Adilson Cardoso *
É este o cara que vi e ouvi com muita atenção, na noite de segunda feira. Carlos Alberto Libânio Christo. Para ser mais exato. De fala serena, demonstrando tolerância e sabedoria, esse cidadão disse algumas coisas que há muito tempo precisávamos ouvir. Principalmente a ala ortodoxa da igreja e os petistas platônicos, que ainda acreditam na ressurreição do ex-sindicalista presidente do Brasil.
Para Carlos - que assim passarei a chamá-lo durante a minha explanação, pois me sinto amigo dele por tudo que teve coragem de enfrentar e resiste até hoje, mesmo tendo a consciência que sou apenas mais um fã -, o aborto deve ser encarado com mais seriedade pelas autoridades de saúde, pois, segundo ele, e nós concordamos, quem tem dinheiro visita as clínicas particulares à revelia, recebendo os melhores tratamentos e se prevenindo das infecções e outras patologias ligadas a esse cuidado. Enquanto as mulheres pobres vão se valendo da sorte e se virando conforme a oração do benzedor, do raizeiro e até dos métodos caseiros de introdução de objetos. O que, em conseqüência, leva a altos índices de mortalidade materna.
Carlos também se atreveu a futucar a poderosa instituição religiosa que, com seu poder de persuasão sobre os fiéis, vem provocando grande aparecimento de novos casos de aids em todo o mundo. Trata-se da proibição do uso de preservativos, que a igreja proíbe, tentando resguardar o sexo para o casamento. Carlos chama de irresponsável e mete um prego nos olhos desses conservadores que lotam as catedrais para censurar as atitudes dos novos tempos, sem criar alternativas para um consenso.
Quanto aos petistas, meu amigo Carlos disse apenas o que é uníssono: “Lula andava com duas pernas, que era o congresso nacional e outra, os movimentos populares, esta última perna responsável direta pela sua eleição depois de tantas tentativas, foi amputada pelo presidente, que hoje anda como o personagem do nosso folclore, o Saci Pererê. Pulando em uma perna só, futuro sombrio é visível no campo político, pois o PT não tem candidato para disputar uma eleição presidencial com nomes certos como Aécio e Serra.
Na saída do auditório, após meu amigo se despedir de todos nós, um companheiro petista desabafou: “Quem é esse filho da puta para falar de Lula?!”.
Apenas pensei depois, esse f.d.p. é militante dos movimentos pastorais e foi assessor especial do presidente, foi coordenador de mobilização social do programa Fome zero, além de ser amigo de Leonardo Boff e padrinho da filha de Chico Buarque e do filho do deputado e ex-presidente da Cut, Vicentinho. Por ser um defensor ferrenho da liberdade de expressão durante o regime militar, foi preso durante quatro anos. Escreveu 54 livros e um deles, chamado de A mosca azul, conta sua trajetória no palácio do poder.
Esse gladiador das causas sociais é pouco ou nada conhecido pela graça de Carlos Alberto; o mundo o conhece como Frei Beto. Fechamos com um trecho de uma belíssima reflexão sua: “Livra a tua vida de tantos lixos acumulados, atira pela janela as caixas que guardam mágoas, e tantas fichas de tua contabilidade com os supostos débitos de outrem, viva o teu dia como se fosse a data do teu renascer para o melhor de ti mesmo e os outros te receberão com o dom do amor”.
* Aprendiz de escritor e universitário