Por Luis Cláudio Guedes
![]() Pimentel repete com a primeira-dama de Minas estratégia semelhante àquela que a amiga Dilma Rousseff tomou em relação ao ex-presidente Lula, que foi nomeado para a Casa Civil, mas que segue suspensa |
O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, surpreendeu o País na quinta-feira (28) com a nomeação da mulher, a jornalista Carolina Oliveira Pimentel, para a secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado. Nada de novo no front. Afinal, nepotismo é prática cotidiana no Brasil.
O problema é que a primeira-dama de Minas está na mira da Polícia Federal, no âmbito da Operação Acrônimo, em que se investiga suposto esquema de lavagem de dinheiro em campanhas eleitorais. A Polícia Federal apurou que a empresa Oli Comunicação e Imagem, que tinha Carol como principal sócia, teria sido usada para repassar recursos à campanha vitoriosa de Fernando Pimentel ao governo de Minas, em 2014. Na época, os dois já estavam casados. Eles se conheceram aqui em Brasília, após a jornalista assumir o cargo de coordenadora da comunicação no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O agora governador comandou a pasta entre 2011 e 2014.
Pimentel repete com a primeira-dama de Minas estratégia semelhante àquela que a amiga Dilma Rousseff tomou em relação ao ex-presidente Lula, cuja nomeação para a Casa Civil segue suspensa pela suspeita mais ou menos óbvia de que teria sido estratégia para brindá-lo dos tentáculos do juiz Sérgio Moro nas investigações da Operação Lava Jato. Pimentel é um homem acuado desde que seu amigão e novo rico Benedito Oliveira Neto, o Bené, outro investigado pela Operação Acrônimo foi preso pelos federais, há duas semanas.
Temeroso do que pode vir por aí, o governador achou por bem criar um cordão de segurança em torno da mulher. O que se comenta nos bastidores em Minas é que Pimentel teme eventual prisão da esposa, que acaba de voltar da licença maternidade da primeira filha, Maria Fernanda, que veio à luz no início de dezembro passado.
Outra motivação para a nomeação é o fato da investigação contra Carolina Pimentel correr em segredo de Justiça no Superior Tribunal de Justiça, aqui em Brasília. Na hipótese de desmembramento do inquérito, e caso primeira-dama de Minas continuasse sem esse objeto do desejo nacional, o tal foro privilegiado, ela passaria a responder ao processo em primeira instância, no Distrito Federal. O que fez Pimentel? Nomeia a mulher como secretária de Estado, decisão que automaticamente transfere o julgamento do seu caso para a segunda instância no Tribunal de Justiça, em Minas. Ao levar o caso da mulher para Corte mais próxima, Pimentel abre espaço para o que a oposição em Minas já especula escancaradamente, evita que o caso da mulher fuja ao seu controle.
De que a coisa foi feita às pressas sobram evidências das versões conflitantes do agora ex-secretário do Trabalho André Quintão (PT), que disse ter sido ideia sua indicar a primeira-dama para o cargo de presidente do Serviço Voluntário de Assistência Social. O companheiro Quintão declarou que optou por voltar ao Legislativo para ajudar Pimentel na votação de reforma administrativa, abrir vaga para a nomeação da primeira-dama foi mera consequência. Já o líder do governo na Assembleia Legislativa, o deputado petista Durval Ângelo, diz que Carolina Pimentel fica na pasta do Trabalho até julho próximo, quando deve ceder a vaga novamente para Quintão.
Deu quase pena ver o outrora combativo Durval Ângelo dando voltas na língua na tentativa de explicar o inexplicável. Uma vergonha. Como justificar a escolha da jornalista Carolina para comandar a pasta do Trabalho da segunda economia do país? Qual a experiência da bela senhora?
OPERAÇÃO ACRÔNIMO
Pimentel, vale repetir, é um homem acuado. A Polícia Federal o indiciou, há três semanas, por corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e tráfico de influência na mesa Operação Acrônimo que ronda os passos da mulher Carolina. O governador de Minas é acusado de um dos crimes mais pusilânimes que se pode atribuir a um agente público: o da venda de atos de governo para favorecer interesses privados.
Um dos inquéritos da Polícia Federal chega à conclusão de o governador participou de esquema para favorecer a montadora Caoa no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Pimentel comandou a pasta entre 2011 e 2014, sendo sucedido pelo economista Mauro Borges, seu aliado político, também suspeito de envolvimento nas irregularidades. Os dois negam, assim como a montadora.
Não é tudo, mas seguramente o bastante para explicar o fato do governador de Minas ter rompido o limite da razoabilidade ao nomear sua mulher para um cargo que ela aparente não ter os pré-requisitos necessários – a não ser a necessidade premente de fugir da saia justa de ter polícia e Justiça cobrando explicação dos seus atos nada republicanos. É de acrescentar que Minas sempre foi merecedora de mais respeito. (www.luisclaudioguedes.com.br/)