Psicologia: Impunidade - por Leila Silveira Miranda

Jornal O Norte
Publicado em 22/06/2007 às 10:23.Atualizado em 15/11/2021 às 08:07.

Leila Silveira Miranda *



Atendendo a universitária Ana Luiza que me escreve assim: prezada Leila, recentemente assistir uma palestra sua, sobre impunidade, gostei muito e gostaria de sugerir que você tratasse deste tema na coluna do jornal.



Nos Estados Unidos o presidente do banco mundial perdeu o emprego por favorecer sua namorada financeiramente com dinheiro público; lá mesmo uma famosa socialite, herdeira de um dos maiores conglomerados hoteleiros do mundo foi presa por dirigir com carteira vencida. No Japão um ministro suicidou-se envergonhado por ter sido acusado de favorecimento ilícito a empreiteiras em troca de gorda propina.



E no BRASIL?



Aqui quando tudo não acaba em pizza e a policia federal mais a  procuradoria prendem os corruptos e contraventores a justiça manda soltar. A indignação é geral, todo mundo fica perplexo, a mídia explora todos os ângulos a espera do próximo escândalo para mudar a pauta e exibir novas e extravagantes manchetes.



Qual é a raiz disso tudo?



Para entender o que se passa neste País continental, precisamos examinar o que se passa debaixo do nosso teto, entre 4 paredes ou mais, nas escolas , no trabalho, nas ruas, no trânsito, nas estradas, nos bares, nas novelas, nas nossas escolhas, no nosso comportamento diário, na educação de nossos filhos.



Na medida que começarmos compreender determinadas leis universais (infelizmente ainda reservadas a alguns privilegiados gurus e magos de plantão) vamos começar a entender porque estamos nesse sufoco, neste beco sem saída , neste Inferno-de-Dante.



O que quero comentar é que criamos externamente a realidade que domestica e mentalmente praticamos. Ou vocês acham que a violência familiar não acaba sendo retratada nas ruas através de estupros, assaltos, assassinatos , seqüestros e agressões de todo tipo.



Poucos de nós têm consciência dos males que esta geração está nos reservando para um futuro breve, ao permitir a agressividade e indisciplina com que seus filhos tratam seus professores.



O País que há vários anos consecutivos vem desmoralizando, maltratando, desprezando a classe dos professores achatando seus salários, arrasando o ensino público poderia receber o que em troca de suas generosas políticas sociais que marginaliza o pobre e empobrece a classe média, termômetro mestre de qualquer sociedade capitalista.



Mas quem é o País, senão nós mesmos e os maus políticos que ajudamos a sentar praça no Congresso nacional?



O voto mal dado, a consciência comprada, a manipulação das pesquisas , as promessas vãs, a troca de favores, o interesse menor, o apadrinhamento, o coronelismo, a alienação, o descompromisso, a desinformação, o desinteresse, tudo isto não espelham e reproduzem as imagens e comportamentos hediondos que depois tanto nos chocam?



A propina para o guarda, o lixo na rua, o desperdício de água, o exagerado consumo, o se dar bem a qualquer preço, a fera no transito, a furada de fila?



Alguns acham que só o fato de pagar o condomínio em dia os faz cidadãos. Maltratar os animais, poluir os mananciais, avançar sinais, ultrapassar os limites estabelecidos de velocidade, atear fogo em mendigos, apregoar a pena de morte (para os outros é claro...) fraudar o imposto de renda, manter caixa-dois, os bingos, os caça-níqueis, não fazem parte de nossa cultura, não são cenas do nosso cotidiano?



Há ainda muita gente que pensa que reciclagem é coisa-de-pobre cuidar do meio ambiente é coisa-de-artista ter sensibilidade é coisa-de-gay.



ser honesto é coisa-de-otário.



O maior problema nosso e do ser humano em geral do ponto de vista moral é que só vemos o mal no outro...



Cuidar da alimentação, selecionar a programação da TV e dos jogos de computador que usamos, participar de algum serviço voluntário ou comunitário, trabalhar em equipe, desenvolver a espiritualidade são maneiras de nos proteger desta selva de pedra e começar a reverter este quadro caótico e de baixa-estima que vivemos.



Impune é o que se cala diante da injustiça...



Impune é o que  não se comove com a miséria alheia...



Impune é o que incentiva preconceitos machistas e raciais em seus filhos...



Impune é o que fuma dentro de casa na presença dos filhos...



Impune é o que passa o outro para trás, é o que provoca intrigas, é o que mente em proveito próprio...



Impune é o corrupto, o apolítico , o alienado, o pessimista...



Impune somos todos nós que criamos desde nossos antepassados até nossos próprios filhos, todas essas cenas de horror toda essa comédia de mau gosto, toda essa tragédia nacional.



Que todos nos unamos em prol da paz e da harmonia  do mundo, que começa em você. Faça sua parte, ainda dá tempo!!!!



Obrigada pela sua participação, Ana Luiza.



Participe você também por e-mail dando sugestões de temas e ou fazendo perguntas.



* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte


leilasilveira@bol.com.br

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