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Quarta-Feira,12 de Novembro

Sucessão presidencial

Jornal O Norte
Publicado em 10/02/2010 às 09:13.Atualizado em 15/11/2021 às 06:20.

Marcelo Valmor


Professor e articulista



As eleições para a presidência da república, em outubro próximo, prometem lances ainda mais interessantes do que os protagonizados pelo presidente Lula e sua candidata Dilma Rousself.



Em minha coluna Curta política, publicada às quartas e sextas feiras neste O NORTE, fazíamos previsão de que Aécio Neves seria o candidato do PSDB à presidência da república. Isso há quase um ano atrás. Pois bem. Diante dos elevados índices de popularidade de José Serra (PSDB-SP) e sua recusa em se submeter às prévias propostas pelo governador mineiro, Aécio teria retirado sua pretensão legítima de se candidatar a presidente.



Convocou a imprensa, leu e distribuiu uma carta na qual se afastava da corrida eleitoral de fim de ano. Mas em nenhum momento conclamava o povo mineiro a arcar com a candidatura Serra, recusando o conforto de vice na chapa do governador paulista, se lançando ao senado e correndo o estado com o vice-governador. Embolou a disputa estadual, já que está garantindo, à Anastásia, índices que, pelo andar da carruagem, tendem a lhe dar, sem sombra de dúvida, o controle do Estado a partir de 2011.



Isso é o que todos nós conhecemos. Mas algumas perguntas ainda não foram respondidas. Em primeiro lugar, será que Aécio costurou um grande acordo com o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT-MG) somente para entregar para Márcio Lacerda (PSB-MG) a prefeitura da terceira capital mais importante do país? Será que Ciro Gomes (PSB-CE) ataca José Serra porque vê no governador mineiro um candidato que ele possa derrotar mais facilmente numa disputa eleitoral? Por que José Serra ainda não partiu para o embate, polarizando a disputa e costurando acordos capazes de lhe garantir um mínimo de sossego quando os votos forem computados?



Apesar de não gostar muito do seu estilo, devemos reconhecer que o jornalista Cláudio Humberto sabe o que fala. Tem fontes confiáveis. Por isso mesmo, no último dia 07 foram publicadas algumas notas tentando dar conta desse imbróglio todo que envolve o PSDB e o PT. Sem exigir nenhuma moeda, disse claramente que o presidente Lula estaria irritado com Ciro Gomes, pois este, além de recusar a sair da corrida para a presidência, teria relações fortes com o governador mineiro, o que passaria por uma composição de chapa Aécio-Ciro Gomes. Isso talvez responda a nossa primeira pergunta, ou seja, Márcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte, foi a porta de entrada para a costura desse acordo. Portanto, ao tomar a prefeitura do PT e entregá-la ao PSB, Aécio estaria ali, naquele momento, pavimentando sua candidatura.



A nossa segunda pergunta está relacionada com os ataques de Ciro Gomes. De feio à incompetente, o ex-governador do Ceará se referiu à Serra e está, desde o ano passado, tentando conte-lo dentro das fronteiras paulistas, como convém a qualquer vice que se preze. Transferiu seu título de eleitor para São Paulo, e o ameaça com uma possível candidatura ao governo paulista, espaço mais do que tranqüilo para a reeleição do Serra. Enquanto Ciro bate, Aécio desconversa. É assim que funciona a política mineira. Daí que nem de longe ele estaria em concorrência direto com o governador mineiro.



Quanto a nossa terceira e última pergunta, caberia analisar o quadro político e econômico do país para podermos respondê-la.



As críticas mais contundentes em relação ao governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), que governou o país durante dois mandatos, foi de não ter olhado para os mais pobres. Seu governo fora muito mais identificado com as privatizações mal sucedidas e os escândalos de corrupção do que com o combate à inflação e a estabilidade financeira do país.



Não estamos, neste texto, fazendo defesa de ninguém. Mas duas medidas extremamente importantes para estabilizar a vida dos pobres foram tomadas ainda no seu governo. Em primeiro lugar o controle da inflação. Quem perde com os altos índices inflacionários são exatamente os assalariados. Quem tem capital costuma é ganhar com ela, como foi o que aconteceu com a ciranda financeira patrocinada no apagar das luzes do governo Sarney. Por outro lado, criou o bolsa família, que o atual presidente da república tratou de potencializar, ampliando o número de assistidos e revertendo isso sob a forma de votos, num apelo populista tão bem definido por Wanderley Guilherme dos Santos.



Que o presidente da república tem razão em aumentar o braço do Estado no sentido de garantir aos mais simples uma parcela dele não resta a menor dúvida. O Estado brasileiro, historicamente, tem corpo de gigante e braços de anão, alcançando somente os mais afortunados, os mesmos que sem terem um projeto para o país, preferiram as tetas públicas ao esforço contínuo e recompensador. Lula, com o bolsa família atinge a todos, mas se esquece de reverter esses “favores públicos” sob a forma de empregos para todos aqueles que estão à margem da civilização.



Portanto, se o governador paulista tentar embarcar de novo nessa canoa furada, ou seja, para uma eleição plebiscitária, vai dar com os burros n’água novamente. Possivelmente alertado por um assessor com um pouco de bom senso, leu a pesquisa do Data Sensus e já começa a pensar no governo paulista como uma possibilidade certa. Afinal, com Aécio na presidência, governaria o estado paulista, se transferiria para Brasília ao final do mandato e aguardaria o fim do governo para receber o apoio do ex-governador mineiro. Daí a sua incomunicabilidade nesse momento. Serra, além dos muros e das pedras, sabe que a única chance do PSDB voltar ao poder é com uma candidatura que seja o pós Lula, que o candidato tenha capacidade de conciliação, aglutinação e acordos. E isso o governador mineiro tem de sobra. Ou você pensa o contrário?

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