*Manoel Hygino
O Brasil pensa mais na Copa do Mundo do que no Brasil. Como futebol vive na cabeça de cada pessoa aqui nascido, acima talvez de sentimentos mais nobres, cuidou-se de fazer de conta que tudo na terra inventada por Cabral andava esplendidamente. Eis aí um dos maiores erros do governo: tentar impingir, em nível interno e externo, a ideia de que tudo está às mil maravilhas, fenômeno típico das ditaduras.
Aqui, temos exemplo. O próprio presidente da Fifa declarou, na primeira semana de janeiro, que o Brasil começou tardiamente a preparação para o campeonato mundial. Disse que, desde 1975 até agora, nunca isso acontecera na entidade. Escolhido em 2007 para sede do evento, há estádios no Brasil que sequer foram entregues.
Nas cidades em que há jogos programados, há um frenesi, ou seja, excitação, rebuliço, com as tentativas de última hora para não decepcionar. Temos, dentre outros deveres, eliminar os bolsões de miséria, vícios, abandonados da sorte sob as marquises, esquecer a sucessão de assassinatos nos presídios e fora deles. Em todo caso, há ponto facultativo e feriados, o que agrada a grande parcela da população.
O bruxo mexicano Antonio Vazquez Alba prevê uma Copa bulhenta, mas o Brasil hexacampeão, embora os protestos sociais de que houve avant-premiére, em junho de 2013. Antevê, também, desastres nos estádios: “O Brasil terá problemas. Estão criando uma infraestrutura terrível, que certamente entrará em colapso”. Tétrico vaticínio! Jornal paulistano tradicional explora o assunto. Segundo ele, dezenas de cartolas da entidade internacional, presidentes de federações e dirigentes, não ficarão todo o período no Mundial aqui por questões de segurança. “Eles temem a repetição dos protestos durante a Copa das Confederações em 2013 e são aconselhados pela Fifa a ficar pouco tempo em território brasileiro”. Chegarão a São Paulo dias antes do campeonato para o congresso anual da Fifa, deixarão o país e voltarão eventualmente somente para a final.
Londres não perde a vez. O Channel 4, rede de TV inglesa dedicada a matérias especiais, mostrou o repórter Guilhermo Galdós subindo morro da cidade maravilhosa e afirmando que o governo se esforça para mostrar o mais belo panorama aos visitantes. O narrador, contudo, conta que percorre as vielas da favela carioca para demonstrar como as coisas são do outro lado.
O governo proclama que as quadrilhas estão sendo expulsas, mas a realidade é completamente outra. O mais grave, porém, na reportagem do canal 4, é a informação de que as gangues brasileiras estão tenazmente trabalhando para a venda de drogas no Rio de Janeiro. Será, ainda, segundo Galdós, o setor econômico que mais lucrará com a Copa. Cuidemo-nos, pois.
