*Laura Conrado
Uma leitora de 31 anos me escreveu dizendo se achar velha para ser solteira, uma vez que as amigas e as primas já estavam casadas ou prestes a subir no altar. Angustiada, ela me pedia indicação de livros sobre o tema. Embora conheça livros, peças e filmes que abordam a temática, não me arrisquei a indicar. Quase sempre o tema é tratado com deboche por roteiros que narram uma luta desesperada para encontrar alguém. E os finais... Ah! São surreais, como se as noites solitárias fossem magicamente recompensadas com um marido lindo, rico e disputado. E só depois de encontrar o tal homem, a mulher se descobre linda, desejada e contente. Para mim, isso não pode ser final feliz.
Mais cruel que os finais reservados às mulheres, é a diferença como a sociedade trata o fato de não ser casado aos 30 entre os gêneros. As mulheres são encalhadas; as que possuem carreiras bem-sucedidas deslocaram a “falta de homem” para o trabalho. Julgam-nas incompletas, como se ter marido e filhos fosse a única forma de um alguém se realizar. Para o homem, por outro lado, estar solteiro aos 30 o valoriza, ele se torna um partidão. Há algum tempo, o filho de uma conhecida perguntou quantos anos eu tinha. Depois se eu tinha marido. E filhos. Dada as minhas respostas negativas, o moleque soltou: “poxa, mas você não tem nada?” É, o machismo é aprendido desde cedo.
Se eu tivesse uma bola de cristal aos 22 anos e descobrisse que não estaria casada aos 29, surtaria. Na época, vivia na bolha cor de rosa. Só mais tarde descobri que as relações nem sempre são baseadas em sinceridade e aceitação. Muitos casamentos são maneiras ilusórias de dar jeito na carência. Para alguns é tábua de salvação, fuga ou um ótimo meio de legitimar o controle que se exerce sobre o outro. Aprendi que ninguém vai abrir caminho para mim. E mesmo que abrissem, não daria o mesmo prazer que conquistar metas com esforço próprio. Conheci casais que fizeram cerimônias lindas, com juras de amor que me arrancaram lágrimas, mas no dia a dia não se respeitam. Ou quase se matam. Furei a bolha e o sono profundo da Bela Adormecida quando descobri que estar casada não é sinônimo de ser amada. Nem de ser feliz.
E para minha leitora que pediu dicas de leitura, deixo meu simples post. Sei que não vai amenizar sua angústia, mas espero que ajude a questionar se os casados são mesmo felizes. E se precisa estar casada para começar a viver. E ah... Faça novas amizades!
