Vou-me embora daqui

Por Manoel Hygino

Jornal O Norte
Publicado em 21/02/2014 às 04:21.Atualizado em 15/11/2021 às 16:45.

*Manoel Hygino

Tive madrinha Dagmar, nome de rainha, cujo complemento Alcântara também denotava nobreza, nascida em Grão Mogol. Daí, meu antigo interesse pela cidade norte - mineira. O pesquisador e escritor Haroldo Lívio acrescentou brasas ao calor de minha curiosidade. Em livro, contava ele, como na letra de música cantada por Elis, que “incrustada, no regaço da Cordilheira do Espinhaço, Grão Mogol é pedra, é cristal, é ouro, é diamante...”.

Magnífica descrição: “Protegida por agressivas muralhas rochosas da Serra Geral e fundada sobre bacia mineral, a cidade alterosa é uma fortaleza de pedra. Suas ruas, estreitas e tortuosas, foram pavimentadas de seixos rolados coloridos, imitando um bordado”.

De lá, partiram tropas de mulas carregadas de ouro e gemas preciosas para adereçar as cabeças coroadas de rainhas e princesas nas cortes de além-mar. No recanto privilegiado, há poucos anos, o empresário Lúcio Bemquerer, ex-presidente de entidades importantes na economia, decidiu instalar-se de vez, renunciando à vida agitada dos negócios e dos eventos, Encontrou ambiente adequado e implantou o maior presépio natural do mundo, recebendo bênção do papa Francisco. É o presépio Mãos de Deus.

Mais recentemente, o jornalista Alberto Sena, que é de Montes Claros, onde viveu 22 anos, decidiu transferir-se para Grão Mogol, após somar prêmios por sua atuação na imprensa e percorrer numerosos países, na Europa, América do Sul e do Norte, África e Ásia. Fez o caminho de Compostela, na Espanha duas vezes, andando 500 e mais 800 quilômetros a pé. Sem falar as quatro viagens do Caminho da Fé, vencendo os trezentos quilômetros de Águas da Prata ao Santuário de Aparecida.

Alberto Sena abandonou as andanças para assentar-se de vez na cidade de pedra. Apesar do amor pela capital mineira, percebeu que ela não era mais a que lhe marcara quarenta anos de existência e afirmação. Cansou-se do ar poluído que causa câncer, da violência que prende as pessoas em casa, do estresse provocado pelo trânsito intenso. Achou que merecia qualidade de vida e zarpou, com mala e cuia, para Grão Mogol, cidade que não se parece com nenhuma outra no Brasil.

Em crônica, espécie de carta de adeus ao passado, disse do projeto de semear sementes visando produzir bons frutos, numa região pacata e tranquila, com lindas paisagens e água em profusão, ar puro, onde se pode viver bem, porque se tem qualidade.

Grão Mogol é uma vida sem derivações. A natureza proíbe mudança de destino, que faz a cidade segura, onde o único ofício da polícia é conhecer os que chegam, à menor suspeita. As portas e janelas ficam abertas e os vizinhos trocam oferendas, identificadas só pelo apelido. Subir serra e descer encostas, cavernas convidativas e o presépio. Enfim, uma Pasárgada que encantaria todo Manoel Bandeira da vida, pois é outra civilização, e as velhas senhoras podem contar, tranquilas histórias da meninice.  

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