Por Eduardo Costa
É realmente impressionante a distância entre o nosso Congresso Nacional e os anseios da população. Amanhã, trabalhadores de todo o país estarão nas ruas pedindo, entre outras coisas, que haja limites na terceirização. O Ministério Público do Trabalho tem autuado bancos e fortes instituições pelo abuso, mas, alheia às denúncias e queixas, a Câmara Federal deve aprovar hoje em uma das comissões um projeto que libera ainda mais a transferência de fazeres.
Gente muito mais qualificada que eu – caso de José Pastore, em recente artigo – sabe que nenhuma empresa dá conta de fazer tudo sozinha e, mediante a transferência de atividades não essenciais, ganha agilidade, aumenta a produtividade, lucra mais. No caso das estatais, eleva o custo de produção e afeta a qualidade dos serviços.
No dia a dia de repórter, sou obrigado a concordar se o Hospital de Pronto-Socorro e a Universidade Federal de Minas Gerais não fizerem concurso para porteiros e faxineiros. Os contratados seguramente farão o serviço melhor porque têm a prática e a instituição fica com o foco no que é essencial.
Ocorre que há permanentes denúncias de abuso, entregando atividade-fim a terceiros. No caso de Minas, as maiores queixas são contra a Cemig, que contrata eletricistas e (segundo o sindicato) aumenta o risco de acidentes, e a Fiat, que já está além de terceiros: segundo Marcelino Rocha, sindicalista, uma caixa de marchas colocada pela montadora foi produzida por três empresas diferentes, ou seja, já seria a “quarteirização”.
O diacho é definir o que é atividade-meio e atividade-fim. Por outro lado, trabalhar para quem não está no fim da cadeia é ficar em um segundo escalão. Experimente ir a uma fila de banco ou laboratório e dizer que trabalha na Fiat e, em seguida, ir a outro local e falar que trabalha na fábrica de bancos que fornece para a italiana.
Do salário aos benefícios indiretos, da assistência médica ao seguro de vida, do lanche ao clube de lazer, é tudo diferente. E, claro que convém à “nave mãe”, não apenas porque custa menos, mas, entre dezenas de outros motivos, porque desmobiliza... Dá para imaginar a diferença de repercussão entre uma greve de 30 mil ou 3 mil trabalhadores?
O pior é que o poder econômico manda, o Congresso vota e os que representam os trabalhadores sequer são chamados para conversar.