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Sexta-Feira,18 de Outubro

Que lista estranha - por Georgino Jorge de Souza Neto

Jornal O Norte
29/05/2007 às 10:20.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:05

Georgino Jorge de Souza Neto


O Filho

Eu sei que vão falar que é assim mesmo, que toda lista tem as suas falhas ou até mesmo incoerências. Sei que vão falar também que a minha indignação tem motivação genética. E ainda vão falar que sou mal-agradecido, pois o nome do Coronel está lá, devidamente registrado, com justiça e louvor. Pois bem, podem falar. Mas nada, absolutamente nada, me convencerá da ausência de um nome nesta lista dos 150 nomes mais marcantes nestes 150 anos de nossa querida Montes Claros. O nome de uma pessoa que contribuiu, e contribui, de forma singular, para a imprensa desta cidade. Uma pessoa que é chamada pelo genial Konstantin Cristoff de meu gênio predileto.

Artista plástico de notável sensibilidade, convertida às vezes (quando a natureza indolente permite) em obras belíssimas. Professor da UFMG, colaborou com o desenvolvimento desta cidade como poucos. É verdade que não é da elite. Não possui empresas e nem contribui para o aumento do ICMS do município. Nem ganha a vida a puxar saco de madames pomposas da nossa high society ou de políticos que se comprazem com esta maldita prática. Não ocupa cargo público relevante.

É fumante, o que o coloca numa posição desconfortável diante de boa parte das pessoas saudáveis que o cercam. Toma, diariamente, as suas doses de cachaça, embora não devamos chamá-lo de alcoólatra. Em seus cinqüenta e oito anos de vida, sempre caminhou reto, e embora tenha o hábito de andar com a cabeça baixa, como um boi sonso, nunca se curvou pra quem quer que seja, à exceção justificável do Coronel. Não matou ninguém, ainda que tenha tido vontade e não o tenha feito por absoluta falta de coragem.

Essa pessoa não está entre os 150 nomes mais importantes da nossa cidade. Essa pessoa é a mesma que escreveu Montesclareou, hino não oficial adotado como legítimo por nossa gente. Estranhamente, foi ignorado. Um negro, um brasileiro, um mineiro e acima de tudo um montes-clarense. Porque, por mais que o ignorem (estranhamente), o seu amor por esta terra se demonstra incondicional, como a um filho querido.

Autor de um texto que não deixa nada a dever a um Rubem Braga, um Ubaldo Ribeiro. Costumo dizer que ele não se tornou um dos grandes por opção, não por falta de condição. Resolveu nos brindar com sua genialidade em espaço reduzido, e se tornou poeta local, artista local, letrista local, romancista local, gênio local. Resolveu, por opção, despejar sua sensibilidade apenas sobre a terra que ama, Montes Claros. A mesma terra que o ignora (estranhamente).

Ultimamente tem escrito em um jornal de oposição à atual administração. Posso afirmar, com absoluta convicção, que jamais agiria a mando de alguém. Apenas tem o hábito (perigoso, devo dizer) de soprar verdades. Mas prefiro acreditar que a sua posição em relação à administração não tenha influenciado na ausência do seu nome na lista. Seria muita canalhice. Prefiro acreditar que as pessoas que escolheram os nomes simplesmente não o conhecem bem. Desconhecem a sua genialidade, que ainda será devidamente revelada. E conhecem méritos em outros tantos nomes que, sinceramente, desconheço.

Mas, quem sou eu afinal para ousar questionar qualquer nome, não é mesmo? Pois bem, sou o filho. O filho indignado de Georgino Júnior, o maior escritor vivo desta cidade. Ele não diz, mas se sentiu traído. Traído pela gente desta cidade, que ele cotidianamente dedicou sua inteligência e sua sensibilidade.

Na minha lista, que não vale nada pra quem manda nesta cidade, você é nome certo. E não porque é meu pai. É por você ser quem você é. Maior. Agora, sinceramente, uma lista de 150 nomes que marcaram a história de Montes Claros que não tenha o nome de Georgino Júnior é uma lista incompleta. Uma lista tendenciosa. Uma lista que não se pauta pela imparcialidade. Uma lista que eu pego, amasso e jogo no lixo, com respeito a tantos nomes notáveis que nela estão. O que eu sei é que, no fim, não há lista que substitua a história! Aí, então, tenha a certeza de que será eternamente lembrado, meu pai e meu gênio predileto.

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