Dário Teixeira Cotrim *
Escreveu o erudito historiador Sérgio Buarque de Holanda o influente livro Raízes do Brasil na década de trinta. Teve este livro uma preocupação de descrever as origens do Brasil sem repetir citações ou análise dos historiadores de uma mesma época ou de épocas antepassadas. A condição libérrima de Casa-grande e Senzala, de Gilberto Freire, foi o ponto culminante onde o livro Raízes do Brasil pode se colocar em frente dos críticos brasileiros. Aos estudiosos forneceu citações importantes para compreenderem melhor o sentido de certas posições políticas e sociais do Brasil. Raízes do Brasil tornou-se uma novidade historiográfica que vem perpetuando até os dias de hoje.
A inversão da escrita ao longo dos anos se justifica para os meios e os fins que são desejados. O resultado não poderia ser diferente. Assim surgiu, para glória de todos nós, o livro Raízes de Minas do mestre Simeão Ribeiro Pires. O que muitos de nossa geração devem a Sérgio Buarque de Holanda e tantos outros de sua época, foi a oportunidade de ter lido livros da estirpe de seus escritos.
Sabidamente os historiadores atuais vão procurar subsídios na obra de Sérgio Buarque de Holanda. Foi o que fizemos ao escrever a História Primitiva de Montes Claros e foi o que fez o doutor Simeão Ribeiro Pires ao produzir o magnífico livro Raízes de Minas.
Animado por um espírito irrequieto e muito vivo, além de permanecer consciente de suas limitações, o doutor Simeão Ribeiro Pires rabisca com esperança as primeiras informações de Raízes de Minas. No seu contexto se justifica o título que recebeu, talvez por ser o mais histórico dentre os seus escritos históricos.
E foi por isso mesmo que o livro Raízes de Minas foi premiado com a medalha “Diogo de Vasconcelos” através do Decreto número 17.417, de nove de outubro de 1975, pelo então governador Aureliano Chaves. Naquela oportunidade diz a comissão em seu relato: “O que, desde logo, ressalta é a novidade do assunto, nunca antes assim extensamente tratado: o latifúndio de Guedes de Brito, Nunes Viana, a Guerra dos Emboabas e a penetração baiana. Depois, cumpre louvar a intensa consulta às fontes primárias, compulsadas até em arquivos portugueses e ultramarinos, além do proveito que soube dela tirar”.
A escrita do nosso ilustre professor Simeão Ribeiro Pires, a sua capacidade de nos fazer entender sobre a condição histórica de Minas Gerais, que tanto pode se elevar didaticamente como afundar na ignomínia dos injustos é algo que não pode ficar distante dos nossos olhos. Enfim, poderíamos até dizer que o livro Raízes de Minas, de Simeão Ribeiro Pires, fosse um complemento histórico de Minas Gerais na obra Raízes do Brasil. Mas isso não é verdadeiro.
É inverossímil porque as conclusões definitivas do professor Simeão bastam para distanciá-lo da obra de Sérgio Buarque de Holanda. O que há, entretanto, é uma semelhança dos assuntos ali abordados, assim como fizeram João Camilo de Oliveira Torres, em História de Minas Gerais; Diogo de Vasconcelos, em História Antiga de Minas Gerais; Augusto de Lima Junior, em A Capitania de Minas Gerais e, do mesmo modo, podemos dizer que Hermes de Paula, Nelson Viana, Urbino Viana e tantos outros que registraram fatos de nossa história.
Bem lembrou o cônego Aderbal Murta de Almeida: que é no sacudir da carroça que as abóboras se acomodam. Foi assim que nasceu a História Primitiva de Montes Claros. Deveria o livro se chamar Raízes de Montes Claros pelo estilo e pelos assuntos ali abordados. Entretanto, preferimos o primeiro nome, até porque, o entendimento para o que se quer seria mais lógico para todos. Ficam para o leitor, especialmente para aqueles ligados às coisas do nosso passado histórico, essas provocações que mui objetivam o enriquecimento e a ampliação da belíssima história de nossa querida cidade de Montes Claros.
* Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e de Montes Claros