Leila Silveira Miranda *
Ainda sensibilizada com a tragédia envolvendo o garoto Sidney Júnior e com a dor de sua família que escrevo hoje sobre uma pergunta que não quer calar na cabeça de muitos montesclarenses: o que faz alguém cometer um ato criminoso com inusitada violência e não se arrepender de ter matado, ficando claro que a morte de alguém não lhe faz a menor diferença, o que lhe incomoda é perder a sua liberdade.
De acordo com Freud, pai da psicanálise, é possível explicar a mente humana através da estrutura de personalidade:id, ego, superego e os sistemas mentais: inconsciente, pré-consciência e consciência. Assim o ego (eu consciente), após se diferenciar do id (impulsos tanto sexual como destrutivo), passa a sofrer um processo evolutivo do qual surgirá o superego (moral, ética, sede dos valores).
Provavelmente todos aqueles que cometem crimes hediondos e que não demonstram sentimentos de compaixão, não sentem sentimentos de culpa pelos seus erros encontram-se dentro do espectro da psicopatia.
Psicopatia, sociopatia ou anti-social é um transtorno de personalidade que envolve aquelas pessoas que não se enquadram nas doenças mentais já bem delineadas e com características bastante específicas, a despeito de se situarem à margem da normalidade psico-emocional ou, no mínimo, comportamental. O distúrbio sociopático também está altamente associado com a incidência de abuso de drogas e alcoolismo. De fato, esta associação piora os aspectos do comportamento sociopático, assim podemos considerar que eles são mutuamente reforçadores.
O canadense Robert Hare, um dos maiores especialistas do mundo em sociopatia criminosa, os caracteriza como sendo predadores que usam intimidação e violência para controlar os outros e para satisfazer suas próprias necessidades. Em sua falta de consciência e de sentimento pelos outros, eles tomam friamente aquilo que querem, violando as normas sociais sem o menor senso de culpa ou arrependimento.
A psicopatia não faz restrição de raça, status sócio-econômico, grau de escolaridade, etc. É um transtorno quantitativo. O sintoma apresentado é a ausência de emoções: ansiedade, angústia, insônia, etc.
A recuperação de um psicopata ainda é um enigma humano, pois embora ele conheça as diferenças entre o bem e o mal, saiba o que é certo e o que é errado, seu superego não o proíbe de cometer um crime, pois para eles nada significa afetivamente.
O neurocientista Renato Sabbatini, PhD. afirma “que descobrir as causas da sociopatia, sua prevenção e tratamento são sem duvida questões importantes para toda humanidade, para a lei e para os profissionais da saúde mental.” A situação ascendente da violência sem sentido, freqüentemente por pessoas jovens impõe um senso de urgência em obter respostas para elas.
Como a Cultura é indispensável para a formação e consolidação da formação do caráter de um sociopata, não temos o direito de nos furtar à parcela de responsabilidade com que cada um de nós esta ajudando a construir, e chamar a atenção pela falta de projetos sociais e esportivos para pessoas com perfil de risco, bem como políticas públicas que priorize a saúde mental .
Se pouco, podemos fazer ante os psicopatas primários, com forte carga genética para a impulsividade, a agressividade, a destruição e ao desamor, pelo menos, em relação aos psicopatas secundários, que vão sendo sociopatizados ao longo da vida precoce, na mais absoluta falta de assistência em todos os níveis, há muito por se fazer.
O psiquiatra russo Alexander Bukanovsky em seus estudos observou que a psicopatia é um lento e gradual processo, uma vez que ninguém nasce psicopata. Geralmente, tal processo se inicia em decorrência de um parto difícil, desamor, acidentes e falta de regras na infância, gerando um dano cerebral irreversível.
Desde pequenos, os sociopatas manifestam tendências e comportamentos que são altamente indicativos de como serão quando adultos. A criança sociopática é imune à punição e não é afetada pela dor, pode torturar ou matar pequenos animais, cometer furtos, agressão, contar mentiras e demonstrar irresponsabilidade com seus deveres.
Os sociopatas violentos precisam ser trancafiados para que a sociedade seja preservada de seus atos.
Encerro enviando meu abraço fraterno a família de Sidney Júnior e pedindo ao grande arquiteto do universo: DEUS que lhes dêem forças para superar essa dor que dilacera a alma, conduza Sidney em sua caminhada espiritual e proteja a todos nós.
* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte
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