Ontem, 14 de julho, foi feriado nacional na França. O motivo? A comemoração pela tomada da Bastilha, a prisão feita de paredes de três metros de espessura, que dispensava tratamento cruel aos presos - há relatos de celas com espaço para o sujeito ficar somente de pé -, e que representou, para os historiadores, a primeira fase da Revolução Francesa (1789).
Como todo acontecimento histórico se transforma em imaginário, a queda da prisão da Bastilha também foi elevada à condição de símbolo da luta contra o Absolutismo por conta da transformação daquele espaço em local de reclusão dos inimigos do regime, apesar de na véspera da sua queda existirem por lá apenas um nobre, dois falsários e dois ladrões. Aliás, o nobre era o Marquês de Sade, e que tanto trabalho dava a nobreza francesa por conta não do seu comportamento licencioso, libidinoso, mas pela desqualificação desse comportamento quando o tornava público. E mais do que libertar o povo oprimido na prisão, os populares que invadiram a Bastilha ambicionavam as munições guardadas, já que o prédio funcionava, também, como depósito de armas e pólvora.
Mas se a tomada da Bastilha representa para os franceses o início de uma nova Era, para a humanidade, a Revolução Francesa (1789) representa as três grandes fases pelas quais o homem terá acumulado experiência para uma provável elevação. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os elementos que a França legará à humanidade e que marcaram e marcarão a humanidade nos três século seguintes ao movimento revolucionário.
Como tendemos a ignorar as coisas para, e somente depois, reconhecer o valor delas ou das pessoas, sacrificamos a Liberdade no século XIX quando, em nome da liberdade de mercado, a transformamos em manobra para a acumulação do capital. No século XX a Igualdade foi apropriada por tiranos, sobretudo de esquerda, que a despeito de oferecerem o paraíso na terra, ignoraram o princípio da diversidade. Por último, a Fraternidade, utopia do século XXI, que se inicia na internet a partir das novas relações em rede que estão sendo estabelecidas. A horizontalidade da rede pressupõe não a formação de uma sociedade de iguais, ou de livres, mas de homens que se ajudam. É a última orientação do período que marcará a Queda da Bastilha.
Pois comemoremos o 14 de julho não com um pé no século XVIII, mas com os dois no XXI.
(*) Professor e Jornalista