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Quarta-Feira,15 de Janeiro

Retrospecção

Jornal O Norte
Publicado em 01/01/2010 às 19:19.Atualizado em 15/11/2021 às 06:15.

Márcio Adriano Moraes


Professor de Literatura e Português


marcioadrianomoraes@yahoo.com.br


 


Arquivam-se na caixa azulenta das navis humanas os gozos e iras de momentos singulares e plurais. A carga inicia-se com as portas januárias e se prolongam por doze conjuntos de trinados com um dueto oitavado e encerra-se na décima instância cuja natalina criadora é o destaque. E, justamente nesse momento, o corpo já surrado pelas horas vividas pede paz e embriaguez. As campanhas enchem copos, pratos e agasalham uns aos outros, ainda que existam desgalhados. E, até o último segundo desse velho, promessas de nova vida, de ser melhor no vindouro, tudo feito com trajes alvos e estouros vinhais; abraços e o slogan: Feliz Ano Novo.



E assim os acupuntores e médicos esperam ver as agulhas sendo usadas para curar enfermidades do corpo e da alma. Crianças não sejam costuradas nem molestadas, muito menos expostas a uma jovialidade precoce em passarelas que não haja brinquedos; cúmulo da vaidade mirim.



Fiquem no ar os helicópteros de nossa guarda e que não sejam forçados a posar em nenhum jornal ensanguentado. Também não pousem nos mares aeronaves, e bancos não sejam assaltados, mas assentados. Preparem-se apenas para saltar obstáculos olímpicos, sem a modalidade de desvio de balas nem de moedas. Estas que abandonaram há muito os colchões para se aconchegarem em cantinhos mais quentes e úmidos, cuecas e meias. Sena do familiar; go verno estatal não primaveril, propina e propano aquém e além sal.



Espirros mundiais sejam apenas gripes humanas, e que suínos e bovinos estejam nos campos e ceias. E vacinas sejam criadas para amenizar a coriza e outras cores não tão lisas, ásperas que agarram o corpo para apodrecê-lo. Mas não se exterminam caranguejos assim, os quais se escondem bem no fundo dos mangues. Por isso, proibições benéficas, preventivas, ainda que não compreendidas, são bem louváveis: não piquem os fumos e toquem a juventude.



Governem as nações todas as cores, negras, brancas e juntas façam do mundo uma bela íris que arqueie a humanidade de humanidade. E ainda que sejam mudadas as cores do corpo não percam a sua essência mesmo depois da vida. Sejam tocadas todas as teclas do piano, pretas ou brancas, e que o som pop de um thriller não assuste tanto quanto a real ganância humana.



Passeiem os vestidos e saias róseas por corredores adequados e não provoquem a virilidade masculina e não desconcentrem mestres educadores. Segurar flácido todos os membros é uma necessidade fisiológica para não agredir ou expulsar uma tentação dita inocente. E no ambiente escolar volte o respeito e a dedicação ao estudo. E que se pare com esse paternalismo fictício de que os conteúdos são meras diversões e que não há bombas nesta batalha que prepara crianças para a verdadeira guerra do trabalho.



E por fim, que a mente humana tão criativa e reprodutora das culturas e histórias antigas transporte para a realidade os seus sonhos, ainda que forçados. A natural seleção apontou o homem para sobrepor às feras e seivas, mas essa mesma seleção pode-se contrapor. As navis humanas não são tão azuis e não possuem cabos conectores com plantas ou animais, pelo contrário é manchada de carbono, bem cinza, que se espalha no ar e aquece o orbe.



O slogan ainda é válido, mesmo sabendo que não haverá tanta diferença no próximo ano. E se houver a possibilidade de novos acordos, sejam eles acordados, despertos do sonho que não pode ser concretizado sem reais ações. E a maçante frase seja dita, mas sem esquecer Schopenhauer: “A nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos”.

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