Velhos Chicos

Jornal O Norte
Publicado em 24/09/2009 às 09:34.Atualizado em 15/11/2021 às 07:11.

Felippe Prates



Vencedor do concurso de Samba Puladinho da Gafieira Flor do Abacate-RJ - Sócio atleta do Jockey Clube Brasileiro-RJ.



Os apelidos, uma forma carinhosa de tratar pessoas queridas, existem desde sempre.  Manuel é Maneco, Luiza é Lulu e Joana é Jô.  Os Josés, dificilmente escapam do apelido “Juca” e, em Montes Claros, nasceram grandes Jucas: Juca Prates, um livro aberto de História, precedido de seu pai, Papai Juquinha e do avô, Coronel Prates, o abolicionista, os três com o mesmo nome de José Rodrigues Prates e o apelido de Juca Prates, em diferentes gerações.



Juca Macedo, ou Juca de Guilhermina, amigo de infância do nosso pai, outro grande Juca, muito saudoso, que vendia, quando necessário, os próprios sapatos para comprar livros de estudos para os filhos, segundo nos revelou um deles. Como trabalhava nos Correios, também era conhecido como Juca Carteiro, o de melhor coração que já houve.  Juca tinha a incumbência de fechar os telegramas antes de entregá-los. Assim, ficava conhecendo o seu conteúdo, o teor das mensagens neles contidas e humanizava o seu trabalho não só amavelmente antecipando aos destinatários a notícia que iam receber, mas, também, muitas vezes reduzindo o impacto, aquela expectativa de má notícia que, naturalmente, todo telegrama, nos causa:



- Parabéns, compadre Newton! O Felippe passou nos exames e está chegando em férias... Está tudo bem...



Só então entregava o telegrama. Quando a notícia era de falecimento, Juca Carteiro chegava até a chorar abraçado com o destinatário:



- Paciência, meu caro... Seu irmão não resistiu... É preciso a gente se conformar, foi Deus que chamou...



Desse jeito, de uma forma atenciosa, amiga e caridosa, extravasando a enorme bondade que sempre morou no seu coração, Juca Carteiro, o tão querido Juca de Guilhermina, amenizava a dor da perda, consolava o destinatário.



Os Franciscos, sem exceção, têm sido todos Chicos, por esse Brasil afora.  Francisco Sá, um grande brasileiro, dos maiores oradores pátrios, quando Ministro da Viação trouxe a ferrovia até Montes Claros, isso em 1926.  Na inauguração, visitando-nos pela primeira vez, iniciou seu discurso com uma frase que ficou famosa: “Montes Claros, princesa do Sertão! Eu não te conhecera e já te amára!”.  Nessa oportunidade, revelou que os montesclarenses deviam agradecer ao dedicado conterrâneo, Luiz Milton Prates, seu Oficial de Gabinete, o decisivo empenho pessoal que culminou na chegada dos trilhos à nossa cidade, afastando todas as dificuldades e conduzindo essa vitoriosa missão com tanto brilho.  Padrinho Milton, ou Milton Prates, como é conhecido, festejado benfeitor da nossa terra, chorando, emocionadíssimo, estava em pé na frente da primeira locomotiva que chegou oficialmente a Montes Claros, no dia da inauguração.



Pois bem: esse notável Chico, Francisco Sá, tão grato aos nossos corações, era conhecido como Chico Sá, o que lhe causava profundo desagrado.  Protestava sempre  contra o apelido e procurava desmerecê-lo, dizendo revoltado:



- Um Chico nunca chegará à presidência da República...



Um deles, pelo menos – Chico Salles, que foi presidente de Minas – não chegou ao Catete porque não quis.  Na sucessão de Rodrigues Alves, em 1906, as forças políticas então dominantes no país ofereceram-lhe a presidência da República, mas ele não aceitou, indicando o nome de Afonso Pena, que foi eleito.



Com curta demora, um Chico pernambucano – Frâncico Rosa e Silva, a quem os amigos apelidaram com o carinhoso nome de Chico Flor, que foi vice-presidente da República ao lado de Campos Sales – esteve à frente do governo substituindo o Presidente da República na sua viagem à Argentina.  Houve um Chico – Chico Bernardino, Francisco Bernardino Rodrigues da Silva – que foi vice-presidente de Minas como companheiro de Afonso Pena na sua passagem pelo governo do Estado.



Francisco Silviano de Almeida Brandão foi presidente de Minas e, quando morreu, estava eleito vice-presidente da República, ao lado de outro ilustre Francisco, Francisco de Paula Rodrigues Alves, que foi eleito duas vezes presidente da República, tendo governado São Paulo por três vezes.



Mas nenhum desses dois últimos era conhecido pelo apelido de Chico. Quem também foi Chico, um grande Chico, conhecido como Chico Ciência, foi Francisco Luís da Silva Campos, o nosso famoso Chico Campos, um mestre das letras jurídicas.



- Mas, que diabo, chega de Chicos!



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