Que relação o clima tem com nossa alimentação?

Jornal O Norte
Publicado em 19/01/2009 às 10:45.Atualizado em 15/11/2021 às 06:50.

Natasha Campos


Estudante de jornalismo em Belo Horizonte



Segundo especialistas, uma das principais causas da crise mundial de alimentos é o aumento do crescimento demográfico e consequentemente o aumento da demanda por alimentos, especialmente em países emergente como a China, a Índia e o Brasil. Os dois somados são alguns dos principais fatores que influenciam a crise. Com a relativa estabilidade econômica dos últimos anos, a população elevou seus níveis de consumo e alterou o padrão alimentar, ao passo que a produção não acompanhou o ritmo. Resulta disto uma baixa no nível dos estoques de alimentos, causando um grande desequilíbrio entre a oferta e a procura. A diretora-executiva do programa mundial de alimentos (PMA), Josette Sheeran, afirmou, em abril de 2008, que as reservas de alimentos atingiram seu nível mais baixo, considerando os últimos 30 anos, mesmo com o crescimento populacional em 2007.



Fator relevante à crise de alimentos são as mudanças climáticas desfavoráveis que vêm afetando a agricultura em diferentes níveis em todo o mundo. Secas e chuvas intensas comprometem a produção agrícola sendo responsáveis pela redução na quantidade de alimentos produzida no mundo. Outro elemento que concorre para a crise é a alta do petróleo, já que o combustível está diretamente relacionado a recursos como máquinas, equipamentos, fertilizantes e transporte. Isso gera maiores custos na produção e distribuição agrícola, encarecendo o produto final.



Um estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostra que se nada for feito para conter o aquecimento global, a produção de alimentos do Brasil pode tomar um prejuízo de quase 8 bilhões de reais em 2020. A situação ficará ainda pior em 2070, quando as perdas devem quase dobrar, chegando perto de 14 bilhões de reais. As plantações mais afetadas serão as de soja, que poderão perder até 40% da produção. O sul do Brasil é o celeiro agrícola do país: entre 2004 e 2006, Santa Catarina acumulou um bilhão e meio de reais de perdas e prejuízos na lavoura, e o Rio Grande do Sul, três bilhões. Para quem viveu na lavoura a vida inteira, ver milhões de reais investidos em safras perdidas pela seca é lastimável, triste. Com a quebra de safra, os estoques foram reduzidos e agora estão perigosamente baixos devido ao aumento no consumo. Se hoje a agricultura é o carro-chefe da economia, a esperança é que a atual crise alimentar não prejudique a maneira de plantar e cultivar em um país de trabal


hadores que fazem o sustento da lavoura brasileira.



O Protocolo de Kyoto, assinado em 1998, no Japão, que entrou em vigor em 2005, é a medida mais famosa da ação global que visa minimizar as consequências causadas pelas mudanças no clima. O documento assinado naquela cidade teve a adesão de diversos países, que têm como meta reduzir a emissão de gases poluentes em 5,2% entre os anos de 2008 e 2012, a qual é a primeira fase do acordo. O Brasil é o quarto país do mundo responsável por lançar gás carbônico na atmosfera, devido ao desmatamento da Amazônia, através das queimadas e derrubadas da floresta. Se excluirmos o desmatamento da Amazônia, o Brasil contribui apenas com 1% para emissão de gases efeito estufa na atmosfera. O desmatamento da Amazônia tem 25% de responsabilidade sobre o problema do aquecimento global no mundo.



Em torno da idéia de sustentabilidade, a busca de soluções deve ser imediata porque milhões de reais são investidos na preparação do solo, plantio, cuidados e colheita, e a população mundial e brasileira precisa de alimentos bons e baratos. Mas existe o quadro de mudanças climáticas nos trazendo alimentos ruins e caros: são mais pragas, tem amadurecimento antes do tempo e inversão de condições climáticas para alimentação.    



Isto repercute em toda a cadeia econômica até a compra do produto final no supermercado, nas feiras e assim por diante. Encarecendo o custo de vida em nosso país, onde ainda existe a luta contra a pobreza, fome, miséria, violência, desigualdade social de baixa renda, isso é realmente chocante porque o Brasil é conhecido mundialmente por ter abundância e variedade na alimentação, que é barata. Permanecendo este quadro climático, encontraremos em nosso dia a dia menor variedade, menor qualidade e uma elevação nos preços dos alimentos – é a chamada crise mundial de alimentos. Se a humanidade não reduzir em 50% as emissões de gases poluentes na atmosfera, os cálculos realizados pelos cientistas indicam que a temperatura pode subir cinco graus. Vamos ter que nos preparar para nos adaptar sem a falta de água e levar água para regiões que não a possuam.



Os governos no mundo inteiro também devem priorizar a busca de soluções, porque o Brasil é uma superpotência de vento e sol para geração de energia eólica, solar, e produção de biocombustíveis que atende suficientemente a nossa necessidade de energia. É preciso investir em energias alternativas e renováveis. Tecnologia existe; faltam investimentos e pesquisas.



Nós, cidadãos comuns, podemos e devemos fazer a nossa parte nos unindo e nos transformando em sociedade civil organizada através de movimentos estudantis, criação de Ong’s para conhecer nossos direitos, e investir em projetos de lei; devemos da mesma forma denunciar desmatamentos. A população pode e deve assumir o papel de consumidor ecologicamente correto em qualquer compra, como não comprar madeira e exigir procedência da mesma se for necessário comprá-la, não comprar derivados do petróleo e substituí-los pro outros que causem menos impactos e etc. A reciclagem do lixo é outro ponto que precisa ser considerado por toda a cadeia de consumo, desde o governo até o cidadão mais simples. Qualquer ação, por mínima que possa parecer, influenciará, positiva ou negativamente, no futuro do planeta. Precisamos acordar e colocar em prática todas as ações possíveis, pois sabemos que o aquecimento global é irreversível e o planeta em que vivemos nunca mais será o mesmo.

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