Neumar Rodrigues
Repórter
A Assembleia legislativa de Minas Gerais comemorou segunda-feira, 30, o ano jubilar que marca os 60 anos da ordenação de Dom Serafim Fernandes de Araújo como sacerdote, e também homenageou o Instituto dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora pelos 80 anos de sua fundação. A reunião especial foi requerida pelos Deputados Délio Malheiros, Sávio Souza Cruz e Ruy Muniz, que presidiu o evento e representou o presidente da ALMG, Alberto Pinto Coelho. A mesa foi composta por sacerdotes e políticos e o Plenário Juscelino Kubitschek ficou lotado.
(DIVULGAÇÃO)
Dom Serafim recebe a placa em sua homenagem pelos deputados Délio Malheiros, Ruy Muniz e Sávio Souza Cruz.
O primeiro a discursar foi o deputado Délio Malheiros, que comparou o Cardeal Dom Serafim à música de Vinícius de Moraes, “Gente Humilde”. Parte da letra diz que “tem certos dias em que eu penso em minha gente, e sinto assim todo o meu peito se apertar porque parece que acontece de repente como um desejo de eu viver sem me notar”. Depois foi a vez do deputado Sávio Souza Cruz, que enumerou todas as qualidades do grande mineiro. Ruy Muniz e os demais presentes entregaram placas alusivas ao homenageado e foi passado um vídeo contando e mostrando toda a trajetória de Dom Serafim.
A placa destinada ao Cardel Emérito D. Serafim Fernandes de Araújo contém os seguintes dizeres: “Uma vida dedicada à obra social, à educação e aos princípios da Igreja Católica. É assim que o Cardeal Emérito Dom Serafim Fernandes de Araújo, incansável promotor da justiça e da paz, constitui-se numa inspiração para todos os que buscam promover o bem comum. Com uma sensibilidade ímpar, esse homem, que tantas vezes esteve à frente de seu tempo, mostra-nos, a cada dia, que é possível fazer a diferença quando o amor, a generosidade e a doação fazem parte de nossas atitudes. A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais reconhece o valor de Dom Serafim Fernandes de Araújo para a sociedade mineira e presta-lhe homenagem na comemoração de seu ano jubilar. Belo Horizonte, 30 de novembro de 2009. Deputado Alberto Pinto Coelho. Presidente”.
Dom Serafim nasceu em 13 de agosto de 1924 em Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha. Viveu sua infância em Itamarandiba e, aos 12 anos de idade, foi estudar no Seminário de Diamantina onde se formou em Humanidades em 1942 e em Filosofia em 1944. Foi escolhido para ir estudar em Roma, onde fez mestrado em Teologia e Direito Canônico na Pontifícia Universidade Gregoniana. Sua ordenação se deu em 12 de março de 1949, na Catedral de São João Latrão em Roma.
O sacerdote retornou ao Brasil e celebrou sua primeira missa em 17 de setembro de 1951, em Itamarandiba. Depois foi ser pároco do município de Gouveia, onde ficou até 1957. Nesse mesmo período atuou como capelão da Companhia Industrial de São Roberto. De 1956 a 1957 assumiu o posto de capelão militar do 3º Batalhão Militar da Polícia Militar de Minas Gerais, onde também foi diretor de Ensino Religioso da Arquidiocese de Diamantina e professor de Direito Canônico no Seminário Provincial.
Já em Curvelo, onde foi pároco em 1957 e cônego de 1958 a 1959, também atuou como professor em várias escolas. Sagrado bispo em 07 de maio de 1959, com apenas 34 anos, (foi o mais novo bispo do Brasil), transferiu-se para a capital para ser auxiliar de Dom João Resende Costa. Assumiu também os cargos de vigário geral, administrador e diretor de Ensino Religioso da Arquidiocese, além de tornar-se professor de Cultura Religiosa da PUC Minas. A partir de 1960, Dom Serafim toma posse como reitor da PUC Minas, que nessa época contava apenas com 650 alunos.
Dom Serafim é um dos poucos bispos que participou do Concílio Vaticano II, que ainda continua na ativa. Em 1986, Dom Serafim tomou posse como arcebispo metropolitano, sucedendo Dom João Resende Costa. A Arquidiocese de Belo Horizonte tem se destacado no cenário da Igreja no Brasil, principalmente pelo Projeto Pastoral Construir a Esperança, idealizado por Dom Serafim e que teve início em 1990. Além disso, Belo Horizonte teve reconhecimento internacional com a realização do 5º Congresso Missionário Latino-americano, em 1995, que veio dar maior impulso às atividades missionárias na Arquidiocese. Nomeado cardeal em 18 de janeiro de 1998, recebeu sua investidura cardinalícia nos dias 21 e 22 de fevereiro do mesmo ano, das mãos do Papa João Paulo II, que o chamava carinhosamente de “Belo Horizonte”.
Torcedor fanático pelo Atlético Mineiro, Dom Serafim disse que vibrava com os craques que o alvinegro tinha em 1939. E que também chegou a jogar bola quando estudante, geralmente atuava na zaga, e participou até de um torneio em Roma. Garantiu que não fez feio. Para Dom Serafim, o futebol é do povo e por esse razão a igreja não poderá nunca ficar afastada do futebol, pois assim estará sempre perto do povo.
Dom Serafim ao discursar disse que não tinha escrito nada porque queria que seu coração falasse: “Sito-me muito feliz. Aliás, tenho repetido que me considero uma das pessoas mais felizes do mundo. De bem com Deus, de bem comigo mesmo e irmão de tanta gente, principalmente dos pequenos e dos mais pobres.”.
Dom Serafim disse que esteve durante todo esse tempo, com diversos Papas: Pio XII, João XXIII, que o nomeou, Paulo VI e aquele que mais marcou sua vida, João Paulo II: “Vocês se lembram que, quando ele esteve aqui no Brasil, falando de Belo Horizonte na Praça do Papa, ele disse: “Não esquecerei vocês nunca mais”. Podíamos pensar que era palavra. Sabem por que ele não esqueceu? Ele nunca me chamou pelo nome. Desde o dia que aconteceu isso, na primeira vez em que o encontrei, até o dia em que me despedia, na véspera de sua morte, ele dizia quando me via: “Belo Horizonte”. Aquilo que ele falou, como um santo, ele prometeu. Por isso agradeço esta homenagem. Mas, de certa maneira, ela não é para mim. É porque encarno uma Igreja muito bonita, encarno um Estado. Se tivesse que nascer novamente, faria tudo para nascer em Minas Gerais. Muito obrigado”.
Já em seu discurso Ruy Muniz disse que é para a Assembléia motivo de profunda alegria reunir, na mesma comemoração, as celebrações do ano jubilar de nosso Cardeal Emérito, Dom Serafim Fernandes de Araújo, e dos oitenta anos de fundação da Congregação dos Padres Sagramentinos, além de promover o lançamento do livro do jornalista Itamar de Oliveira, “O sonho é possível”: Segundo Muniz, são três acontecimentos que constituem importante registro da história da igreja em Minas Gerais, de interesse não só no aspecto espiritual como no plano de aperfeiçoamento da cidadania de nosso povo, com muitas implicações sociais e educacionais. Para o deputado, Dom Serafim é uma das figuras mais queridas da comunidade belo-horizontina, não só por ser o primeiro Cardeal do estado, como por seu papel anterior de arcebispo da capital e reitor da pontifícia Universidade Católica.
O deputado Ruy Muniz fez questão de informar a todos os presentes que Dom Serafim é figura humana extremamente acessível e reconhecido pela enorme simpatia. É um torcedor do Clube Atlético Mineiro, mostrando como um homem de fé e intelectual de seu gabarito, além de ser um modele de atuação na sociedade, identifica-se ao mais comuns dos indivíduos, numa prova do quanto se integrou à vida cotidiana de todos nós: Esta noite é, portanto, altamente significativa para o nosso estado e para este parlamento. “Estamos celebrando a memória de uma instituição e de uma congregação e também rememorando a vida sacerdotal do primeiro cardeal de Minas Gerais”, disse Ruy.
Ruy Muniz terminou seu discurso falando diretamente para o homenageado: “Portanto, querido Dom Serafim, é vencer, vencer, vencer. Este é o nosso ideal. Vencer a pobreza. Vencer a desigualdade. Vencer a injustiça. Este é o nosso ideal ilustrado de forma exemplar pela maneira vigorosa e obstinada com que o senhor atuou nestes 60 anos de sacerdócio. Obrigado e parabéns Dom Serafim. Que Deus o abençoe”.