Um presente para as crianças - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 10/10/2007 às 11:13.Atualizado em 15/11/2021 às 08:19.

Adilson Cardoso *


 


Aproxima-se o 12 de outubro, a célebre data em que se comemora o dia das crianças. Esta proposta foi apresentada pelo deputado federal Galdino Filho e aprovada pela câmara em 12 de outubro de 1920 e oficializada pelo presidente Arhur Bernardes por meio do decreto nº  4827, de 05 de novembro de 1924. Mas foi somente em 1960 que, numa promoção conjunta entre a fábrica de brinquedos Estrela e a Jhonson & Jhonson, a data passou a ser comemorada estrategicamente com muitos brinquedos.



Daí, então, o comércio passou a usá-la como termômetro aquecedor das vendas. Com uma infinidade de propagandas persuasivas visando atingir todas as camadas sociais, com o único objetivo de vender e vender. Os pais, encurralados pela ação meticulosa do consumismo e da consciência que barganha o vazio construído na relação pai-filho, imposta pela lei da sobrevivência, e os pequenos e grandes bebês são empanturrados de presentes, variando de importados a simples cópias vendidas em lojas de variedade.



Chega-se às vezes ao absurdo de vermos pré-adolescentes batendo papo sobre desenhos animados japoneses, com celulares que nossos meros salários não se atrevem a adquiri-los. Após a sessão de descarrego da consciência, que é promovida pelo presente, os pais vão aproveitar o feriado lotando bares ou desmoronando sobre as poltronas para assistirem seus programas prediletos. O filho, sozinho mais uma vez, vai falar com suas abstrações e viver sua mais nova prosopopéia.



Assim, pais e mães vão se distanciando ainda mais dos seus filhos, com discursos inflamados de que dão tudo que eles precisam, julgando que o ter é mais importante que o ser. Ao notar alguma diferença na conduta do herdeiro, vai imediatamente abrir o boletim escolar e culpar a escola pelo rubro resultado nas linhas da carta de apresentação para a sociedade em volta.



Estamos em crise!  As anomalias presentes nas condutas familiares sugerem algo bem mais tenebroso do que o inferno atual. A nova forma de apresentação do homem à mulher, nesses dias, substitui os tradicionais beijinhos no rosto pela experimentação sexual, com direito até a gravidez sem a me saber a graça do pai. É perniciosa para as crianças, estas que já foram chamadas de o futuro do Brasil, hoje deixadas em portas de estranhos e vendidas como meras mercadorias sem valor afetivo algum, mortas asfixiadas em ambientes insalubres regados a álcool e drogas, e até atiradas covardemente de janelas, como a assassina confessa fez com a pequena criatura Michelle, que veio a falecer no hospital após alguns dias de resistência.



Dizia o grande pintor e poeta Cândido Portinari: “O homem deve crescer, formar consciência, ter responsabilidades, mas nunca deixar morrer a criança dentro de si”. O que Candinho queria nos mostrar era a essência juvenil que vamos perdendo quando ganhamos poderes de adulto. Assim, somos condenados ao mundo avarento que a estrada da vida nos oferta. Desta forma, o amor se perde e o egoísmo nos faz gélidos a ponto de chegar onde estamos, no lamaçal da incompreensão humana. Mas quem ainda alimenta essa criança interior pode mudar o curso da história, e nesta data vai ter muitos lugares para viajar. Bem vindos ao dia criança!



Começando pela fábula da escritora Elleanor Hodman Porter, que há muitos anos escreveu a história de uma menina de nome Pollyana. Com seus onze anos de idade, Pollyana era uma garota diferente, que não se irritava, não perdia a paciência com nada que lhe acontecia, porque ela praticava o “jogo do contente”. Que era estar sempre com o otimismo aflorado, pois o que aconteceu poderia ter sido pior. Assim vamos esquecer que a crueldade existe e aquecer o nosso fogo contente e jogar com bastante otimismo, saudando nossas crianças, e devolvendo a elas o título de Futuro, não só do Brasil mas do mundo, nem que tenhamos que pegar carona com o Pequeno príncipe e vagar pelo universo afora segurando no rabo do cometa. Mas se, ainda assim, faltar algum motivo para enxergar o dia, vamos pedir licença a Maurício Druon e trazer para nossa ciranda Tistu o Menino do dedo verde. Sabem o que ele fez? Dormiu no primeiro dia de aula porque achou as aulas chatas e sem brincadeiras, então, seu pai, que tinha muito dinheiro e uma ma


nsão que chamava a casa-que-brilha, resolveu tirá-lo da escola e educá-lo em casa mesmo. Nas aulas, com o jardineiro Bigode, Tistu descobre que tinha o dedo verde e poderes excepcionais de tocar com seu dedinho em qualquer coisa e fazer nascer plantas e flores. Conheça, papai, os poderes de Tistu, e saiba que nossos pequeninos têm poderes tão excepcionais quanto o personagem. Precisamos é acreditar. E feliz dia das crianças para todos! Juntinhos, é claro.



* Aprendiz de escritor

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