Leia Silveira *
Escrevo hoje respondendo a um leitor que me escreveu assim: Tenho 48 anos e cresci ouvindo do meu pai que eu tinha que ser perfeito ou então “não vai ser ninguém na vida”. Minha vida é cheia de tropeços, tenho baixa-estima e até hoje sofro quando alguém me critica, embora eu mesmo me critique muito e a meus filhos também. Gostaria de ser mais aberto e mais feliz. Desejo ler sobre o que você pensa a respeito das críticas. J.C.F.
Se alguns homens e mulheres que fizeram história tivessem se rendido às inevitáveis críticas que os acometiam após algum tropeço, jamais teriam atingido seus objetivos e teriam seus nomes inscritos no batalhão dos anônimos fracassados, ao invés de estar nos livros de memória de sua posteridade.
Assim, Abraham Lincoln não teria sido um dos maiores presidentes dos EUA após sucessivas derrotas eleitorais, Thomas Edson não teria descoberto a luz elétrica, Lula não teria sido eleito presidente do Brasil... No esporte, nas artes, nas favelas, em todos os setores da economia, ciências e atividades profissionais encontramos exemplos anônimos de pessoas alegres, felizes e vitoriosas que, após uma série de percalços, enfrentaram com esperança e vigor suas dificuldades, não se deixaram abater, não deram ouvidos aos demônios-da-crítica-destrutiva, e se tornaram modelos de superação para os amigos, vizinhos, familiares e principalmente para si mesmos.
A crítica constante é cruel conosco mesmo (e com os outros), além de inútil é uma arma destrutiva que mina nossa auto-estima, que enfraquece nossos anticorpos, que principalmente tenta negar a essência de nossa existência, nossa própria humanidade.
O primeiro antídoto, a primeira vacina contra toda e qualquer crítica persistente é a consciência, de nossa própria natureza, do fato insofismável de pertencermos a este gênero humano e portanto imperfeito, sujeito a erros, quedas, tropeços, insucessos, doenças e sofrimentos.
A única certeza em que podemos apostar todas as nossas fichas aqui na terra é que um dia iremos morrer, que se analisarmos bem é o resultado final inexorável comum a todos os seres humanos de todas as raças, ricos ou pobres, felizes ou infelizes, realizados ou não. A aventura, o desafio, a graça da vida, a beleza, o prazer de viver está na forma, no jeito como vivemos, na capacidade de reagir aos sofrimentos, na observação do caminho lindamente mencionado por Jesus como os lírios do campo!
O segundo veneno mortal para nos aprisionar e imobilizar nas teias tecidas pela armadilha da crítica mordaz é o perfeccionismo, esta brincadeira de mau gosto, esta insanidade psicológica de brincar-de-Deus aqui na terra. É preciso nos conscientizarmos que não estamos aqui na terra para sermos perfeitos, anjos ou réplicas de Cristo. Mesmos os considerados santos tiveram, como Santo Agostinho, de experimentar toda espécie de pecados e infortúnios para finalmente encontrar um caminho que lhes realmente trouxesse paz no coração. É claro que não estou aqui fazendo apologia à luxúria ou demais pecados capitais, ao contrário, devemos a cada dia nos superarmos na tarefa de praticar o bem, de sermos solitários, de dar exemplos concretos de cidadania, honestidade, amizade e compaixão, na medida de nossas possibilidades.
A atitude de nos cobrar um desempenho superior aos nossos recursos atuais, recheada de inúmeras críticas, só nos remete à culpa e ao desânimo, interrompendo ou impedindo todo um processo maravilhoso de crescimento interior.
Esqueça o passado, perdoe o seu pai, que provavelmente acreditou estar fazendo o melhor para você, mas evite repetir o mesmo com seus filhos. Em sua condição de adulto, comece a produzir seu próprio alimento emocional, abolindo assim a critica de sua dieta, que só indigestões e dores de cabeça trouxeram a seu espírito.
Finalmente, como reforço terapêutico, introduza o elogio como um novo ingrediente altamente nutritivo para sua alma, que vai lhe confortar nos momentos de mal estar, que vai fortalecer sua imunidade psicológica, que vai ser diariamente o maná sagrado na travessia dos desertos da existência, levando-o aos oásis tranqüilos de realização e paz verdadeira!
Se necessário, busque ajuda profissional!
Boa sorte e obrigada pela sua participação!
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* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte
leilasilveira@bol.com.br