Leila Silveira Miranda *
Às vezes, quando a corrida do dia-a-dia me concede e me permito observar com um olhar mais crítico as pessoas com que cruzo nas ruas, nos treinamentos, palestras, aulas ou consultas que a profissão me possibilita, costumo avaliar a forma, o brilho do olhar das pessoas que, mais do que qualquer palavra, declaração ou gesto, é o que transmite, na minha opinião, a pureza, a verdade, a convicção, o sentimento, a força e a coragem que se abrigam na alma humana.
Por trás de todos esses sinais repousa o fantasma do medo que, a cada dia, orienta o sentido de cada atitude, rege a orquestra de todas as nossas atividades, domina nossos sentimentos, inibe nossas iniciativas, enfraquece nossas energias, afugenta novos relacionamentos, alimenta rancores, dilui nossa determinação.
A fonte de todo o medo se deve à falta de confiança que depositamos em nós mesmos, nas nossas reais possibilidades, na nossa proposta de SER, nas nossas habilidades, na nossa capacidade de enfrentar problemas, na nossa dificuldade de provocar mudanças, em nosso jeito de AGIR, na dúvida de ousar novos passos, no receio de errar, de não corresponder expectativas, no comodismo que nos amordaça.
O que habitualmente esquecemos, é que, não foi com esta postura , não foi com este perfil que ingressamos neste mundo, não foi com esta imobilidade que demos nossos primeiros passos, arrancando aplausos de nossos pais e avós, encantados com nossa vontade de ficar de pé, engatinhar, mexer, procurar, cair e levantar, insistir, aprender, tocar, como todo o bebê ensaiando seus primeiros movimentos e descobertas. Esta, é, portanto, nossa verdadeira natureza, aquela legada por Deus e pela nossa evolução genética, mental, física e emocional.
Na verdade, por mecanismos que não percebemos, à medida que crescemos e nos tornamos adultos, ao invés de reforçarmos, estas características naturais, começamos a experimentar um processo gradativo de constrição, de acanhamento, de timidez, de desconfiança, que , se não for detectado e tratado devidamente a tempo, pode remeter-nos, a grande armadilha que criamos para nós mesmos entregando nosso mais valioso tesouro, que é a abdicação dos nossos mais verdadeiros e grandiosos sonhos, que na realidade, é a principal razão de nossa passagem por este magnífico Planeta. Sua imediata conseqüência é o trágico adiamento de nossos desejos mais sublimes, com o sufocamento de nossa maior aspiração, com a desistência de conquistar nossa mais desafiante meta, para a qual, convenhamos, deveríamos justamente aplicarmo-nos ao máximo, apostando todas as nossas fichas, alçando todas as âncoras e abrindo todas as nossas velas, mar adentro....
A partir daí inicia-se um processo lento mas extremamente danoso e cruel, na medida que começamos a nos colocar só na defensiva, nos acomodarmos, e passarmos a fazer só o “arroz-e feijão”, caindo gradativamente na “mesmice” e iniciando-se um processo interno de apreensões, dúvidas, angústias e insatisfações.
Tornamo-nos céticos, tristes, fragmentados, arredios, irritados e mal-humorados, o que é uma bela receita, e trampolim perfeito para cair nas garras da inveja, que corrói como ácido nossos relacionamentos, nossas virtudes, nossa esperança, nossos sonhos...
Na verdade, esse processo (como procuramos caracterizar) é gradativo, e ocorre como todo desenvolvimento humano através da mudança mental, através da lenta deterioração dos nossos pensamentos, que vão cedendo às pressões negativas do ambiente, do trabalho, das amizades, das dificuldades, da mídia, da família, do consumo, das ilusões, do stress, das necessidades, do materialismo, da ganância, do poder, da vaidade...
Juntos, esses “venenos” funcionam como verdadeiros “vampiros”, nos sugando o espírito, as idéias, os sentimentos, a generosidade, a auto-estima...
A boa notícia porém, é que sozinhos ou com ajuda adequada e profissional podemos reverter este processo, refazendo o caminho de volta, re-educando nossos pensamentos, “deletando” toda a lixeira negativa que permitimos habitar em nossos corações, cultivando o perdão e recuperando parte da nossa perdida auto-estima , e proclamando a primavera de nossa nova esperança.
O mais importante após a conscientização destes pontos fracos é a nossa vontade de reagirmos, de fazer acontecer esta “desintoxicação” mental, esta “catarse” emocional, esta “reciclagem” sentimental, esta “re-engenharia” cerebral, este “5-S” psicológico, e conseqüentemente transformar paulatina e vitoriosamente nossa própria realidade.
A “chave” é aceitar, compreender, e entender que pensamento cria realidade, que nada ocorre por acaso em nossa vida, e que somos sempre nós o autor, roteirista, diretor e protagonista de nossa história.
Como toda boa peça há que ter um bom enredo, diálogos inteligentes, tramas bem montadas, brigas, amores e incertezas, mas cabe a nós decidir se queremos escrever nossa própria comédia, tragédia ou epopéia venturosa com direito a final feliz.
Nascemos e crescemos com essa autonomia do livre-arbítrio, e com todos os ingredientes e ferramentas necessárias para optarmos por um ou outro caminho, cabendo a cada um esta decisão .
É nossa a preferência de tornar a nossa existência um espinheiro ou um mar de rosas... É nossa a prerrogativa de nos pré-dispor ao fracasso ou acreditarmos na possibilidade da vitória... É nossa a escolha de habitar as sombras da noite ou brilhar no toque da aurora...
É nosso o direito de conquistar nosso bilhete cativo rumo à felicidade!
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* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte
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