesa tem de tomar uma decisão.
O projeto de iniciativa popular do meio-passe, uma vez legal, não teria prioridade na tramitação, por ter dado entrada primeiro na mesa diretora?
Normalmente, sim, mas não posso afirmar isso de forma taxativa, porque são iniciativas de dois poderes distintos, que vamos analisar. Nossas assessorias jurídicas e parlamentares estudam o assunto e de acordo com as orientações técnicas que elas nos passarem, agiremos.
O senhor participará da campanha eleitoral? Subirá em palanques?
Não abro mão de ser partidário. Se eu puder contribuir, não hesitarei em dispensar toda a minha força. Quero continuar ajudando na consolidação de uma política justa. Voltada para a solução dos problemas sociais. Não me afastarei desses princípios, de buscar a realização de políticas públicas.
Apesar de se despedir da vida pública, o seu nome já começa a ser lembrado para os pleitos de 2010. Cori Ribeiro seria um pré-candidato a deputado estadual? Aceitaria a missão?
A política é muito dinâmica. A minha decisão, agora, de me ausentar desse processo municipal eletivo não significa que no futuro eu não venha a disputar um novo pleito. Pode ser que na frente eu me veja em outra situação. Não me negaria a atender a um pedido nesse sentido, até porque o faria com toda a certeza de que seria uma resposta ao trabalho que desenvolvo como vereador. Pela minha seriedade e pelo meu esforço na valorização do legislativo como principal instrumento de reivindicação do povo. Eu não negaria a tomar posições de apoio a esse povo.
Para encerrar, sintetize o que mais aplaudiu nesses três anos e sete meses na vida pública.
A democracia.
E o que não aplaudiria?
A pouca participação política de determinados segmentos da sociedade.