Elza Beatriz Veloso Pompeu *
Quando criança, era comum em férias escolares os sobrinhos passarem férias em casa dos tios. Quando Dindinha comunicava a ida para a fazenda de Tio Farnôt, só se ouvia “Oba! Oba!”. Que alegria. Eu ia, pois aquela meninada companheira era tudo de bom! Como diria Cleusa com sua veia humorista: “Sô Fanô mais Dona Ita só têm a quantidade de um time de futebol de filhos e mais um de reserva”. Neusa, Cleusa, Marleusa, Marlene, Marilene, Marlúcia, Toninho, Wilson, Waldir, Wilton, Wellington e Roberto.
Tudo calmo, tudo mágico! O amanhecer com as galinhas carcarejando, galos cantando, pássaros piando e bois mugindo. A criançada, “todos anjinhos”, aos poucos ia despertando, cada uma em seu tempo. O desjejum era feito no curral para tomar leite tirado na hora. Depois era café com biscoito, queijo, pamonha e todas as guloseimas mais. O dia transcorria com algazarras e brincadeiras comuns da época como amarelinha, pique, esconde, passa anel, cavalo de pau, finca, bolinha de vidro, carrinho de madeira, corda, curral com bois feitos de manga e pés de palito, canções de roda – estas que hoje as escolas infantis estão resgatando.
É chegada a hora do almoço. A Pídia (Aparecida) falava: “é menino demais, Tia Ita” e contava a criançada para ver se não estava faltando, pois além das crianças da casa tinha sempre mais alguns primos. Gil e eu inclusive, que Dindinha (nossa avó Arminda Caldeira Veloso) levava por sermos “filhos” dela. Os anjinhos com suas caras limpinhas comiam de tudo que era oferecido e até hoje sinto o gosto bom daquela moranga com quiabo quentinhos!
À tarde, alguns anjinhos menores dormiam... os maiores... ah! Esses sim, aprontavam todas e mais algumas. O anjinho Wilson, ninguém ganhava dele nas peraltices.
Bom mesmo era à noite, no horário das histórias, do humor e das gargalhadas. Os causos... e que causos! Daqueles que os mortos se levantam das sepulturas. Na hora de dormir... ui, ai!... Mas dormíamos!
Hoje, passado longos anos, cada um no seu caminho, percebe-se claramente como a semente lindamente se frutificou. Alguns filhos moram fora de Montes Claros, mas lá estão eles, sempre marcando presença. Tio Farnôt e Tia Ita continuam, como sempre, nos recebendo de coração aberto e com todas as qualidades divinas que um ser humano possa ter. Se assim não fosse, suas famílias, filhos, netos não seriam tão bem resolvidos na vida. Os bisnetos ainda são “crianças” muito amadas.
Em uma das conversas que tive com Tio ele disse: “Mas, viu Elzinha... eu já tenho netos doutores. Eu nunca imaginei que eu fosse ver isso. Só tenho que agradecer”. Ele disse isso com tanto orgulho, com tanta emoção! A emoção do dever mais que cumprido.
Sentimos que essa linda família está sempre irradiando harmonia, carinho, alegria. Como diz meu sobrinho Daniel quando criança: “eu gosto de ir à casa de Tio Farnôt porque lá a gente nem precisa tomar refrigerante para rir”! E é com essa alegria e com muito amor que agradecemos a Deus o privilégio de tê-los como tios.
* Elza Beatriz Veloso Pompeu é montes-clarense e mora em Belo Horizonte. O texto foi escrito em janeiro de 2007 e somente exposto em julho, por ocasião do falecimento de Farnot Veloso, seu tio