*Dom José Alberto Moura
A experiência de convivência dos antigos judeus com a liderança religiosa os levou a aceitar regras definidas de conduta. A contenção da raiva e do rancor era exigência para a colaboração de todos na consecução do objetivo de vida proposto por Deus, chamado a ser o supremo árbitro para condenar os infratores: Quem se vingar encontrará a vingança do Senhor, que pedirá severas contas dos seus pecados (Eclesiástico 28, 1). O mesmo texto bíblico lembra que até a pessoa pecadora procura dominar esses impulsos negativos.
Uma coisa são os sentimentos naturais próprios do ser humano. Outra é o domínio de si, que leva a pessoa a se conter para não criar situação avessa ao bem do outro e de si próprio. As consequências dos extravasamentos dos sentimentos podem ser danosos se não forem contidos pela busca de um valor maior. O direito de ser feliz não significa buscar a prática dos impulsos dos sentimentos e das sensações a qualquer preço. Pelo bem estar de convivência harmoniosa, sacrificamos a satisfação de nossos desejos a ponto de condicioná-los ao treinamento das emoções para a busca de resultados melhores para todos. Deste modo, as relações humanas dentro do lar, na comunidade e em todo contexto social serão harmoniosas quando as pessoas souberem respeitar o outro com verdadeiro espírito humano, educado e na percepção de seu valor autenticamente humano. As descriminações serão superadas, os preconceitos banidos e se dará oportunidade de desenvolvimento dos valores e dons de cada um. Sentimentos e ações de ternura, de misericórdia, de perdão, de bondade, de justiça e amor são concretizados na prática da convivência.
A potencialização maior da convivência cidadã, com a superação da vingança, é fundamental no contexto político. Os partidos, que deveriam ter bem claros seus objetivos, ideias, ideais e metodologia, não poderiam encarar os outros como inimigos, mas tão somente como adversários. Terminada a eleição, não haveria ganhadores e perdedores e sim apoio de todos para a promoção do bem comum. A vingança é contrária à melhor política partidária, com a grandeza ética e moral de seus membros. Deveríamos banir das eleições políticas pessoas que traem a confiança do povo, querendo destruir o que outros fizeram de bem à população. Quantas obras inacabadas por orgulho do novo gestor ou mesmo por vingança ao adversário. Quem deveria aparecer seria o bem comum e não o nome ou a fama da pessoa que exerce cargo político.
Quem tem bom senso e inteligência mínima deveria aproveitar o que há de bom nos outros para unir esforços para o bom serviço à comunidade. Há políticos que dão tiro no pé por quererem vingar-se dos adversários! Ignorância crassa! Como é bom fazer política séria! Os próprios políticos desse naipe seriam os mais beneficiados!
Devemos todos ter consciência de que vamos prestar contas a Deus do que realizamos em relação ao semelhante. Fazemos o desarmamento eficaz de nossas tensões quando as carregamos de amor! O Eclesiástico fala: Se ele, que é um mortal, guarda rancor, quem é que vai alcançar perdão para seus pecados? (28, 5).
*Arcebispo metropolitano de Montes Claros, presidente do Regional Leste II da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para o quadriênio 2011-2015.
