Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves *
Quem acessar a internet, nos próximos dias, poderá saber, em detalhes, como cada senador aplicou sua verba indenizatória, de R$ 15 mil mensais, recebida para custear “despesas do exercício do mandato”. É uma agulha no palheiro das múltiplas despesas honradas (e/ou desonradas) pelos órgãos públicos. Mas representa uma bandeira de esperança, um começo realmente promissor, resultante da maciça pressão da indignada sociedade pela transparência nos ganhos dos parlamentares. Dependendo do grau de mobilização popular, em breve poderemos conseguir novos avanços e evitar que se cometam mais exageros e até safadezas com o dinheiro resultante de nossos sofridos impostos, que deveriam estar aplicados em obras de relevância social.
Não é só senador. Todo ocupante de cargo público – eletivo ou não – deveria ter seus ganhos divulgados transparente e detalhadamente para quem queira conhecê-los. Salários, vantagens, mordomias e outros quetais custeados pelo erário têm de ser do conhecimento da população, única dona e senhora de tudo o que é público. O povo tem o direito de saber, por exemplo, quanto se despende em manutenção de faustosos palácios e residências oficiais, em veículos e viagens, hospedagem, restaurante, cartão de crédito e tudo o mais que a máquina pública oferece aos seus privilegiados integrantes.
Se pensar bem, ninguém deveria ter direito a moradia funcional e nem a veículo de representação. Cada qual tem de pagar o seu, como faz o povo. As despesas de aluguel, manutenção, locomoção e outras deveriam ser cobertas pelos cobres públicos só para o estrito exercício das atividades, jamais para a moradia, o repouso ou lazer do governante, congressista ou alto funcionário. Essa “ilha da fantasia” ofende aos milhares de cidadão que enfrentam dificuldades para honrar seus modestos compromissos. Muitos passam até fome enquanto o seu dinheiro custeia as elites palacianas!
Justo e feliz será o dia em que o Brasil não tiver mais de pagar as despesas pessoais das autoridades. Quando cada um responder pessoalmente pelos seus gastos e o erário arcar apenas com o custo da atividade-fim. O presidente, governador, prefeito, senador, deputado, vereador e os altos funcionários que paguem as despesas de suas casas, vestimentas e as viagens com a família. E o cofre público responda apenas pelos gastos da atividade oficial, como ocorre com os executivos da iniciativa privada e todos os cidadãos que não estão pendurados nas tetas do poder.
Algumas notícias sobre mordomias e exageros palacianos vazam e escandalizam a sociedade. Mas o simples reprovar não basta. Todos os ofendidos precisam colocar para fora sua indignação, e pressionar para que nossa sociedade possa avançar e banir os maus hábitos. Os integrantes da casta político-administrativa da União, Estados e municípios devem mais respeito à propriedade pública. Em vez de tratá-la como “coisa de ninguém”, tem de entendê-la como “coisa de todos”, evitando utilizá-la de forma indevida, leviana ou imoral. Nem tudo que é legal é moral. Os que propõem ou elaboram as leis não podem perder de vista a única verdade que deveria vigorar no governo e no serviço público: todos que lá estão são “empregados” do povo e nunca foi atitude inteligente desafiar o patrão...
* Dirigente da ASPOMIL - Associação de assistência social dos policiais militares de São Paulo
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