José Wilson Santos
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Se você acha que o barato de falar gíria é coisa nova, tá muito enganado, Índio Velho. Elas apenas mudam a seu tempo. Há trocentos anos neguinhos noiados reinventam palavras joiadas pra definirem situações de uma maneira bem peculiar, mundo afora, criando um padrão de comunicação que não está no gibi.
Sacumé?
Saca só: nova novela global das sete mergulha nesse universo, colocando uma pá de bichos grilos ablando coisas do tempo do onça — do arco da velha —, assim, na lata, nos lembrando o quanto já fomos bons em inventar palavras próprias de nossa época.
Particularmente acho beleza pura, tá ligado? E sou adepto. Tem hora que a bagaceira requer uma palavra in, porreta, de responsa. Uma a uma elas vão montando um pai dos burros diferenciado pra dedéu, entendeu, sangue bom?
Agora, dá zebra se o cara não for antenado, não sacar de zoeira, ficar tipo assim só no papo cabeça. Aí fica a ver navios, numa de horror, sem entender patavinas, bulhufas. É de pirar o cabeção mermo, porque o trem parece coisa de marciano, manjou?
Pra quem é lerado essa linguagem peculiar é uma boa, mas quem é mané dança, porque o trem não é melzinho na chupeta não. Bobeou, leva um creu, sifu.
Já foi o tempo em que gíria era considerada coisa de malaco. Mas ainda hoje alguns bocomocos não atinam que é limpeza e que cada juventude e região tem as suas. São uns marrecos que não pintaram na área, não entendem xongas e acabam levando prego e toco da galera.
Boa parte do legado veio dos ripongas, copiou? Aqueles caras do faça amor, não faça guerra. Eram biscoito fino, uma brasa mora, e deram contribuição veris porreta à massa.
Além de soltarem as amarras da língua, convenceram os brotos a liberarem geral, pra desespero dos quadrados.
Só, meu! Depois disso passamos a nadar de braçada.
Com o tempo as minas foram de brotinhos a cachorras e os chuchuzinhos tomaram mais gosto ainda pela cerca. O cardápio variou barbaridade. Pintaram melancias, melões, peras, moranguinhos. E nós na fita, mano, no só love.
Quem tem mais agá, um xaveco jóia, jogo de cintura, passa a régua mais facilmente, como diria dom Clóvis. Aí é pimba na gorduchinha, correr pro abraço.
Só no sapatinho, na moita, como todo bom comiqueto. O trem é bom pacas.
Caracas, dom! Manero.
Então, tô na área. Se derrubar é pênalti. Chacomigo, que se bobear dou o maior calor, um grau, um trato. É só pintar no pedaço. Mando ver numa boa, sem bronca nem caô, na maior limpeza, tá ligada? O Degas aqui é mó responsa, falou?
Claro, ando com a língua meio enferrujada. Não tenho praticado muito. Boa parte dos meus pares saiu do ar, está desligada, nem aí pro palavreado de uma adolescência que virou a curva faz tempo. Receio que depois da forca e dos nossos próprios catarrentos, a gente vira babaca. Não sem antes fazermos a molecada que assume nossos lugares também na criação de sua própria forma de expressão, reinventando a seu tempo uma maneira bem peculiar de se comunicar.
Não fosse isso, era bem capaz de o Degas aqui noiar e formar um texto quase que à base de gírias.
Sacumé, dom?