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Domingo,8 de Junho

Viagem a casório

Jornal O Norte
Publicado em 19/11/2008 às 11:56.Atualizado em 15/11/2021 às 07:50.

Márcio Adriano Moraes


Professor de Literatura


 


Saída madrugada com destino ao Sul, bem Sul de Minas. Prestigiar o enlace matrimonial da prima. Oh cerimônia longínqua! Apesar de terras mais verdes, a bênção episcopal foi a do Norte mesmo, sem pequi ou araticum, somente de praxes mesmo. Novidade, nunca tinha visto o religioso com o civil juntos, dois casamentos, de Deus e dos homens em um mesmo templo. Contrato e sacramento, juiz e sacerdote, testemunhas e padrinhos oculares de finos trajes.



Na saída, a neblina perturbou. O motorista tremia, não enxergava um palmo na frente, o sono das quatro horas da manhã ainda piscando nos olhos. O rapaz de chapéu só observando na frente e dando o apoio moral. No banco traseiro, duas primas da prima (noiva) com olhos arregalados, coração na mão, ave-marias mentais. Chuva serena lutando com um quase dilúvio. Apesar da pista molhada, o objetivo era chegar o mais rápido possível.



Parada para o almoço. Quem diria que no rodízio nada gaúcho havia um quase conterrâneo e, o mais intrigante, ex-empregado do pai da noiva?! Conversação, histórias, notícias, amigos de doze anos. O melhor do rodízio foi a gelatina. Na saída, o motorista embriagado de picanha e alcatra, dando uma ré, subiu no passeio e por pouco não arranca a bomba de gasolina. O pior é que havia, mais ou menos, uns seis metros para a manobra.



No hotel, meia hora para tentar acender as luzes, até a ira chegar e reclamar na recepção: “desculpe, senhor, basta colocar o cartão da chave no sensor”. Saudade dos interruptores manuais... Depois dessa, o próximo hotel tantas estrelas que entrar, bater palmas ou dizer “luzes” não será ficção cinematográfica.



Uma das madrinhas, noiva do rapaz careca, quebrou o salto nas escadarias. Acostumada com as rasteirinhas, não se equilibrou. Ainda bem, a sandália não tinha nada a ver com o vestido, a reserva se saiu melhor. Mulher prevenida é assim, já leva umas dez sandálias de sobra. E a mãe da noiva, no desespero, fecha a porta do carro se esquecendo de tirar o dedo da frente. Lá vai o rapaz de chapéu comprar “bandeide”, mas antes teve que fazer força para abrir a porta da igreja. Não sei para que fecharam a porta da igreja, ocultando os padrinhos, noivo e noiva. Aqui na nossa terra não tem isso. Talvez para ficar mais chique. Chique mesmo foi o violino desfilando no corredor central da igreja tocando para a noiva entrar.



No baile, sertanejo, sertanejo, sertanejo, forró, sertanejo, pop, sertanejo, sertanejo. Eita sertão bom. Detalhe, os noivos são engenheiros agrônomos. Sertanejo explicado. O rapaz careca tomou um doze anos, depois tacaram oito anos nele e achou que já estava nos vinte. Queria dançar, com a noiva, sem noiva, com copo sem copo. Quando ele chegou ao hotel, as escadas foram verdadeiras inimigas, sobe, desce, desce, sobe; “qual apartamento mesmo?”.



Churrasco na casa do noivo. Farinha some e aparece, cerveja esquenta e gela, presentes contábeis. O que importa é que casou! O rapaz careca cismou que era carateca e deu uma na barra de gelo, sangue no dedo. Muita festa e alegria como todos bons casamentos.



Na volta, três coisas interessantes. O motorista jogou uma pergunta: “qual será a próxima cidade, começa com ‘p’ e termina com ‘s’?”, imediatamente uma das primas da noiva que estava no carro respondeu: “Paisagem!”. Não passaria no soletrando. E alguém aí conhece um asfalto cintilante? Pois é, o melhor de tudo: um golzinho 91 chegou primeiro que uma Mitsubishi, também no volante do possante estava o rapaz de chapéu, milhas e milhas por hora. E viva os noivos, ou melhor, os casados!

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