Tempos de indecências

Por Eduardo Costa

Jornal O Norte
Publicado em 01/10/2014 às 23:36.Atualizado em 15/11/2021 às 16:37.

Eduardo Costa

Como faz falta uma mãe na vida da gente! Não há um dia sequer em que não me lembre da minha, embora ela esteja no andar de cima já há quase cinco anos. Às vezes, no fim da tarde, chego a pegar no telefone para ligar e ver como ela está... Mas, sem dúvida, a frase dela que mais passeia por minha cabeça foi dita no Réveillon de 2001 e já escrita neste espaço por várias vezes. Quando a provoquei, lembrando-me de seu sentimento religioso preferido – “De mil passará, a dois mil não chegará” – ela, tranquilamente, me respondeu com uma pergunta: “E não acabou?”

Dona Miralda, como a senhora tinha razão! A começar pelo fato de que o Ebola, bendito vírus que prefere os pobres, já fez 4 mil órfãos em pleno século XXI. Pior, a senhora ouviu o que disse Levy Fidelix, um inacreditável candidato à Presidência na televisão, diante do Brasil inteiro? Vale a pena repetir, na íntegra:

“Luciana [Genro, candidata do PSOL], você já imaginou que o Brasil tem 200 milhões de habitantes? Se começarmos a estimular isso aí [casamentos entre homossexuais], daqui a pouquinho vai reduzir pra 100. Então, gente, vamos ter coragem, nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria . Vamos enfrentar, não ter medo de dizer que sou pai, mamãe, vovô. E o mais importante é que esses, que têm esses problemas, realmente sejam atendidos no plano psicológico e afetivo mas bem longe da gente, bem longe mesmo por aqui não dá”.

Tem base, dona Miralda, no ano de nosso senhor Jesus Cristo um homem presumidamente letrado falar uma coisa dessas para o Brasil inteiro ouvir? Alguém vai dizer que é o direito dele, estamos numa democracia etc. e tal, mas, não se trata de um posicionamento... É incitamento ao ódio. E digno de repreensão vigorosa, para não dizer criminalização. Mas, quando aumenta a saudade da minha mãe vem voz amiga da sensatez e lembra que todos nós temos a nossa hora e não seria inteligente prorrogar indefinidamente a estadia por essas terras. Afinal, quem daria conta?

Alguém aí pode considerar normal, aceitável, decente algumas campanhas que estão nas ruas? São várias de assustar. Tomemos como exemplo a do Tibé, que quer continuar na Câmara dos Deputados. O que esse moço está gastando é um espanto! No Estado inteiro, bandeirolas, cartazes, cavaletes e até alegorias... Sem falar que arrumou baldes de 20 litros de margarina industrial que, colocadas em fila, vão daqui ao Amazonas. No jornal de campanha, ele fala de três projetos de lei, sem detalhar como está a tramitação; destaca mesmo é a sua ação de despachante, levando dinheiro pra tudo: grama de campo de futebol, ambulância, ônibus escolar... A pergunta é: se um deputado ganha aproximadamente, líquidos, R$ 18 mil por mês, R$ 216 mil por ano e R$ 864 mil durante os quatro anos de mandato, por que diabos esse moço gasta cinco, seis vezes mais na campanha? E nós, não vamos fazer nada? É do jogo democrático? Ou dos tempos do faz de conta?

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