Lições de descaso: situação precária de escola na zona rural coloca alunos em risco

Manoel Freitas
O Norte
11/03/2020 às 08:51.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:54
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

A dura realidade das escolas da zona rural de Montes Claros motivou, na última segunda-feira, uma visita da Comissão de Educação do Legislativo à Escola Municipal Nair Fonseca, no distrito de Canto do Engenho. Os vereadores foram até o local para apurar denúncias de situação precária da instituição de ensino.

O que os parlamentares encontraram na escola é o retrato de que a Secretaria Municipal de Educação fechou os olhos para as escolas do campo – e há unidades da zona urbana que não estão muito longe do quadro caótico.

A escola denunciada atende 83 alunos dos ensinos fundamental I e II de 20 comunidades do entorno. E a situação de total precariedade em que se encontra oferece riscos aos estudantes e trabalhadores.

Vários pais de alunos acompanharam a visita dos vereadores, que se assustaram com o que viram – um quadro assustador. À medida que vistoriavam o imóvel, ficava cada vez mais nítida a precariedade da estrutura: paredes rachadas, salas sem portas, banheiros sem travas, janelas sem vidros, telhas quebradas, vidros destruídos, degraus que são autênticas armadilhas para os alunos e mais de 20 servidores.

O telhado apresenta vazamentos, indicando que o prédio encontra-se totalmente degradado, em estado de abandono, comprometendo a integridade física de mais de cem pessoas que estão ali todos os dias.

A Comissão entrou em uma sala vazia, com paredes imundas. A escola não possui sala de professores nem biblioteca. “A Comissão de Educação nem precisava fazer esse relatório, porque a realidade é outra e estamos dependendo apenas de um croqui para fazermos o projeto”, disse a diretora da unidade, Simony Cardoso.
Ela não soube justificar o quadro de abandono e a ausência de licitação da reforma, mesmo com Emendas Impositivas de R$ 70.749,87 e R$ 30 mil para a manutenção do prédio de autoria dos vereadores Ildeu Maia (PP) Graça da Casa do Motor (PHS), respectivamente.
 
TRISTE CENÁRIO
Em função das péssimas condições do imóvel, muitas crianças acabam desistindo de ir à aula. No dia da vistoria, por exemplo, a sala de aula que deveria estar com 15 alunos, tinha apenas quatro.
 
O constrangimento era evidente na expressão do professor de História José Natividade da Silva. Sem porta na sala, ele se posicionava de forma a tampar o espaço, para evitar que os alunos olhassem a todo momento para quem passava no corredor. “Senão os alunos têm a atenção desviada toda vez que passa alguém. Eu não sei por que isso está acontecendo”. O professor diz que em mais de 20 anos de magistério é a primeira vez que trabalha em situação tão degradante.


Comunidade espera nova escola e estradas melhores
Alessandra Cardoso da Silva, presidente da Associação de Moradores de Canto do Engenho, tem dois filhos estudando na Escola Municipal Nair Fonseca, onde ela também cursa o ensino médio. Ela foi a autora da denúncia do estado precário da instituição de ensino, depois de tanto sofrer – ela e as crianças – com o descaso com o imóvel.

Para a dirigente, é tamanha a precariedade que “Uma reforma não adiantaria. Eles teriam que arrumar outro lugar e construir um novo prédio, começar do zero, porque a reforma custaria mais que uma escola nova”, avalia Alessandra.

Logo que a Comissão de Educação chegou à escola, a líder comunitária foi questionada pela diretora, Simony Cardoso. “Mas você teve a permissão de alguém para fazer as fotos?”. A mãe-aluna retrucou: “Sou maior de idade e respondo pelos meus atos, porque a situação aqui está muito feia, porque quando pinga lá fora, chove aqui dentro”.

A escola atende as comunidades de Três Irmãos, Lagoa de Freitas, Extrema, Riacho Fundo, Cedro, Seriema, Brejinho e Pederneira. “Tentamos fazer um mutirão com os pais, mas a diretora não aceita. Segundo ela, isso é coisa da prefeitura”, afirma Alessandra.

Como se não bastassem as condições ruins da escola, as estradas que dão acesso às localidades atendidas pelo educandário não receberam manutenção no período da seca e estão intransitáveis.
 
SÓ NA PROMESSA
O vereador Ildeu Maia, que acionou a Comissão de Educação no ano passado e novamente agora, informou que sempre que procura a direção da escola é informado que o processo licitatório para reforma do prédio será realizado. “Mas uma licitação demora muito tempo, a escola não tem projetos e tudo indica que não sairá do papel. É muito sofrimento para os alunos”, lamenta.

Primeiro a entrar na escola, Sérgio Pereira ficou impressionado com a situação encontrada. “Olha para a senhora ver, o prefeito tanto criticou a educação e a saúde e hoje as coisas estão nessa situação”, disse à diretora.

“Estou indignado, porque a administração ficou três anos sem fazer nada e, só agora, na véspera da eleição, pensa em fazer reformas. Não estamos aqui fazendo política. Na verdade, o prefeito é o principal responsável por fazer politicagem com a educação”, disse o vereador.

A reportagem de O NORTE encaminhou e-mail à Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Montes Claros e, diretamente, fez contato com a secretária de Educação, Rejane Veloso. No entanto, como tem sido praxe, até o fechamento da edição não obtivemos respostas.

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