Psicologia: C.V.: trunfo ou armadilha? - por Leila Silveira Miranda

Jornal O Norte
29/05/2007 às 16:11.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:05



Hoje, atendendo ao nosso leitor Júnior, que nos escreve assim: prezada Leila, eu estou em busca de uma nova oportunidade profissional, tenho formação universitária e quase 10 anos de experiência em diferentes áreas. Gostaria de ler seus comentários sobre a importância do currículo e o que deve conter nele para torná-lo atraente ao mercado? 

“Síntese profissional” , “catalogo de propaganda”, “trajetória de vida”, enfim imerso a inúmeros clichês, o curriculum vitae, nosso popular CV, ainda continua sendo considerado a ferramenta mais eficaz que você usará na busca de uma nova colocação. “Cartão de visita”, “capital intelectual” , “espelho profissional” , são redundâncias de efeito , do instrumento que leva a seu publico alvo, que, na realidade possui 2 funções básicas:

Conseguir-lhe uma entrevista.

Servir de guia para o entrevistador.

Modernamente, no entanto seu currículo reflete seu “modus vivendi”, sua autoconfiança, suas escolhas primordiais e motivacionais atuais. É muito mais que o histórico do que você já construiu...

Embora alguns não conheçam ou não se utilizam delas, existem 3 abordagens básicas para se sistematizar o conteúdo das informações, o que a meu ver , se constitui no “pulo de gato” (que poucos sabem explorar e que na maioria das vezes, é aquele “algo a mais” e que resumidamente são:

Currículo por empresa (para carreira  solidificada em empresas de renome).

Currículo por área (para quem tem 2 ou mais áreas distintas com destacada atuação).

Currículo descritivo (para nenhum dos casos acima deve ser feito descrição de tarefas  e funções anteriores).

Só através de uma análise perspicaz e verdadeiramente critica (normalmente com a ajuda de um profissional) , conseguimos identificar a cada momento de nossa carreira, qual dos critérios acima será o mais oportuno e conveniente para retratar (ou mudar) nossa imagem no momento.

É importante que neste atual cenário globalizado e de rápidas mudanças, seu currículo reflita um pouco desta efervescência eclética em que vivemos, traduzindo num certo dinamismo interno, o profissional que você é ou pretende ser.

Durante uma entrevista, falar “ buscar um novo desafio” tem sido a postulação recitada por nove entre dez candidatos, que na maioria das vezes não recebe o suporte necessário numa leitura mais atenta do currículo, pelo contrário, tende a criar uma notória contradição interna, tamanha a vocação “continuista”  expressada no mesmo.

A mera atualização do currículo, a exemplo do que fazemos anualmente com o I.R., agregando apenas novos lançamentos satisfaz-nos apenas com o crescimento vegetativo de nossa variação patrimonial, longe de ser um trampolim que lhe alce para frente, num novo e diferente salto , pode camuflar uma armadilha, que te catapulta ao passado revelando um profissional debilitado e preso a velhas questões mal resolvidas.

Atualmente o currículo funciona como ações na bolsa, patrimônio de risco, que pode experimentar altos e baixos, dependendo de sua atratibilidade, ousadia, coerência , criatividade e credibilidade.

Ninguém contrata hoje um profissional ‘inovador”cujo currículo expressa uma trajetória monótona, sem permitir identificá-lo das camisas que vestiu, numa fusão ambígua, denotando pouca interferência objetiva, obediência excessiva, rigidez e baixa autonomia de vôo na gestão de seu próprio destino.

Um profissional inovador deve ter personalidade marcante, escolhas próprias, certas ou erradas (principalmente erradas!) que revelam espírito de constante aprendizagem, e maior resistência a manipulações.

Em síntese, seu CV deve ressaltar suas ações, denunciadoras de seu potencial, e não roteiro para divagações sobre suas histórias (muito menos das empresas que passou).

De qualquer forma, continua sim, sendo seu principal passaporte,  refletindo, não só sua experiência, mas seu momento e disponibilidade atuais  que diferencie no mercado, que é a maior (talvez a única) chance de, em meio a tantos outros concorrentes, chamar a tão desejada atenção do mercado.

Se o fizer, terá cumprido seu papel, abrindo uma perspectiva de trabalho. O resto (a partir daí) é com você! Boa sorte!

* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte


leilasilveira@bol.com.br

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