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Segunda-Feira,22 de Dezembro

Vida

Por Eduardo Costa

Jornal O Norte
Publicado em 16/10/2013 às 09:16.Atualizado em 15/11/2021 às 17:13.

*Eduardo Costa

De repente, um barulho forte, surdo, diferente. Um susto e tanto em todo mundo que está no quarteirão. A moça, de 18 anos, mutilada no chão. Um parente providencia carro funerário, o corpo é rapidamente retirado do asfalto e funcionários do prédio lavam os jardins, para apagar as marcas da tragédia. Não será possível. Por dois motivos: primeiro, no mundo de hoje, celulares em mãos nada serenas espalham fotos na internet de cenas inacreditáveis em segundos. Depois, as redes sociais – hoje as grandes amigas de gente solitária – escancaram detalhes da jovem, como o fato de estar iniciando o curso de Medicina na UFMG, e até um bilhete de despedida e agradecimento, postado por ela. Metade da cidade comenta, à boca pequena, mas é como se fosse tema proibido, tripudiar em cima da dor da família ou fazer sensacionalismo explorando o assunto.

Não me conformo. Não interessa o nome da menina, muito menos o sobrenome. Que os familiares recebam nossa corrente de orações sinceras para superarem a dor inimaginável.

Mas, como escrevi por ocasião do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mês passado, temos que discutir o assunto. Não com o intuito de individualizar, investigar as causas que fizeram aquele episódio dantesco. Não. Eu falo de discutir é por quê muitos jovens estão fazendo isso. Eu repito a fala de um senhor septuagenário, no dia seguinte, malhando na academia bem em frente onde tudo aconteceu: “Meu Deus, eu comendo gravetos, caminhando e exercitando, tomando todo cuidado para seguir andando e essa moça faz isso?”.

O que me espanta é que a gente não mergulha na reflexão sobre os assuntos mais graves que nos ladeiam: violência, drogas, mobilidade urbana, depressão, desesperança, desprezo pela vida, falta de perspectiva e fé. O voo dessa moça rumo ao concreto doeu em mim como se ela fosse minha amiga. Ou parente. Como eu gostaria de tê-la conhecido antes, conversado com ela um pouco, ouvido por alguns minutos sua angústia e, quem sabe, animado-a a ficar conosco. O diacho é que não há um só dia em que alguém não fale comigo de tédio, vazio, tristeza. Que Deus nos proteja e guarde nossos jovens.

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