Sem pai nem mãe - por Waldyr Senna Batista

Jornal O Norte
16/05/2007 às 09:45.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:04

Waldyr Senna Batista *

A questão dos buracos nas ruas de Montes Claros é tão complicada, que se torna difícil identificar a paternidade deles. Aliás, filho feio não tem pai. E, às vezes, até nem mãe. É o caso.

A Copasa, pelo seu superintendente, Daniel Antunes Neto, aponta a Esurb, empresa municipal por ela contratada, como culpada pelo serviço malfeito na restauração de valetas em ruas do bairro São José e no entorno da igreja Matriz. E a Esurb confessa a autoria de muitos remendos, mas em outros buracos, feitos pela Copasa, não os de que a empresa estatal a acusa. Esses, diz o novo presidente da Esurb, Marcos Maia, são das empreiteiras da Copasa, que implantaram novas redes de água nas áreas citadas, onde o asfalto está esfarinhando. Em mensagem dirigida ao montesclaros.com, a propósito da coluna da semana passada, ele até nomina as empresas culpadas: Construset, Entel e Integral – que seriam, portanto, as mães daqueles buracos.

Tratando deste e de outros assuntos, em correspondência dirigida à coluna, o presidente da Esurb discorre longamente sobre o acordo firmado pela atual administração com a Copasa, para implantação de avenidas, da ETE ( estação de tratamento de esgotos ) e da nova adutora do rio Juramento, de que se cuidou aqui. E nela ele afirma que o prefeito Athos Avelino tem todo o direito de fazer a divulgação que tem feito em relação a essas obras, porque foi graças ao empenho dele que o acordo com a concessionária estadual foi restabelecido e pôde ter sua execução iniciada. Quando o atual prefeito assumiu, diz ele, tudo estava paralisado em razão do descumprimento, por parte da prefeitura, de combinações assinadas na administração anterior. A situação era tão complicada, que “poderia facilmente levar o tema a um imbróglio jurídico”, diz a carta.

Marcos Maia relata entendimentos iniciados com a diretoria da Copasa, ainda antes da posse do atual prefeito, porque Athos Avelino sabia que a questão do esgotamento sanitário era gravíssimo, para cuja solução faziam-se necessárias a construção de novas redes coletoras em bacias isoladas e a ampliação do transporte através de interceptores nos córregos Bicano, Vargem grande, Cintra-Lages, Pai João e Vieiras, além da ETE. A Copasa, segundo ele, resistia, argumentando que sempre tivera prejuízo na cidade “e que a renovação da concessão não valia o que pedíamos em termos absolutos”.

A tensão verificada durante as conversações só se dissipou, conforme assegura o presidente da Esurb, mediante a intervenção do presidente da Copasa, Márcio Nunes, que “desautorizou publicamente seus diretores no encaminhamento das negociações”, numa reunião na casa do prefeito. Ele destaca, também, a atuação do Ministério público, que sempre se mostrou interessado em resolver a questão do tratamento do esgoto. Não cita nomes.

E volta a falar sobre a polêmica referente à autoria das obras em andamento: quem as executa?

Na sua opinião, é o município, tendo em vista que “os investimentos que estão sendo realizados são recursos do município, que há anos estavam guardados nos cofres da Copasa”. E enfatiza: “Ora, se a atual administração negociou com a Copasa e poderia ter firmado contrato com empresas privadas internacionais que à época manifestaram interesse na compra do sistema de fornecimento de água e tratamento de esgoto da cidade; se o município foi responsável pela elaboração de diversos projetos que até então não existiam, inclusive o da construção da estação de tratamento de esgoto; se a prefeitura foi responsável pela licitação, contratação e emissão das ordens de serviço e ainda fiscaliza e paga o trabalho executado, entendemos que a administração municipal é parte efetiva e fundamental para que os novos investimentos se tornem realidade”.

Na defesa da administração a que serve, Marcos Maia, que é do PT, refere-se com igual ênfase à instalação de gigantescos painéis promocionais da prefeitura nos canteiros de obras em execução. Diz ele: “Consideramos ser justo a prefeitura divulgar para a sociedade, seja com placas ou através de outros meios de comunicação, os investimentos que estão sendo realizados e que há décadas eram demandados pela própria população. Afinal, se por determinação do prefeito Athos Avelino não tivéssemos conduzido as negociações com a Copasa para o encontro de soluções definitivas para um problema que se arrastava há anos, certamente as obras ainda estariam fazendo parte apenas dos discursos políticos e eleitoreiros”.

Na correspondência há mais informações, inclusive sobre a buraqueira. Mas fica para outra ocasião. Por enquanto, fica entendido que os buracos que atormentam a cidade não têm pai nem mãe. Apenas existem. E proliferam, sempre que chuvisca.

* Jornalista


(Extraído do site www.montesclaros.com)

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