Um pulo cego sobre a fogueira

Cláudia Gabriel

Jornal O Norte
Publicado em 11/12/2013 às 04:04.Atualizado em 15/11/2021 às 17:16.

*Cláudia Gabriel

Nasci num signo de terra, mas tenho uma atração louca pelo fogo. Fascínio do tipo em que a gente é capaz de passar horas observando a luz trêmula de uma vela. Logo eu que tenho a maior dificuldade para qualquer tipo de meditação. Adoro o cheiro de cera queimada e a imagem que vai se derretendo aos poucos. Velas na oração ou que celebram o aniversário. Brilho sensual que ilumina discretamente o jantar a dois ou que se espalha pela casa no momento do encontro.

Mas gosto também da chama do fogão, daquele calor bom que aquece as mãos quando a gente vai fazer café num dia frio ou que reunia as famílias nas antigas cozinhas das fazendas. Amo as fogueiras das festas juninas e a brincadeira ousada de quem caminha sobre as brasas. O barulhinho da lenha se queimando e se consumindo. As cores – um azul difícil de se definir, amarelo e vermelho que se misturam. Mas o que mais me atrai é o que o fogo simboliza. A luz que se faz e se desfaz. A energia. A vida.

Quanto maior a chama, mais rapidamente se esgota. São os segredos do fogo que também é a cara da paixão. Se vem intensa demais, amedronta, mas seduz e provoca. Você sabe que está mexendo com brasa, que pode se ferir, mas não há como fugir do desafio. É quase como achar a medida certa do fogo porque a solidão é sempre muito fria, por mais inteligente ou tranquila que possa parecer. É uma questão de escolha. Continuar no ar condicionado do quarto vazio que, muitas vezes, soa até confortável ou se arriscar num pulo cego sobre a fogueira?

Por medo, costuma-se ficar com a primeira opção. Por amor ou por uma atração irresistível, a gente se lança ao jogo. E aí não tem o caminho do meio. É sim ou não. É pisar no chão quente, com a confiança de que vai chegar ao outro lado, ou ficar à beira do fogo, aplaudindo quem tem coragem. O melhor de tudo é descobrir que, nessa história, há um parceiro, querendo o mesmo que você. Ele também sente o frio na barriga, as pernas bambas... Mas é alguém que está disposto a encarar o fogo, com a mínima proteção, pra tentar sair feliz e sem traumas dessa brincadeira perigosa e tão fascinante.

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