Um presépio exemplar

Jornal O Norte
Publicado em 22/12/2009 às 08:58.Atualizado em 15/11/2021 às 07:20.

Eugênio Magno



Num domingo desses de dezembro, participando de uma celebração eucarística na Igreja de Santa Efigênia, me flagrei como que hipnotizado, olhando para um belo presépio, cujas luzes brilhavam a poucos metros de onde estava sentado.



Imediatamente após aquele alumbramento momentâneo me dei conta de que eu sempre gostei de presépios. Desde a infância que eu fico inebriado com essa representação celebrativa do cenário de nascimento do menino Jesus. A manjedoura e todos os personagens que compõem aquele quadro sempre me seduziram. Ainda lembro bem que era uma verdadeira viagem pelo mundo do sagrado ficar horas a fio com os amigos da vizinhança, em Montes Claros, a contemplar o presépio feito por dona Lózinha e depois por dona Júlia, que seguiu a mesma devoção de sua mãe.



Já vi muitos presépios, de todos os tipos: de traquitanas artesanais, como o famoso Pipiripau, a modelos mais modernosos, de concepção hi-tech. Mas dias atrás, um presépio me chamou a atenção. Foi numa tarde qualquer de um dia de semana comum que, por obra do acaso, entrei na capela do Colégio Santo Antônio, na Savassi, para meditar um pouco. E lá, em meio a caixas de leite longa vida, garrafas de óleo, sabonetes, dentifrícios e cestas básicas, havia uma pequena manjedoura com as imagens de Jesus, Maria, José e outros personagens.



A princípio, aquela estética me causou estranheza, mas numa questão de segundos, quando compreendi a proposta, o estranhamento se transformou em deleite. Estava diante de um presépio exemplar. Visite-o, se puder, caro leitor, e verá que ele nos desinstala e convoca-nos à participação, exigindo uma atitude concreta. Diante desse presépio, não temos outra alternativa, a não ser agir como os reis magos: Gaspar, Baltazar e Belchior e doar um pouco do muito que temos aos que como o Cristo, nada têm.



Todas as igrejas deveriam ter um presépio como este e, as pessoas, especialmente as mais aquinhoadas, bem que podiam encarnar o papel de reis magos e encher esses templos de mantimentos, roupas, agasalhos e também doces, brinquedos, quem sabe até mesmo garrafas de vinho... Porque não? Afinal de contas, Natal é celebração de nascimento e merece comemoração. Não nos esqueçamos, porém que, a festa é de Jesus Cristo, pobrezinho, nascido em Belém (num curral) e filho de pais refugiados. Entretanto, as luzes em torno do Papai Noel são muito maiores e mais brilhantes. E fica muito fácil esquecer do aniversariante e do grande contingente de refugiados da seca ou das enchentes, da falta de emprego, da fome e de tantas outras mazelas de nosso tempo, que nasceram e estão a se multiplicar, dia após dia em aglomerados, ou pior, às margens dos esgotos, sob as marquises e debaixo dos viadutos.



Que o Natal seja de mesa farta, muitos brindes, árvore cheia de presentes, saúde, paz, amor, harmonia, sucesso, dinheiro, e de todas as coisas que todo mundo diz desejar nessas ocasiões, acrescidas de dignidade, afeto, generosidade, solidariedade e justiça. Para todos... sem distinção de qualquer espécie.

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