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Domingo,8 de Junho

Psicologia: Bi-polaridade - por Leila Silveira Miranda

Jornal O Norte
Publicado em 27/06/2007 às 11:00.Atualizado em 15/11/2021 às 08:08.

Leila Silveira Miranda *



Transtorno bipolar, bipolaridade, seja revestido ou não de alguma nova sigla médica, a verdade é que o termo bipolar expressa dois pólos de humor ou de estados afetivos que se alternam entra a depressão  e o seu oposto cujas manifestações são euforia ou um estado altamente irritável e agressivo.



Aliada das explosões eufóricas, das oscilações bruscas de humor e vizinha perigosa da confusão mental, este distúrbio tem várias origens e inúmeros sintomas que abrangem questões genéticas, déficits químicos cerebrais, historias de vida, educação familiar, consumo de drogas, perdas, lutos e crenças equivocadas.



O assunto é altamente complexo, sua compreensão nova e seu conhecimento precoce para muitos dos portadores, familiares e população em geral.



Mas está na ordem do dia, já chegou à mídia, está na mira dos mais renomados laboratórios  e é meu tema de estudo e futura pesquisa acadêmica.



Portanto não dá para tratar num simples artigo toda a abrangência do tema, o que também não significa que devamos cruzar os braços e não abordar o assunto. Assim em modestas prestações pretendo tratar tópicos do tema com contribuições esparsas mas consistentes para melhor compreensão e informação de nossos queridos leitores, portadores do transtorno e seus familiares, já que normalmente é apenas vista como o jeito de ser da pessoa, isto é, pessoa difícil de conviver.



Hoje vou falar de um dos comportamentos mais típicos dos portadores desta doença (se não for diagnosticada e tratada adequadamente) que é a auto-sabotagem ou autodestruição consentida.



Baseio-me em meus estudos de mais de 5 anos, vivência e relatos de clientes que fazem parte deste espectro e são na sua maioria profissionais competentes, daqueles de futuro brilhante, intelectualmente bem dotados, de bons princípios, dinâmicos e aplicados.



Normalmente racionais eles (os portadores) sabem identificar muito bem o que querem, são ambiciosos, criativos e não poupam esforços para conquistar seus objetivos. O problema é que no afã de chegar lá atropelam carreiras, queimam etapas, desafiam valores, desprezam as experiências, se afastam dos amigos, reprimem sensibilidade e exalam hostilidade criando uma aura de desarmonia e de desumanidade em torno de si mesmo.



Toda esta energia negativa acumulada por ironia do destino ou por sutil manobra do mecanismo arraigado de culpa que o atormenta, acaba por vir à tona nos momentos cruciais, na hora H, no dia D, na hora da onça-beber-água.



Isto explica as inexplicáveis explosões de humor, com resultados catastróficos às vésperas da ansiada promoção ou a inoportuna embriagues que catalisa discurso agressivo e comprometedor as suas aspirações profissionais e sociais , ou ainda o  incontornável erro político ao humilhar um chefe, subordinado ou colega de trabalho causando assim a desastrosa perda de emprego muitas vezes no exato momento em que a pessoa acabou de financiar sua casa própria ou as vésperas de um novo investimento em sua carreira.



Todos estes comportamentos autodestrutivos têm endereço certo, detonam na hora exata, com o poder de fogo extraordinário e suficiente para destruir em poucos segundos tudo que a pessoa levou tempo para construir.



Para o portador do transtorno, o estrago é tão grande, a violência é tão forte, a queda tão grande, que do céu do brigadeiro mergulha-se no inferno dantiano, do dia para a noite numa viagem sem retorno visível.



Todo bipolar é no entanto um forte, ou no mínimo um teimoso contumaz. Como Fênix  emerge facilmente das cinzas com a mesma tenacidade que o mergulhou na lama. Como não consegue fazer da autocrítica racional (que tem de sobra) a desejada mudança comportamental impelido pela doença o risco da profecia se auto-realizar novamente com a repetição dos mesmos erros e o padecimento dos mesmos sofrimentos é muito grande e até previsível.



A orgulhosa e traiçoeira recusa de seguir um tratamento, a suspensão voluntária dos remédios prescritos, a errada atitude de negação da doença e o medo de enfrentar a própria realidade, são os demais ingredientes para o prolongamento do sofrimento, a má qualidade de vida e a receita  para encenar os próximos capítulos deste sofrimento.



EM TEMPO: O bipolar autêntico, em plena crise de mania é o mais perigoso terrorista comportamental, o mais maquiavélico dos agentes contra a estabilidade econômica, o mais estratégico destruidor de lares solidamente assentados, o mais profundo sabotador de carreiras brilhantes, tudo isto, evidentemente, em prejuízo próprio!



O bom tratamento acerta o humor mantendo a energia e o brilho.



Participe por e-mail dando sugestões de temas e ou fazendo perguntas.



* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte


leilasilveira@bol.com.br

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