Psicologia: Brincar faz bem - por Leila Silveira Miranda

Jornal O Norte
01/06/2007 às 11:31.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:06

Leila Silveira Miranda *

Hoje atendo sugestão da leitora Fernanda, que me escreveu assim: tenho um filho de 4 anos que é agitado e desobediente. Eu trabalho o dia todo  e quando chego à noite não tenho muito saco para ficar brincando, ele apronta todas para chamar a atenção.  O que você acha que posso fazer para melhorar essa situação?

Participar mais do dia-a-dia dos filhos é uma boa maneira de estimular a saúde física e mental das crianças. É através das brincadeiras, das conversas e da cumplicidade que os pais podem ajudar os filhos em seu desenvolvimento. No passado as crianças brincavam nas ruas e quintais onde podiam extravasar sua agressividade e através das brincadeiras aprendiam sobre limites e regras. Uma batata, um chuchu transformava em boizinhos e um cabo de vassoura em um belo cavalo. 

Atualmente, com o aumento da violência, o espaço ficou limitado aos apartamentos e lugares fechados, onde na maioria das vezes a TV, o videogame e o computador substituíram as brincadeiras de rua. Como resultado temos hoje um novo tipo de criança: agitada e rebelde, que faz tudo que os pais não querem para chamar a atenção e talvez obter aconchego,  sendo às vezes chamadas de difíceis. Demonstram baixo limiar de frustração, agressividade, e não conseguem aguardar  um só minuto.

Por outro lado, os pais estão trabalhando muito, estão muito cansados e alguns estão delegando a escola ou a empregada o que é sua atribuição.

Infelizmente a maioria dos pais se preocupa demais com o futuro material e profissional de seus filhos, e se esforçam para atingir tal finalidade. Embora, a questão material seja necessária, pouquíssimos pais se preocupam com outros tipos de herança, como por exemplo, o aspecto pessoal e afetivo de seus filhos. Como mães ou pais temos o desejo de que nossos filhos não passem pelas mesmas privações que sofremos outrora. Entretanto tal pensamento é reducionista, pois a superação de qualquer etapa dolorosa, requer que a própria pessoa tenha trabalhado e pelo menos parcialmente superado seus conflitos emocionais e dificuldades.

Portanto, penso que você deve participar mais da vida de seu filho. Quando sugiro a participação dos pais na vida dos filhos não estou falando de assistir TV juntos ou jogar videogame, nem sair para lanchar ou ir ao supermercado. Muitos pais estão próximos dos filhos mas a quilômetros de distância. É importante chegar em casa e dar atenção ao filho, deixá-lo falar e participar da vida deles. Entender e aceitar as fragilidades de nossos filhos bem como ajudá-los ou buscar ajuda para superar suas limitações. Pais saudáveis são aqueles que buscam a reflexão e aprendizagem, nunca encarando a educação de seus filhos como algo estanque, mas, sobretudo com um dinamismo que requer trabalho, coragem e amor para se lidar com tão nobre tarefa.

Não existe uma receita de criar filhos felizes e saudáveis  mas as brincadeiras ajudam a criança incorporar regras de forma lúdica e contribuem para que ela se torne um adulto criativo e bem sucedido. Brincar além de saudável ainda traz vantagem: não causa efeitos colaterais. A ausência do lúdico na infância pode dar origem a crianças problemáticas. 

Quando se tem uma criança em casa os adultos é que precisam sentar no chão e brincar, deixar o estresse de lado e aproveitar esse momento mágico  de estabelecer e fortalecer os vínculos afetivos. A maioria das pessoas costuma jogar fora às oportunidades. Não consegue aproveitar o tempo, não valoriza o amor, não dá atenção aos filhos, não desenvolve a capacidade criativa. Os filhos crescem e daí a pouco eles não querem mais saber dos pais.

Um dos maiores erros que observamos na relação pais e filhos se dá no tocante ao aspecto material. Aquele pai ou mãe que não possui muito tempo para seu filho, acaba compensando através de presentes ou recompensas materiais. Assistimos isso diariamente. Porém, o fato é muito mais profundo, pois nunca se trata de uma questão quantitativa, mas sim qualitativa.

Estudos científicos no campo da psicologia de uma maneira quase unânime apontam a resposta: o diferencial para uma vida saudável e produtiva é o preparo emocional, é a habilidade de lidar eficazmente com as dificuldades internas e externas, pessoais e profissionais.

Os pais deveriam ter em mente o preço que todos arcarão quando o aspecto afetivo não for à prioridade. O treino, vivência e realidade afetiva que não obtermos no círculo familiar, custará enorme soma de energia e tempo para podermos reconstruí-los em outras esferas, isso se a pessoa estiver motivada e disposta.

Portanto, reflita sobre o caminho que você está percorrendo e deseja para você e seu filho. Observe seus pensamentos, seus sentimentos e seus desejos silenciosamente, sem julgá-los. Ouça o seu coração. E alimente sua alma com as oportunidades que a vida lhe dá. Não seja uma mera observadora ou sobrevivente em sua passagem pela terra. Agarre as oportunidades. Não deixe nada destruir a sua capacidade de ser feliz, sonhar e brincar.

Estou torcendo por você.

Obrigado pela sua participação.

* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte


leilasilveira@bol.com.br

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