Sobre educação de filhos - por Antônio Augusto Souto

Jornal O Norte
Publicado em 21/09/2007 às 16:09.Atualizado em 15/11/2021 às 08:17.

Antônio Augusto Souto



Em crônica publicada neste espaço, há algumas semanas, falei que educação de filho é encargo exclusivo da família. Disse, também, que muitas das famílias modernas vêm negligenciando essa obrigação. Acham que a escola é obrigada a substituí-las. Estão enganadas.



Depois da publicação, veio-me à lembrança episódio recente que, talvez, pudesse exemplificar as opiniões e os conceitos que, temerariamente, ousei emitir.



Estava eu em dependência de hotel de praia, depois do jantar, à espera de anunciado show de capoeira e maculelê, quando  fui surpreendido por garotão de aparentes oito/nove anos, acompanhado de mulher, que me pareceu a mãe:



- Eu quero esse lugar! Sou hóspede!



Na hora, pensei em retrucar que eu também era hóspede. E daí? Cheguei primeiro, exerci meu direito de escolha e, ainda por cima, estava amparado pelo Estatuto do Idoso. Só pensei. Deixei pra lá. Ignorei-o e concentrei-me no espaço reservado ao show. A possível mãe o puxou pelo braço e foram acomodar-se, mais adiante, onde havia inúmeras cadeiras vagas. Antes de sentar-se, o garotão ainda berrou, olhando para mim:



- Mas eu quero!



Minutos depois e já com os ótimos capoeiras baianos em plena exibição, cogitei, comigo, se não teria sido mais  civilizado ou elegante eu ter franqueado a cadeira à mulher. Aquele negócio, leitora querida, de educação à moda antiga: cavalheirismo, a qualquer custo, principalmente diante do sexo oposto ou de pessoa mais idosa ou de gestante.  No entanto, logo desconsiderei a possibilidade. O gesto poderia ser entendido como aplauso à falta de educação do menino e da sua acompanhante. Afinal, ela não reprimiu, na hora, a idiotice da presumível cria; não lhe exigiu que me pedisse desculpa. E, ainda por cima, olhou-me feio, como se me censurasse; resmungou qualquer coisa, que não consegui decodificar. Balaio e tampa, corda e caçamba, filho de peixe...



Pode ser que o episódio que narrei tenha sido um caso isolado, uma exceção. Pode ser que a maioria das famílias ainda se preocupe com a educação doméstica dos filhos. Pode ser...



No entanto, entendo que filho que não é convenientemente educado, em casa, vai sobreviver, colidindo, de frente, com a sociedade. Vai bater e apanhar muito. Pode até virar milionário, atleta famoso ou empresário de sucesso. Mas será, sempre, um casca-grossa. Conheço muitos dessa espécie.



Por outro lado, conforta-me saber que meus netos (duas meninas, da primeira filha; dois meninos, da segunda) venham sendo educados em casa e à moda antiga: se algum ameaçou ultrapassar o limite, uma bela chinelada no traseiro, supressão de regalias, proibição de alguma coisa importante, por exemplo. Só exijo que o castigo não se aplique, na minha presença. E que não me chegue notícia dele. Educar não é propriamente atribuição de avô. De mais a mais, meu tempo de educador já é passado, como já é história o professor que fui, durante quarenta anos, oito meses e sete dias.



Que me perdoe a leitora psicóloga de crianças. Que me desculpem juristas e autoridades: alguma coisa do Estatuto da Criança e do Adolescente tem que ser mandada às favas. E com urgência.

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