Por Patrícia Gomes
Ela acorda, ele acorda também. Os dois conversam, namoram, se levantam. Num dia de folga, a vida se resume a um pouco de paz.
Horas mais tarde, quando a preguiça já começa a incomodar, ela resolve se olhar no espelho. Meu Deus! Que cara é esta? O cabelo despenteado, como um ninho de pássaro, segue um sentido desconhecido. Cada mecha para um lado, numa sinfonia desgovernada. Passar o pente não adianta, mas ela tenta. O que estava ruim, consegue piorar.
Ela repara na pele. Um espinha lhe salta da testa, umas manchinhas ganham destaque nas bochechas. Não vai passar maquiagem, não faria qualquer sentido. Imagine, perder seu tempo pintando o rosto para ficar dentro de casa! Lava a face e mantém a expressão meio cansada, meio aliviada de quem, só hoje, não precisa trabalhar.
As unhas estão por fazer. Ontem mesmo ela retirou o esmalte vermelho, prometeu que hoje passaria no salão. Mas... Sabe como é, né? Deitada na cama, ela faz e refaz o cálculo do tempo que gastaria para ir ao salão de beleza e decide permanecer naquela posição.
Fazia um friozinho gostoso, daqueles que nos impedem de dar as caras na rua. Ela calçou meias de lã, calça de moletom, blusa surrada e se enfiou de novo debaixo do edredon.
Eis que reaparece a outra metade do casal. Da porta do quarto ele sorri e diz: você está linda! E ela percebe, naquele momento, que nada no mundo é mais libertador do que o amor. Amar é quando a gente pode ficar feia porque, mesmo feia, a gente continua linda!
