"Na pandemia, o inimigo é um só", afirma o senador Antonio Anastasia

Evaldo Magalhães
Hoje em Dia - Belo Horizonte
04/06/2020 às 01:07.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:40
 (Geraldo Magela/Agência Senado)

(Geraldo Magela/Agência Senado)

Derrotado por Romeu Zema (Novo) na corrida ao governo estadual em 2018, eleição da qual diz só ter participado por insistência do PSDB, antigo partido, o senador mineiro Antonio Anastasia (PSD) se diz “poupado” pelo destino. A grave situação financeira assumida pelo então oponente, agravada agora pela pandemia da Covid-19, justifica a sensação de alívio. “Governei o Estado (2010 a 2014) numa situação completamente diferente da atual e agora reconheço que ele (Zema) está enfrentando muitas dificuldades”, afirma. 

Nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, entre outros tópicos, Anastasia, “campeão de relatorias” no Senado, do qual é vice-presidente, fala da enorme crise vivida pelo país, após a chegada do novo coronavírus, e defende a reforma do Estado, com especial atenção à modernização da gestão na saúde, como caminho para evitar que problemas como os que têm se dado no enfrentamento da doença voltem a ocorrer futuramente. 
 
Entre tantas relatorias feitas pelo senhor no Senado, um dos últimos destaques foi o chamado “Orçamento de Guerra”, conjunto de medidas contra a pandemia. Qual balanço o senhor faz da proposta?
Primeiro, permitiu que o governo federal tivesse flexibilidade orçamentária neste momento de crise, que pudesse alocar recursos com mais liberdade do que antes, embora não esteja isento da prestação de contas. Também autorizou o governo a fazer contratações em relação à pandemia com mais liberdade, de médicos, equipamentos para hospitais, por exemplo. Além disso, rompeu a “regra de ouro”, permitindo a abertura de créditos por medidas provisórias nas diversas áreas, o que tem sido fundamental para combater a Covid-19. 
 
O senhor tem demonstrado empenho especial para reforçar a saúde em Minas, mas não deixa de apontar falhas na gestão desse setor, de modo geral. O que é preciso para que se avance? 
Eu sempre disse que a saúde é a chamada demanda infinita, é a política pública na qual quanto mais você investe, mais necessidade de investimento tem. Isso, em tempos normais. Em tempos de pandemia, então, a coisa se agrava. Dessa maneira, eu e meus colegas temos nos empenhado constantemente em alocar recursos para o setor. Em outra frente, tenho reforçado a defesa da reforma administrativa no país, exatamente com objetivo de melhorarmos a gestão pública na saúde. Não adianta aumentar dez vezes o recurso de uma área em que não há nem capacidade de gestão desse dinheiro. Então, é preciso reformar o Estado brasileiro para que possamos gastar melhor. Isso é de fato uma pedra angular a ser superada. 

Especificamente na saúde, como seria tal reforma? 
Temos que instituir no Brasil a política de metas e de resultados, para gastar bem e melhorar os indicadores. Por exemplo, deixando a pandemia um pouco de lado: precisamos controlar os índices de mortalidade infantil ou materna. Se eles forem aumentando, isso é falta de eficiência. Precisamos também de metas de acompanhamento e de informações. O Brasil ainda é fraco em informações. Veja agora durante a crise da Covid-19 o vexame que foi o pagamento do auxílio emergencial, a dificuldade do governo em saber quem mereceria os pagamentos, já que não temos uma base confiável de dados. Isso ocorre em diversos setores.
 
Mudando de tema: o senhor perdeu a eleição para Romeu Zema, que hoje enfrenta uma grave crise financeira no Estado, intensificada pelos efeitos da Covid-19. Se estivesse no lugar dele, tomaria atitudes diferentes?
É uma pergunta delicada. De fato, eu me candidatei ao governo, coisa que não pretendo mais fazer, e fui derrotado pelo governador Zema. Naquele mesmo dia manifestei meus cumprimentos e meu apoio no Senado. Temos relação amistosa, mas visões de mundo diferentes, o que é perfeitamente normal. Ele tem uma visão muito liberal, do partido Novo, e eu tenho uma visão social- democrata. Agora, infelizmente, na situação em que o Estado se encontrava e que agora piorou em razão da queda da receita, os remédios são mais ou menos os conhecidos. Não sei, por exemplo, por qual motivo – não quero fazer aqui juizo de valor – ainda aguardamos uma reforma da Previdência no Estado, já que Minas é dos poucos que ainda não tiveram a sua. Enfim, temos procedimentos e entendimentos diferentes, mas as crise seria a mesma. Eu sempre digo que fui poupado, porque governei o Estado numa situação completamente diferente da atual, e agora reconheço que ele está enfrentando muitas dificuldades.
 
O PSD tem ampliado diálogo com o governo federal e pode até fechar participação formal. O senhor mudaria sua conhecida postura de independência?
Sou adepto da convergência, do equilíbrio, não me nego a conversar. Tenho um relacionamento muito bom, por exemplo, com o líder do governo no Senado. Mas critico e continuarei criticando e votando contra tudo que achar equivocado, questões que contrariam minha formação humanista e social-democrática, e algumas atitudes de confronto. O meu presidente no Senado, Davi Alcolumbre, sempre usa a imagem da bandeira branca para lidar com essas situações, e concordo com ele. Na pandemia, o inimigo de todos é um só (o vírus). E é assim que devemos agir.

O Brasil ainda é fraco em informações. Veja, durante a crise da Covid-19, o vexame que foi o pagamento do auxílio emergencial, a dificuldade do governo em saber quem mereceria os benefícios, já que não temos uma base confiável de dados
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