Psicologia: Pessoa comum - por Leila Silveira Miranda

Jornal O Norte
Publicado em 13/07/2007 às 12:17.Atualizado em 15/11/2021 às 08:09.

Leila Silveira Miranda *



Escrevo hoje, atendendo nossa leitora Taty,  que me enviou um e-mail assim: como ser feliz sendo uma pessoa comum,  numa sociedade que apenas valoriza os mais ricos e as celebridades?



Oi Taty, Obrigada pela sua participação!.  Penso que falar sobre  pessoas comuns, pouco destacadas, mas que a meu ver, são  essenciais na engrenagem que move este mundo cada vez mais diversificado, é uma boa reflexão.



Acostumados desde os mais remotos relatos bíblicos a privilegiar determinadas criaturas, determinadas posições, determinadas hierarquias e tradições. Assim, no âmbito familiar e social, o filho primogênito sempre mereceu destaque e até hoje tem primazia nas sucessões monárquicas e nos grandes impérios econômicos. Na literatura, na história, sempre estudamos e valorizamos os grandes gênios, os heróis , os conquistadores, assim como não são esquecidos os grandes vilões, os tiranos, os traidores... Na economia, não é diferente, com grande destaque para os banqueiros, os milionários, os grandes empresários.



É,   parece que as  pessoas comuns na sua persistente rotina, não dá ibope, não da manchete...



A verdade é que ninguém pode viver sem sonhos, todo mundo sonha com um conto de fadas , com o gênio da lâmpada, com a mega-sena acumulada...



Mas, maior verdade, é que muito poucos de nós iremos nos tornar milionários, famosos ou celebridades.



Não é a toa que programas como big-brother e outros reality-shows (muito mais shows, que reality, diga de passagem)  pipocam e alavancam o ibope de todas as emissoras de TV.



Psicologicamente é fácil entender esta transferência de expectativas que o povo deposita nos diversos perfis escolhidos a dedo pelas emissoras para captar esta projeção das diversas camadas da sociedade brasileira.



Voltando ao nosso tema, quero dizer que apesar de parecer pouco estimulante ou atraente a maioria de nós,  pessoas comuns, carrega uma missão normal neste planeta que significa enfrentar os desafios da sobrevivência, da educação , da família , dos amigos, dos filhos, do amor , da espiritualidade, do lazer , das alegrias, das tristezas e do dia-a-dia ...



Parece simples, mas não é fácil.  Vira e mexe ouvimos noticias de atos de heroísmo que nos comove a todos.



Para mim, porém, uma pessoa comum é o brasileiro pai ou mãe de família, trabalhador que dedica 4 meses de seu labor apenas para pagar impostos, cidadã (o) honesta (o), que não rouba, que não corrompe ou se deixa corromper, que corre atrás de sua casa própria, do seu meio de transporte, sua faculdade ou seu curso técnico, tendo de trabalhar o dia todo e estudar a noite e ainda sonhar e programar o ano todo, as férias, em uma boa praia.



Para demonstrar que é possível ser feliz sendo um (a) simples mortal,  quero enfatizar o papel  e a missão das pessoas comuns de intermediar, de carregar o piano para garantir o brilhantismo do concerto, ou de ser o assessor eminência parda que aconselha , acalma, influencia e trabalha anonimamente para mastigar a melhor decisão possível  do chefe, do rei ...



Neste nosso universo cada vez mais complexo, há espaço e necessidade de pessoas de todo o tipo, de toda natureza, de todos os predicados...



Imagine um mundo só povoado por celebridades, autoridades, conquistadores e aventureiros... Com certeza , não iria dar certo... a não ser confusão...



Do ponto de vista  da psicologia a questão mais importante para a felicidade do ser humano é achar as respostas certas para as perguntas essenciais:  Quem sou? A que veio ? Para que estou aqui?



Na realidade tudo se resume na difícil tarefa de autoconhecer e descobrir nossa verdadeira missão nesta vida.



Existem algumas pessoas comuns, que eu as defino como almas intermediárias , destinadas a ocupar certos espaços, habilidosas são verdadeiros amortecedores humanos, flexíveis como verdadeiras molas existenciais, argamassas necessárias para consolidação de qualquer grupo, para agregar  e integrar diferenças e divergências, garantindo um consenso, uma soldagem,  uma solução.



São essas pessoas comuns e anônimas que lubrificam a difícil engrenagem dos relacionamentos, das negociações , das disputas...



Para ser feliz, portanto, é preciso que essas pessoas comuns se reconheçam como tal e se assumam verdadeiramente neste importante papel, valorizem-se, conhecendo-se, amando-se  desta forma!.



Boa sorte!



* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte


leilasilveira@bol.com.br

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