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Segunda-Feira,7 de Julho

Rua Quinze

Jornal O Norte
Publicado em 25/02/2011 às 10:01.Atualizado em 15/11/2021 às 17:22.

Alberto Sena (*)



FaceBook é ferramenta de comunicação eficiente. Tem provado isto até ao ajudar a derrubar governos mundo afora. Além de ser lúdico, permite-nos desenvolver os aspectos político, socioeconômico, cultural e ambiental dependendo do gosto de cada um.



Entre montesclarenses - sem hífen, segundo a escritora e historiadora Virgínia Abreu de Paula - se criou algo interessante: a República do Pequistão, constituída de um número crescente de mais de dois mil pequistaneses, pois assim são chamados os cidadãos e as cidadãs contumazes e empedernidos roedores de pequi.



O nome República do Pequistão foi invenção saída do departamento de capricho do intrépido Tino Gomes.



Na semana passada iniciamos no FBook o que chamamos de tiroteio de lembranças sobre a Rua Dr. Santos e isto mexeu com muita gente. Foi como sacudir a água dum lago com a mão, com direito até ao ruído característico.



Houve interatividade. Duma hora para outra se pôde quase trazer de volta a realidade das décadas de 1960/70 vividas, quando a Rua Dr. Santos era a principal artéria da cidade.



Nesta semana a reconstituição foi sobre a Rua Quinze, famosa, que mais tarde trocaram o nome dela para Rua Presidente Vargas e perdeu o charme, a brilhantina e a água de colônia de então.



Para muitos, na Rua Quinze, onde à noite era o footing da moçada, acontecia verdadeiro desfile de jovens no esplendor da juventude. Na década de 50, ali era a síntese do mundo.



Pouco posso falar da Rua Quinze, porque era menino, mas não me cansava de ouvir falar dela em casa. Ouvia as irmãs se aprontarem para, às escondidas de pai, irem à Rua Quinze.



Nessa época, a família morava na Rua Marechal Deodoro, atrás da Praça de Esportes, aquela casa exaltada aqui porque tinha quintal mágico, misterioso - codorna e coelho podiam sair duma moita de mato a qualquer momento. 



Na época em que a Rua Presidente Vargas era Rua Quinze, nela transitei a caminho do Mercado Municipal de mão dada com pai. Era aquele casarão que tinha no alto um relógio cebolão parecido com o cebolão que pai tinha na algibeira. Isto mesmo, falava-se assim: algibeira. A palavra pode ser feia, nem gosto dela, mas tudo pela fidelidade da informação.



Esse tiroteio sobre a Rua Quinze busca preservar a nossa memória e a memória da cidade. Montes Claros nem sempre foi assim, como a enxergamos hoje, linda e enorme por um lado, violenta e barulhenta por outro, culpa do progresso e do desenvolvimento, o bem e o mal que vieram na bagagem de gente de toda parte do País.



O resgate da memória da cidade pode mostrar ser possível a Montes Claros iniciar novo tempo de paz e de compreensão entre as pessoas. 



Assassinatos, assaltos, furtos, tudo isto já acontecia em todos os tempos. A diferença, hoje, é a constância, a intensidade e o crescimento dos números nas estatísticas do crime.



A violência faz as pessoas se refugiarem em casa. Cada vez mais se pratica a individualidade. Mas o tempo paz e amor não passou. Precisamos pelo menos tentar relançar essa moda no cotidiano. 



A Rua Dr. Santos e agora a Rua Quinze são exemplos da rica história da cidade. O cronista, escritor e jornalista Raphael Reys foi quem promoveu o tiroteio da Rua Quinze nesta semana, no FBook. Foi tanto disparo que fizemos uma viagem.



Ele se recordou até de Mundinho Atleta - lembram-se dele? Mundinho era divertido porque se achava o suprassumo da inteligência e da cultura política, no bar de Zim Bolão.



Tudo isto faz bem a memória. Funciona como lubrificante dos escaninhos de lembranças. Com o passar dos anos nos prova: quem cuida da cabeça tem memória boa. Inda mais se contar com a força de Raphael Reys, que nos dá uma canja do que vem por aí ao falar do Big Bar, o point dos rapazes na Rua Quinze.



- Lá não entrava senhoritas. Era clube do Bolinha frequentado por jogadores e torcedores do João Rabelo, conhecido como As Viúvas, dado a camisa preta. A escalação do time na época de ouro era: Tú Peixoto, Alair Almeida, Milton Ramos, Expedito Guarinelo, Danilo Macedo, Edgar, Vivaldo; Moacir, Milton, Muriçoca e Julião. O Técnico era Curió. No Big Bar se fabricava o famoso picolé holandês nas cores rosa e branco, uma delícia servida no palito!



(*) Jornalista e escritor

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