Dinheiro e morte

Jornal O Norte
21/11/2005 às 11:40.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:54

Eduardo Brasil


Repórter


eduardo@onorte.net

A contaminação do lençol freático causada pela Esso foi ao longo dos anos - desde que levantada a primeira suspeita de vazamento de combustíveis acompanhada pela famigerada crônica da tragédia anunciada. Há muitos anos as comunidades afetadas vinham denunciando a ameaça de um acidente ambiental de graves proporções e que se confirmaria décadas depois.

- As autoridades competentes demoraram demais para ouvir o nosso apelo. Agora é tarde para muitas pessoas que perderam a vida por conta da irresponsabilidade alheia - desabafou José Lopes dos Santos, líder comunitário que representou na audiência as comunidades dos bairros São Judas Tadeu I e II, Doutor João Alves, Antônio Pimenta, Vila Luiza, Canelas I e II e Cristo Rei, área vulnerável à contaminação da Esso.

- Ao longo de mais de trinta anos, além da ameaça à nossa saúde, vivíamos o medo de sermos vítimas de uma grande explosão.

Numa ocasião, a comunidade chegou a provar a existência da contaminação derramando, sob o asfalto, porção de água de uma cisterna que misturada ao combustível vazado e ao contato com as chamas de um palito de fósforo se transformou numa bola de fogo. Mas nem esta demonstração adiantou e a agressão ambiental prosseguiu sem limites.

José Lopes aproveitou a oportunidade para apontar as conseqüências da deterioração e apresentar reivindicações para uma série de ações que possam amenizar os problemas deixados pela empresa, entre elas o pagamento, pela Esso, de indenizações aos que contraíram moléstias.

- Além do câncer, outras doenças estão atingindo os moradores.

Ele também pediu que a prefeitura aplique a verba de 115 mil reais que a Esso pagou como compensação financeira pelo acidente ambiental na melhoria da qualidade de vida dos moradores da região

- Os recursos foram desviados pela administração anterior para serviços no parque Guimarães Rosa. É pouco dinheiro diante da situação que a Esso nos deixou, mas de grande valia para fazer frente à degradação ambiental. A população exige a restituição desses valores - completou.

Segundo José Lopes, é necessário que medidas sejam tomadas de forma contundente para evitar que a contaminação avance ameaçando a vida de outras pessoas.

- A contaminação certamente é maior que a que se imagina. A irresponsabilidade da Esso causou e vai causar novas tragédias. Pessoas já morreram, outras estão doentes - acusou.

Para ele, a audiência pública da câmara reacendeu suas perspectivas de que uma solução será tomada para eliminar o grave problema ambiental que ameaça e atinge parte de uma população estimada em 30 mil pessoas - mais de seis vezes, por exemplo, que o número de habitantes do município de Juramento.

- É muita gente que vive em meio ao desespero de contrair doenças por causa da contaminação. Cheguei aqui (à câmara) sem muita fé. Com o pires na mão. Saio com um prato cheio de esperanças. Com a certeza de que nós, moradores da região, vítimas do descaso, encontramos o respaldo que buscávamos Voltamos a acreditar que a justiça, ainda que tarde, será feita - concluiu.

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