Psicologia: Traição - por Leila Silveira

Jornal O Norte
Publicado em 24/09/2007 às 11:28.Atualizado em 15/11/2021 às 08:17.

Leila Silveira *



Prezada Leila, preciso de uma orientação. Depois de oito anos de casada, descobri que meu marido estava me traindo. Doeu tanto que eu não queria acreditar. Passados dois meses que estamos brigados (não nos separamos) ainda sinto raiva, mágoa e  ressentimento e às vezes meus familiares acham que o melhor é a separação.  Você acha que é possível superar ou perdoar uma traição e novamente ser feliz. E se ele fizer de novo? K.B.



Prezada leitora, acredito que de todas as questões polêmicas que tenhamos que enfrentar na vida, esta talvez seja uma  das que mais ‘mexa “com nossos sentimentos, mundo interior, além de ser o prato preferido de nove em 10 romancistas ou novelista”.



O assunto tem a idade bíblica, fez “rolar” a cabeça de João Batista, perturbou o até então “ungido” Davi, deflagrou guerras e epopéias dramáticas como a de TRÓIA, abalou  os alicerces até da poderosa Casa Branca,  no caso de Clinton – Mônica - Hillary



A pequena amostragem apenas demonstra a importância, a universalidade e atemporalidade do assunto, atingindo a reis e súditos, rainha (como Lady Dy) e plebeus poderosos e anônimos, ricos e pobres, velhos e jovens, homens e mulheres de todos os tempos, desde dizem as “más línguas” as primeiras “escorregadelas”  de Adão (ou será de Eva, quem sabe?).



Nestes casos, essa tristeza até “normal” no pós-perda não deve ser prolongado, além do tempo razoável para a cicatrização das feridas... Caso  contrário você terá não só  seu viço consumido, mas pode  corroer  sua alma  , transformando-se  numa “Loretta-da-vida”: amarga, rancorosa, sem vaidade.



Estou convencida que esta, como outras questões psicológicas que envolvem principalmente as  emoções, não se resolve com pressões externas, como normalmente o assunto é tratado por algumas pessoas até com uma certa dose masoquismo ou sadismo ou ficando na mesma casa “brigados”.



A questão não deve ser colocada como um paradigma  ou uma questão de opinião ou convicção.



Como qualquer outra vivência existencial trata-se de um processo  e como tal apesar  de sua abrangência deve ser particularizado, isto é tratado como cada caso é um e pronto! E como todo processo de perda, passa pela negação, a raiva, a aceitação e quem sabe o perdão.



É importante salientar que perdoar não significa esquecer, nem muito menos voltar atrás e recomeçar onde paramos.



Perdoar é se libertar do sofrimento, é um “presente” que você dá a você mesma, livrando-se dos fantasmas reais do passado e dos imaginários do futuro, permitindo lhe vivenciar por inteiro o seu presente, o hoje, o aqui e agora!



A questão da “traição” em si, muito decantada em verso e prosa, não pode ser encarada de forma preconceituosa, nem como  uma aberração, fim-de-linha, ou mal irreparável.



Ela pode ocorrer com qualquer casal e sinaliza um pequeno desajuste ou acomodamento (tipo sinal amarelo) que nos avisa que a situação precisa de maior cuidado, carinho e trabalho) ou até uma total desintegração da relação, tal qual um vaso de cristal quebrado, que não permite mais seu conserto.



O importante nesta hora é saber distinguir o que é fato (realidade) do que é sentimento (dor, tristeza, mágoa, raiva, ressentimento) e passado o período crítico da crise estar aberta para  “negociar” um novo contrato nupcial ou as bases de uma separação inevitável.



O mais importante é você não deixar as pressões “externas”, decidir o que é melhor para você (e para o casal). 



Você só vai conseguir  descobrir  se quer continuar com seu marido  e viver todos os riscos que faz parte desta bela aventura chamada vida  se não “trair” seu melhor conselheiro, se não “desprezar” seu melhor consultor e se ouvir a voz de seu coração.



Boa sorte!



* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte


leilasilveira@bol.com.br

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