Marçal Rogério Rizzo (*)
É conhecida a frase: De economista e técnico de futebol todo brasileiro tem um pouco. Até concordo que de técnico de futebol todo mundo apresenta suas opiniões e preferências, basta ver as escalações da seleção brasileira. Sempre há quem queira dar seu palpite no time do Mano.
Com relação ao brasileiro ser um pouco economista, digo de antemão que isso mudou após a estabilidade econômica que o Brasil vem conquistando, desde julho de 1994, com a implantação do Plano Real. Talvez essa seja a mudança mais explícita que tivemos em nossa economia nos últimos anos.
Os brasileiros mais jovens não conheceram a praga da inflação, ela é considerada um enigma para essa geração. Na realidade, de lá para cá, muita gente se esqueceu do dragão da inflação.
Certo é que essa estabilidade deu tranquilidade aos brasileiros que acabaram deixando de discutir a economia no seu dia-a-dia. Até os economistas deixaram de ocupar tanto espaço na mídia brasileira.
Os cursos de graduação em economia sofreram evasão e queda na demanda a partir da estabilidade econômica. Hoje o cenário econômico não é mais conversa de boteco, como era no passado! O economista perdeu seu status de curandeiro e vidente da economia.
Nos últimos meses, mal o dragão da inflação apontou no fim do túnel, as autoridades econômicas brasileiras se mostraram aterrorizadas. Também, pudera! Essa fera causa pesadelos no mundo contemporâneo, ainda mais no diz respeito ao Brasil, que apresenta um longo histórico com a fera. Acostumamo-nos por anos com a inflação controlada, mas os números do passado são significativos.
No livro Economia, de autoria de Rosa Fontes, Hilton Ribeiro, Airton Amorim e Gilnei Santos, encontramos dados que mostram o estrago que essa fera fez ao Brasil. Entre julho de 1974 até julho de 1994 (período de lançamento do Plano Real) a Fundação Getúlio Vargas registrou uma alta acumulada de 101.240.982.237.321% (cento e um trilhões, duzentos e quarenta bilhões, novecentos e oitenta e dois milhões, duzentos e trinta e sete mil e trezentos e vinte um por cento) de inflação. Os autores fazem comparações evidenciando que o problema era gravíssimo.
Se um alfinete de aço crescesse na mesma proporção ele pesaria 900 mil toneladas, 1 litro de água chegaria à equivalência de 1 bilhão de metros cúbicos e por fim, um quilo de feijão pesaria a produção de 312 anos seguidos. Por conta dessa praga nossa moeda mudou 12 vezes, era a tal história de cortar os três zeros e lançar um plano econômico.
As conseqüências eram nefastas como, por exemplo: perda do poder aquisitivo; redistribuição negativa de renda; incertezas; desestímulo ao investimento; maiores dificuldades na exportação e fuga de capitais para o exterior, entre outros. Embora não haja uma discussão sobre a inflação com havia antigamente, sempre é preciso prestar atenção no foco da política macroeconômica que é construída para derrubar a tal fera.
Vale lembrar, que não há truque de predestinação, mas sim, a efetivação de uma política econômica que vise manter crescimento, mantendo a estabilidade econômica. A vigilância tem que ser rigorosa, o dragão não pode reviver. O adequado enfrentamento da inflação impõe, em muitos momentos, decisões impopulares como o aumento de juros, o desaquecimento do consumo, o corte de crédito, aumento do depósito compulsório, entre outras medidas, no entanto, sempre visando o controle da inflação.
Não paira dúvida de que com uma economia estabilizada o Brasil já passa por graves problemas, agora imaginem voltarmos na era da inflação. Daí a importância de continuarmos mirando a estabilidade econômica!
(*) Economista - E-mail: marcalprofessor@yahoo.com.br