Bruno Peron Loureiro
Latino-americanista
Não se perdoa nem a chaga da divisão que há entre ricos e pobres, consumidores e não-consumidores, usufrutuários e destituídos, e se criou a tipologia das classes A, B, C, D e E. Alguns até acrescentam outras letras, pois crêem maior a divisão, enquanto emissoras de televisão, instituições de governo e pesquisas de mercado, opinião e padrão de consumo têm-se baseado nela.
A classificação básica é controvertida e se faz assim: classe alta (A), média alta (B), média (C), média baixa (D), e baixa (E). Na sequência: pessoas que vêm de família rica, profissionais bem pagos, pessoas com salários razoáveis, trabalhadores braçais, e miseráveis. Quando um não se encaixa em nenhuma delas porque é mais pobre que a B, mas nem tanto quanto a C, surge outra letra.
Uma das classificações existentes encontra-se na Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP). As demais discutem-se em foros virtuais, revistas e outros meios. Busquei algum padrão que especifique um número certo de letras, mas não encontrei. Cheguei à conclusão de que é mais fácil dividir a população em classes econômicas que em classes sociais, uma vez que esta é um conceito mal entendido.
É uma lástima, contudo, como se banalizam estas letras discriminatórias num país que tenta aproximar o pobre do rico, transferir renda aos menos favorecidos, e recentemente cobrar impostos de grandes riquezas. Não é um estímulo saber que sua classe é a D ou a E, muito menos que o carro que sai nos comerciais é projetado para as classes A e B. Fala-se de cisão quando a ênfase deveria estar na inclusão.
A inclusão social é um dos principais temas na agenda brasileira dos próximos dez anos. Ao mesmo tempo que se pressiona a favor da inclusão, forças retrógradas promovem a divisão em classes. Sendo assim, há os que pensam que é bom que sempre exista o comprador do carro velho e o do carro novo, o que se alimenta do básico e o que goza do supérfluo. O uso comercial da classificação entre classes A, B, C, D e E reflete isso tudo.
Deixo de falar sobre teorias de divisão em classes sociais, como a marxista. Inclusive essa divisão de letras se faz imersa na economia (propriedade de bens, uso de serviços, renda familiar), portanto mais como classes econômicas. Para alguns, a renda familiar é o principal critério de avaliação, como se isto determinasse também o comportamento, porque identifica o padrão de consumo ou o poder de gastar dinheiro. Quanto mais ganha, menos genéricos compra e mais se adere a marcas.
Os que têm capacidade de influir nas estâncias de poder para mudar a situação escondem-se em condomínios ou não se importam de pagar por planos de saúde, educação e segurança, que deveriam retornar dos impostos que todos pagamos. Ademais, as letras não dizem muito sobre a situação de uma pessoa ou família. Reduzem e categorizam. É fatalista que alguém saiba que está na classe E. Quem é que gostaria de sabê-lo. Melhor se nos contassem que estamos na A.
Letras são aquelas que saboreamos na sopa de letrinhas. Ou saboreávamos quando éramos criança. Assim como se tenta conjurar contra a divisão em classes por tantas e quantas políticas, outros a reforçam e reiteram pensando no passado. O sabor da sopa, pelo menos, dava bom apetite.