Leila Silveira Miranda *
Hoje falaremos de um assunto respondendo a solicitação abaixo de um leitor que se apresenta como S.P.S.
Sou uma pessoa que hora tenho bom humor, faço planos, fico alegre, outra hora fico calado, triste, e se alguém falar uma coisa que eu não gosto xingo, esbravejo, faço escândalo e fico ignorante. Atualmente estou desempregado, o que me deixa mais nervoso ainda. Acho que sou diferente, não consigo ficar muito tempo com uma namorada. Já me disseram que isto é doença, mas nunca tive a coragem de procurar ajuda. Você pode escrever sobre esse assunto?
Muitas pessoas atribuem sintomas de alteração de humor apenas a problemas de personalidade e de caráter, a agentes externos, como desemprego, dificuldades familiares e de relacionamento social. É possível, no entanto, que esses sintomas mascarem a sua verdadeira origem, as pessoas que os apresentam talvez sejam portadoras do Transtorno Afetivo Bipolar, distúrbio neuroquímico, de origem genética e que atinge de 4 a 5 % da população.
O distúrbio afetivo do humor ou bipolaridade, como é popularmente conhecida, é uma doença do humor causada por um desequilíbrio químico nos neurotransmissores do cérebro e que já foi chamada de psicose maníaco-depressiva. O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), é uma doença relacionada ao humor ou afeto. O distúrbio se caracteriza por alterações do humor, com episódios depressivos (tristeza, falta de prazer, desânimo, alterações no sono) e maníacos (euforia, energia, exagerada, idéias de grandeza ou um estado altamente irritável e agressivo).
Com certeza a forma de agir da pessoa com esse distúrbio costuma ser muito mal vista, já que comumente é entendida como o jeito de ser da pessoa. É claro que o jeito de ser conta muito, especialmente quando ela através da doença buscar sua evolução em todos os aspectos da vida. NIETZSCHE (1844 -1900) dizia que “o aumento da sabedoria pode ser medido pela diminuição do mau humor”.
Apesar do tratamento recomendado – por meio de medicamentos psicofármicos e acompanhamento psicoterapêutico – promover o reequilíbrio neuroquímico e o conseqüente controle dos seus sintomas, seus portadores têm na desinformação e no preconceito os principais inimigos da sua saúde. De outro lado, há muito pouca informação na mídia sobre as doenças psiquiátricas. O transtorno bipolar está associado a queixas vagas, como enxaquecas, dores pelo corpo, insônia, irritabilidade freqüente, impulsividade, abuso de substâncias como álcool e drogas, jogo compulsivo e gastos elevados e desnecessários.
Sem conhecimento da sua própria condição, os bipolares pagam um alto preço. A demora do tratamento pode resultar em namoros e casamentos desfeitos, relacionamentos abalados e perca do trabalho.
O primeiro episódio depressivo ou surto maníaco costuma ocorrer por volta dos 30 anos, mas isso não é uma regra. E, apesar do bipolar ser altamente capazes e inteligentes, podem ter uma vida muito difícil, cheia de altos e baixos e não forem adequadamente tratadas.
Conhecer o que se tem, reconhecer seus sintomas é fundamental para os bipolares. Embora muitas pessoas relutem em procurar o tratamento, a maioria das que o fazem sente um grande alívio ao receber o diagnóstico e saber que existe tratamento.
O diagnóstico precoce, seguido de tratamento adequado, beneficia não apenas a saúde do portador, mas também a de sua família e a da sociedade.
Diogo Lara, em seu livro Temperamento forte e Bipolaridade nos fala que: muitas vezes as pessoas resiste em iniciar o tratamento com remédios por medo de ficar dependentes. Mas dependemos de sabonete, escova e pasta de dentes. E ninguém reclama que depende deles exatamente por pensar no bem que nos trazem.
Sugiro que você procure um psiquiatra para uma avaliação, uma psicoterapia que promova a consciência da situação, e trabalhe sua auto-estima e o relacionamento interpessoal., procure ter boas noites de sono, pratique atividades físicas, trabalhe sua espiritualidade que com certeza seu brilho interior vai aparecer. Boa sorte!
* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte
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