Entrevista a Reginauro Silva e Samuel Nunes
Começou logo nos primeiros dias de governo. Nem bem assentara a poeira da mudança de comando na administração municipal e a notícia correu como uma praga: Luiz Tadeu Leite, empossado prefeito de Montes Claros pela terceira vez, estaria com os dias contados... Em outras palavras, padeceria de doença grave, para alguns, terminal. Em pouco tempo, como ele próprio conta, o imaginário popular diagnosticou inúmeros sintomas para a sucumbência doentia do outrora menino nascido no oco do pau...
- Eu nem lembro o nome do médico. Eu estive com o médico, a última vez, em novembro do ano passado.
Um jornal da cidade, de notícias... chegou a marcar para o dia 18 de fevereiro (véspera de seu aniversário de 56 anos) a data da cirurgia a que seria submetido o único político do Norte de Minas a, historicamente, galgar o maior número de cargos públicos eletivos, faltando apenas os de governador e de presidente da República.
Tantos boatos atiçaram tanto a malícia coletiva que levaram leitores de páginas na internet a elaborar mensagens como esta enviada ao blog A Província, a partir de uma nota publicada pelo repórter social João Jorge:
"Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "JJ GARANTE: TADEU LEITE ESTÁ COM SAÚDE DE FERRO":
O porta voz Ildeu Maia tem razão. Tadeu não faz tratamento de saúde em BH, mas quem quiser vê-lo se tratando do CA (câncer avançado), é só ir ao setor de quimioterapia do hospital São Lucas, aqui mesmo, na terrinha do pequi.
Postado por Anônimo no blog A PROVÍNCIA em Terça-feira, Fevereiro 10, 2009."
Para esclarecer este e outros comentários, O NORTE DE MINAS propôs uma entrevista exclusiva ao prefeito Tadeu Leite, que a concedeu no final da tarde de terça-feira, 10, em seu gabinete. A transcrição dessa entrevista foi feita na íntegra, como se lê:
- Tadeu, corre na cidade inteira o boato de que você está doente? Você tem conhecimento desse boato?
- Do boato, eu já fiquei sabendo... pelas tantas pessoas que me telefonam, me perguntam. Começaram falando que eu tinha um câncer, depois um câncer de próstata, depois um negócio cardíaco...
- Diverticulite...
- Depois falaram que meu filho tinha sofrido um acidente, não sei o quê, não sei o quê e tal. A verdade mesmo é a seguinte: eu não tenho nenhum desses problemas que foram falados, nenhum desses problemas aí. Por último, agora, parece que eles começaram a acertar um pouquinho em relação à realidade, que não tem nada de grave nem pra esconder. Eu tenho, há mais de dez anos, um problema de divertículo: chama-se diverticulose.
- Não é diverticulite, então?
- Quando inflama, vira diverticulite, mas é diverticulose, que é uma doença que vem do intestino. E que de vez em quando me ataca, dói um pouco, e já tem uns dez anos que eu convivo com isso. Tem indicação de fazer uma cirurgia, mas não tem urgência, não está marcada, um dia vou ter que fazer. Claro que eu estou fugindo de fazer também, porque eu não gosto muito desses riscos assim... Então, tem uma diverticulose, que é uma inflamação dos divertículos... e, quando piora, vira diverticulite. Mas nós esperamos que não aconteça uma coisa pior, de rompimento, uma coisa assim, porque aí teria que operar de urgência. Mas, por enquanto, não tem previsão, não tem gravidade... e tem dez anos que eu tenho isso.
- Por que tanto alvoroço, então?
- Eu acho que é falta de assunto aqui em Montes Claros, o que faz com que falem em doença grave, doença terminal.... Não sei com que intenção, a não ser que queiram que a Cristina Pereira assuma...
- Quando inflama, vira diverticulite, mas é diverticulose, que é uma doença que vem do intestino.
- Qual é a origem de sua diverticulose? Tem fundo psicológico...
- Eu não sei, eu não sou médico, mas o que os médicos falam é que é uma doença muito recente, muito comum nesses dias de hoje, que e essa instabilidade intestinal que provoca isso: diarréias, prisão de ventre, essas inconstâncias que fazem com que force o tecido... mas eu não sou médico...
- Tem a ver com a doença de Tancredo Neves, então?
- Não, Tancredo teve rompimento e foi operado às pressas. Se rompe, aí pode dar até uma peritonite.
- Que tipo de dissabor essa doença provoca no dia a dia?
- Nenhum. Quando inflama, eu tenho umas dores, umas cólicas, mas eu tomo uma medicação que cessa as dores.
- Você conhece outras pessoas com esse mesmo tipo de problema com as quais você tem trocado idéias?
- Parece que é muito comum. É uma doença moderna, tem dado muito ultimamente, e várias pessoas têm e convivem com ela. Outros tiveram que operar. O médico que me consultou...
- Quem é ele?
- Não sei o nome dele mais não, tem tempo que não estive com ele... Eu estive uma vez só com ele...
- É de Belo Horizonte?
- De Belo Horizonte... Ele indica que, teoricamente, nesses casos que vêm de muito tempo, e quando tem crise, é caso de cirurgia. E eu vou ver o melhor momento de fazer isso. Mas não tem urgência.
- Isso não atrapalha o dia-a-dia da administração?
- Não atrapalha nada. Só num dia, de vez em quando... eu não sei bem a regra certinha... a cada dois ou três meses, mais ou menos, me dá uma cólica, uma dor forte, que eu tenho que tomar o medicamento, mas no dia seguinte já não dói mais.
- Não é de fundo nervoso, então?
- Não, não é não.
- O pessoal fala que suas constantes idas a Belo Horizonte são para curar esse problema...
- Eu nem lembro o nome do médico. Eu estive com o médico, a última vez, em novembro do ano passado. Foi minha última crise. E tive uma outra agora, quinta-feira atrasada (29.01), sem ser a última (05.02.), que me incomodou um pouco. Mas eu vou a Belo Horizonte porque minha família está morando lá, meus meninos estudam lá, minha mulher é médica lá, tem clínica lá, então, nos fins de semana... eu vou lá fazer alguma coisa sexta-feira, segunda-feira. Agora mesmo estive na Sedese (Secretaria de estado de desenvolvimento social), para resolver um problema da Poupança jovem, na semana passada. Então, ela (Stela, a esposa) tem vindo um fim de semana e eu vou no outro.
- Você é uma pessoa que não é de esconder sentimentos. Você manifesta sempre o que está sentindo. Não seria o fato de você sempre reclamar que está com dores, com as pessoas ao seu redor, que teria levado a esses boatos?
- Não é constante. Eu fico, como disse, dois meses sem nenhum sintoma. No momento dá umas dores intestinais, assim, dores de cólica, me incomoda um pouco, eu devo ter comentado com alguém: - Está doendo e tem indicativo para futura cirurgia. Eu vou ter que fazer essa cirurgia...
- Dia 18...
- Não!
- Mas o Jornal de Notícias publicou que vai ser dia 18!
- O que que eu posso fazer? Será que eu vou ter que marcar a cirurgia só para agradar ao jornal? Não está marcada, após o carnaval eu vou ver o momento adequado etc. Eu pensei, antes de assumir, aproveitar e fazer logo essa cirurgia. Mas eu fiquei receoso de ocorrer alguma complicação e atrapalhar a posse. Agora, eu vou esperar uns três, quatro meses e fazer. Mas eu vou avisar antecipadamente, pra não ter fofoca...
- O pessoal tem comentado também que você não faria essa cirurgia agora por ter pegado a prefeitura em estado complicado em termos financeiros e seria complicado colocar na mão da vice-prefeita. Isto é verdade?
- Se a cirurgia fosse de urgência, eu não pensaria duas vezes. Só se eu fosse doido. Eu não seria insano de me recusar a fazer, até porque minha mulher, que é médica, me mandaria fazer na marra, e eu teria que fazer. Mas tem um fundo de razão porque, realmente, o início de uma administração é muito pesado, e a situação que eu encontrei é muito pior do que imaginava e a Cristina tem me ajudado muito a consertar essa situação toda. E é claro que esse não é o momento bom pra fazer uma cirurgia e ficar aí uns dez dias... porque é no máximo dez dias...
- Até que ponto você acredita no sistema de saúde de Montes Claros para fazer essa cirurgia aqui?
- Eu acredito plenamente, porque não é uma cirurgia complicada, não. Mas meu médico é de Belo Horizonte. Eu não resolvi ainda não, mas como é uma coisa que eu acompanho há muito tempo, e é um médico de minha confiança... a parte clínica eu estava acompanhando com uma doutora, uma médica, mas ela não opera. Quando eu pensei a pensar na hipótese de operar, eu comecei a conversar com esse outro médico. Então, eu estou com uma estrutura de atendimento médico em Belo Horizonte, poderá ser mesmo em Belo Horizonte, que é onde eu tenho confiança. Não que aqui não tenha médicos competentes, não que seja tão complicado assim, mas é que eu já vinha me tratando em Belo Horizonte.
- Tratando há quanto tempo?
- Tem dez anos que eu tenho essa diverticulose.
- Então suas idas a Belo Horizonte pode ter...
- Tem nada a ver. Eu vou a Belo Horizonte por causa da minha família e do meu trabalho, agora como prefeito. Quer ver? Eu fiquei do dia 18 de dezembro (véspera da diplomação) até 20 de janeiro sem ir a Belo Horizonte. Fiquei aqui direto, porque meu pessoal estava aqui, minha mulher estava aqui, meus filhos estavam aqui e eu tinha que assumir aqui, tudo o mais, não estava podendo ir a Belo Horizonte, fiquei aqui. Não havia razão médica para ir a Belo Horizonte.
- Em caso de se realizar essa cirurgia, quanto tempo você ficará ausente da prefeitura?
- Quando eu fizer essa cirurgia, me parece que são oito dias de repouso.
- A diverticulose impede você de fazer algumas coisas? Por exemplo: roer pequi... pode?
- Pode! Não tem nada que impeça, não.
- Beber, pode?
- Eu tenho bebido e comido normalmente. Não tem nada que impeça, não tem nenhuma dieta especial, não. E nem medicamento. Aliás, eu só uso remédio quando dói, para diminuir a dor.
- Que tipo de remédio? Diazepan, anador, dorflex, novalgina...
- Você quer até a marca do remédio? Eu tomo esse... esse... Feldene (N.R.: Anti-inflamatório do laboratório Pfizer, R$ 23,60 a caixa com 15 comprimidos) e, na fase em que está inflamado, eu tomo um remédio chamado... chamado...
- Pelo jeito, tem muito tempo que você não toma...
- Tem muito tempo não, mas é que eu me esqueço... é o Cipro (Antibiótico à base de cloridrato Ciprofloxacino, do laboratório Bayer, R$ 101,74 a caixa com 7 comprimidos).
- E dá efeito na hora?
- Corta de um dia pro outro. Numa quinta-feira que eu tive... na sexta não tinha mais nada. Então, não me atrapalha nada, não me prejudica em nada, não limita nenhuma ação minha, nenhum trabalho meu nem nada. É uma coisa que o médico indica que tem que fazer pelo tempo que tem, e não é uma coisa que sara, que cura com medicamentos. Eu vou ter que fazer a cirurgia, mas não marquei data, o carnaval eu devo passar fora...
- Pode ser depois do carnaval ou até dezembro...
- É, depois do carnaval eu vou marcar uma data com calma. O que eu não tendendo é por que tanta fofoca, tantos boatos diante de um fato comum, normal, corriqueiro... Não é nada mais do que uma diverticulose.
- Você faz checape todo ano?
- Faço!
- Quando foi a última vez?
- Tem uns seis meses.
- Estava tudo bem? Colesterol, glicose, triglicéride... tudo tranquilo?
- Tudo. Eu só tenho gota, um pouquinho elevada, mas tomo remédio (Artritec ou Meloxicam, do laboratório Pharlab, R$ 11,65 a caixa com 10 comprimidos), está tudo em ordem.
- E a pressão?
- Eu tomo remédio pra controlar a pressão. Eu tenho a pressão um pouco elevada, mas eu controlo (Cloridrato de Propanolol, do Pharlab, R$ 5,40 a caixa com 30 comprimidos).
- Alguns jornais e sites na internet publicaram até um conceito dessa sua doença, o que é, o que pode ser, que pode até levar à morte... Qual é sua avaliação diante disso?
- Eu não sei com qual intenção, não é? Se é com a intenção de que eu morra mais cedo ou que eu me cuide pra viver muito mais... Eu acho desmesurado esse interesse e essa preocupação... Eu agradeço aqueles que se preocupam comigo porque, no momento em que algumas pessoas noticiam isso com prazer, há milhares de pessoas que ficam pesarosamente orando, rezando, preocupadas, me telefonando e tudo mais. Causa um alvoroço na cidade, mas isso só prova o quanto eu sou querido, graças a Deus, em Montes Claros, e eu vou seguindo o meu trabalho, a minha vida. Tenho muito chão pela frente ainda.
- Como diria Zagalo, vão ter que te engolir um bocado de tempo ainda...
- Ou então, como diz um amigo meu: - Vaso ruim (com til no u) não quebra... tem muito pela frente, ainda.