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Segunda-Feira,9 de Junho

Quando cai a máscara

Jornal O Norte
Publicado em 01/02/2010 às 12:07.Atualizado em 15/11/2021 às 06:19.

Alice Ramos 


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O ano que principia parece a todos auspicioso, para usar termo da moda, neste cabalístico 2010, o ano em que o Brasil entrará definitivamente na era da modernidade. Quem assistiu ao filme Avatar neste início de ano, não pode ter deixado de sentir a mesma sensação que acometeu os apreciadores do cinema quando da transição do filme em preto e branco para o colorido.



Neste ano de 2010 nos deparamos com uma estonteante enxurrada de novidades, dos televisores de LED e 3D aos super smart phones, ao barateamento e sucateamento tecnológico cada vez mais célere, da sobreposição de tecnologias em uma velocidade muito superior à nossa capacidade de assimilá-la.



Ora, não é sem um certo constrangimento que aqueles que compraram um Televisor de Plasma há apenas alguns poucos anos por 20 ou 30 mil reais, agora vêm este mesmo televisor ser vendido por uma mísera fração deste preço. O sucateamento está aí e bate à porta, seja no seu notebook, no celular ou no aparelho de video-game, para não falar do GPS.



A modernidade bate à nossa porta todos os dias, seja nos encartes, nos banners, youtube, twitter, facebook e em tudo aquilo que se queira imaginar. Entramos definitivamente na era da comunicação total, onde será praticamente impossível não estar “comunicável” em algum momento.



Jamais na história da humanidade, a informação esteve tão disponível e global. Não há mais fronteiras para o conhecimento, para a transmissão de mensagens, de notícias, cultura e informação. Enfim, é possível conversar com quem quiser, assistir ao que quiser.



Difícil mesmo é tirar férias...



As novas tecnologias de 3 D propiciarão experiências de imersão fantásticas, e não é exagero afirmar que a sensação da presença do outro, enquanto falamos com ele, será cada vez mais real. Restarão apenas os sentidos do tato e olfato a serem transmitidos. As possibilidades para a educação on-line, em todos os sentidos e as conferências serão praticamente ilimitadas.



Toda esta tecnologia deverá propiciar aos homens e mulheres comuns, a experiência total em termos de acesso ao conhecimento.



Não há dúvidas, as fronteiras já cairam no espaço da Internet. O que importa agora é o transporte das idéias, das imagens e da cultura, a despeito da coisa física, da pessoa física, paradoxalmente cada vez mais difícil de transportar neste mundo.



Em breve, viajar poderá ser uma experiência puramente sensorial, quase real, mesmo a milhares de quilômetros de distância. A tecnologia e o acesso à informação total abriram o caminho para a derrubada dos muros, de Berlim, da ignorância, e a conquista suprema da liberdade.



Será?



Pois mesmo com toda esta tecnologia e acesso à informação hoje disponíveis, eis que encontramos aqui a reedição do Império da Ignorância, a Fantasia Totalitária que acalenta o sonho dos Opressores de Plantão. Desde priscas eras que o mal revive, representado, sobretudo por aqueles que querem dominar os demais, principalmente o seu pensamento.



O fantasma totalitário volta e meia dá o ar de sua graça e possui muitas máscaras, e o “Estado Forte” é um dos seus disfarces. Não deve existe Estado Forte, mas apenas e tão somente uma Sociedade Forte, e nada a ver com o “Estado Forte” que tudo pode e tudo concede, que nada mais é do que uma fantasia totalitária de controle das pessoas e de suas mentes.



A modernidade tecnológica oferece, sem dúvida, um arcabouço de ferramentas de libertação das mentes e todo um arsenal de remédios contra os totalitários, travestidos de socialistas nacionalistas, ou nacional socialismo, quando lido inversamente, que querem dominar as mentes dos demais, cujo desejo antigo e obscuro, alimentado por um ressentimento primitivo, leva alguns homens a almejar a prevalência do seu pensamento sobre os demais.



Aqui mesmo no Brasil, uma proto-ditadura é engendrada nos porões do Poder, ainda que felizmente possamos contar com a grandiosa incompetência de seus gestores. Em meio a toda esta modernidade, nada mais antigo do que o que vemos hoje no Brasil.



Um Homem que se gaba de sua própria ignorância, exibindo-a com orgulho, a fim de fazer vingar ainda mais a imagem de Messias, quando não se compara diretamente a ele, representa a forma mais vil e baixa de política que se pode conceber. É algo que pertence ao século XIX, ou melhor, dizendo, à era pré-cristã.



Em meio a toda a modernidade global, o Brasil parece preferir trilhar alegremente o caminho do atraso, adotando políticas, preceitos e valores que os Países mais avançados enterraram há muito tempo tendo aprendido a lição, depois de tantos conflitos sangrentos. O entulho autocrático e totalitário tão caro aos stalinistas de plantão volta e meia nos assombra, em pleno século XXI.



O Brasil sofre forçosamente a influência tecnológica do resto do mundo, e é um grande comprador de bens e tecnologias de ponta, capaz de fazer um uso bastante eficiente das mesmas, notadamente no setor financeiro. Contudo, apega-se ainda a valores e idéias obtusas, ideais que cheiram a roupa velha, tirados do lodo da sociedade totalitária, há muito varrida do mapa no mundo civilizado.



No mundo sem fronteiras da Internet, políticos obscuros, partidários do atraso, propõem o controle da Internet, sobre a qual não é possível exercer qualquer controle. Não seria o caso de os estudantes iram as ruas e gritar?



- “A Internet não é controlável estúpidos !”



É tão óbvio que talvez não seja necessário. Enquanto isto, o supremo líder da nação ousa definir, por meio de um decreto redigido por uma turma de assessores restritos, de competência duvidosa, e que não se entendem entre si mesmos, nosso destino histórico e os limites da liberdade.



Nada é mais ultrapassado do que a nossa classe política e o seu líder supremo, que representa a nação, e parece não perceber a forma abjeta de se fazer política no País,  leia-se, a política do Coronelismo, levada ao extremo, na figura do Grande Coronel, o Messias de uma Nação.



No primeiro quartil do século passado um homem carismático e dotado de grande poder de oratória arrebanhava as massas e vendia ignorância. O seu Império, a Alemanha...



Parece incrível que em meio a tanta tecnologia, tanta liberdade, como nunca houve antes na história mundial, em meio a tanto acesso à informação, que flui livremente no espaço da Internet, enquanto ainda tentamos universalizar a banda larga, louvemos a mente estreita.



O que vemos do nosso “governante” é um exercício torto,de enaltecimento da ignorância, a humildade de berço, o sofrimento e a miséria, sobretudo a miséria cultural, como atributos de grandeza que aproximam o “governante” do seu povo.



Criada esta empatia exploratória, e o mito, agora revivido em película, pode então o “governante” jactar-se de sua ignorância, da agressão à língua, do chulo, muitas vezes estudado e proposital, para amplificar a empatia com o seu povo.



Desta forma, amplia-se o poder, pela identificação criada. Está fundado o Império da Ignorância, de onde concluímos, de uma vez por todas, que manter o povo ignorante e, sobretudo, fazendo-o sentir-se orgulhoso de sua ignorância, por esperto que é, apenas amplia o poder do “governante”.



O Império da Ignorância floresce. Mas não por muito tempo, porque neste mundo, não poderá durar. A ignorância não prosperará por muito tempo, não na sociedade da informação, como ela se apresenta hoje.



A Internet cura.

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