Saudades de Tim do Norte

Jornal O Norte
Publicado em 20/04/2007 às 11:29.Atualizado em 15/11/2021 às 08:02.

Gilson Nunes


Jornalista


e-mail:


gilson.nunes@yahoo.com.br 



Ele se chamava Juscelino. Morava no Bairro Santos Reis, sozinho, pois há pouco tempo perdera sua super estimada mãe. Era conservador, bem humorado, amigo, atencioso, respeitador. Chegou a Montes Claros na década de 70, como vendedor do Baú da Felicidade. Por pouco não fez parte da minha família, literalmente, pois namorava com minha irmã à época. Porém, por vontade dos desígnios do destino, pelo valor carismático que sua personalidade expunha e, ainda, pela vontade dos sentimentos que somente são possíveis serem aflorados por intermédio do coração, ele era, sem dúvida nenhuma, um dos meus irmãos mais queridos. Estou falando de Tim Maia.





O nosso Tim do Norte, como gostava de ser chamado, era pessoa de bem e, sobretudo, um grande artista montes-clarense. Tim animou todos os ambientes por onde passou. Como ninguém, era o único que eu conheci, em toda a minha vida, capaz de produzir música ao estilo MPB swingado, do tipo Wilson Simonal, o próprio Tim Maia, também falecido, Jorge Ben Jor, Ivan Lins, dentre outros. Era, na verdade, um repentista da MPB.





Tim morreu em sua humilde residência, sentado em sua poltrona, como se estivesse atendendo a algum tipo de chamado (provavelmente de sua mãe). Digo isso porque a afinidade com que tratava sua mãe era qualquer coisa além do normal:





– Mãezinha, está tudo bem com a senhora? A senhora não está precisando de nada? Mãezinha, eu estou indo tocar e não devo demorar, viu? Fica com Deus.





Quantas vezes eu vi Tim referir-se a sua mãe assim, com todo esse zelo!





Tim, ao contrário do que muita gente pensa, não era beberrão, cachaceiro, boêmio, embora seu sustento fosse durante a noite. Nem precisa dizer que era bom filho.  É claro, e isso faz parte da vida de todo o mundo, gostava sim de tomar uma cervejinha, mas nada que o deixasse descontrolado, bêbado, desgovernado. Tanto que nunca ninguém precisou levá-lo para casa por conta da bebida. Tim nunca mexeu com qualquer tipo de droga, seja por consumo ou tráfico.


Montes Claros perdeu um grande artista.





É inadmissível que tenham deixado Tim do Norte morrer a mingua e, o que é pior, feito indigente. Onde estamos? Onde estão os exploradores que sabem procurar os artistas para fazer shows durante período de campanha política? Onde estão esses abutres? Esses verdadeiros canalhas que só pensam em si mesmos? Cambada de egoístas, lama podre da sociedade.





Montes Claros ainda tem muito a ensinar a esses cães.  A classe artística de Montes Claros não deve ficar parada, aceitando de braços cruzados a ironia dos poderosos. A poesia se enclausurou de tédio, de vergonha, da mesmice da contemporaneidade de seus versos, abalando a tragédia num drama enfadonho.





Tim, eu sou seu irmão e vou lembrar de você sempre. Dos bons momentos de felicidade que você me proporcionou, ao meu pai e meu irmão Pedrinho, também falecidos. Sei que a chama de sua criatividade musical vai ecoar por muita gente que, assim como eu, te admirava e vamos continuar admirando. Que Deus o acolha com o devido valor que você merece, que ele o abençoe e te proteja. Amém!

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