Por Eduardo Costa
Dia desses perguntei ao professor de inglês, Leo Dutra, se não concordava que estamos vivendo um tempo esquisito, com muita conversa e pouca prática, muita promessa e nenhum compromisso, gerando ambiente de desconfiança recíproca, violência sem limites, bandidagem reinando, desrespeito vencendo a vergonha, e ele respondeu com outra pergunta: “por que, quando há um incêndio, o cego percebe?”. Respondi: “ele não enxerga, mas percebe, sente que o calor está aumentando, o fogo está vindo”. “É isso”, disse o Leo.
E eu concordo. Afinal, a desigualdade social só aumenta. Li texto de Paulo Nogueira anunciando que na Viacom, multinacional americana, o principal executivo ganhou quase 2 mil vezes mais que a média dos empregados em 2010, embolsando acima de U$ 80 milhões.
No mesmo país, a renda do 1% mais rico cresceu 275% entre 1979 e 2007, enquanto os 20% de baixo da tabela viram a renda crescer apenas 18%. Na Inglaterra, em tempos de crise, os salários dos que mandam cresceram 40% no ano passado.
E entre nós, no Brasil? Só vou ficar em dois exemplos: de uma só tacada, artistas da música invadiram o Congresso e conseguiram aprovar desoneração fiscal não apenas na área federal, mas, também, do ICMS, que é estadual, e do ISS, que é municipal, para produzir CDs e outras mídias. E, paralelamente, dirigentes de clubes de futebol estão pressionando Brasília, com a torcida de jornalistas ditos críticos das desigualdades, para conseguir novo refinanciamento de dívidas. Ou seja, pagam salários de R$ 100 mil a qualquer cabeça de bagre; R$ 300 mil, R$ 400 mil para alguns mais talentosos, mas não querem pagar impostos.
Colocam os jogos às 22h, cobram R$ 200, R$ 300 o ingresso, mas, quando apertados para pagar impostos, alegam que têm uma missão social.
E eu, que adoro música, fico me perguntando por que esses artistas que nunca cantam de graça na favela têm que ter benefícios fiscais sob a hedionda justificativa de que é para evitar a pirataria. E eu, que gosto do Galo, também do presidente Kalil, fico arrepiado de ver um movimento para que o dinheiro do Bernard venha intacto, embora meu time deva muito. Ah, se o admirável público pagador de impostos diretos e indiretos soubesse quanto ganham alguns que estão comendo e dormindo na Cidade do meu Galo...